Arquitetos espanhóis propõem revolucionar espaço público no Cairo
Laura Milham Lombraña.
Cairo, 26 mai (EFE).- Espaços agradáveis no lugar de becos cheios de lixo é a proposta do grupo de arquitetos espanhóis Basurama para revolucionar os espaços mais deteriorados do Cairo.
Basurama analisou esta semana, junto com 20 profissionais da arquitetura e urbanismo egípcios, diversas fórmulas para melhorar locais degradados da capital egípcia e concluíram que "faltam praças, parques e locais para crianças", explica o membro do Basurama, Benjamín Castro.
Castro explicou à Agência Efe que no Egito os espaços públicos estão muito bem definidos: "Existem o café como lugar de encontro, as mesquitas como lugar de recolhimento e oração e o mercado como lugar de troca".
Com a oficina "Resíduos e recuperação urbana", os membros do Basurama, um coletivo de arquitetos de Madri que desenvolve projetos entorno do lixo, quis ir além e analisou, junto com urbanistas, arquitetos e designers egípcios, várias propostas para introduzir mudanças nos espaços públicos do Cairo.
A mobilização popular que em 11 de fevereiro encerrou com 30 anos de Governo do presidente Hosni Mubarak ocupou boa parte do debate, já que durante os dias prévios e posteriores à queda do ditador, a revolução no Egito não foi só política, mas também cidadã.
"A revolução criou uma nova conjuntura na qual o povo se sente mais forte", manifestou o arquiteto e designer egípcio Omar Nagati, que apostou por "captar esta energia e esta motivação e canalizá-la para o lado construtivo, não destrutivo".
A partir desta ideia, os participantes da oficina propuseram iniciativas para limpar becos, reabilitar os grandes espaços vazios e mal-cheirosos sob as pontes que cruzam o Cairo e dar um toque de cor à cidade, um tanto cinza atualmente.
"Queremos intervir com pouquíssimo orçamento e com materiais muito simples para que as pessoas possam fazer o mesmo em outras ocasiões", explicou Castro, que esclareceu que Basurama elaborará uma proposta com as reflexões desta primeira oficina para colocá-la em prática no ano que vem.
Espanhóis e egípcios concluíram que o principal problema nas ruas é a sujeira e a falta de consciência e cuidado dos cidadãos.
De fato, no Cairo não é estranho deparar-se com montanhas de lixo amontoadas por todas partes, enquanto muitas pessoas preferem jogar o lixo no chão que procurar uma lixeira a poucos metros.
Mesmo assim, todos coincidiram que existem espaços "sagrados" que todo mundo respeita e que no Egito tradicionalmente são os arredores das mesquitas e as fontes de água potável que os ricos instalam nas ruas em um ato de caridade que na sociedade egípcia goza de muito prestígio.
Para Nagati, o importante é "detectar o que é sagrado para os egípcios e aproveitar estes elementos para gerar exceções".
Com a revolução egípcia, a praça Tahrir se uniu à lista de "lugares sagrados" que os cairotas respeitam depois que as imagens dos manifestantes pintando e limpando a praça no epicentro da revolução deram a volta ao mundo.
Um dos presentes no curso, o professor de urbanismo Mohammed Abu Jir, considerou muito interessante "ver como Tahrir criou suas próprias regras e como estas começaram a expandir-se por todo Egito".
"Este é um bom momento, mas temos que estar prontos - disse Nagati -, queremos que todos os que saem à rua protestem, mas também que construam coisas".
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