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Grupo de atores transforma ônibus do Equador em palcos ambulantes

23/05/2011 07h28

Quito, 23 mai (EFE) - Um grupo formado por seis atores transformou os ônibus do Equador em verdadeiros palcos ambulantes depois que passou a contar histórias de livros através de atos a milhares de usuários desse meio de transporte em uma tentativa de recuperar a memória do país.

Trata-se do festival "Memoriandante", que termina nesta segunda-feira e com o qual os seis atores apoiados pelo Ministério de Cultura alteram o dia a dia de uma viagem de ônibus para relatar histórias urbanas, cantar amorfinos (ritmo musical do litoral equatoriano) e recitar poesias.

O objetivo do "Memoriandante" é "irromper no espaço público e quebrar um pouco da rotina das pessoas para que escutem" as histórias, disse à Agência Efe Hugo Palacios, responsável pelo projeto.

"Às vezes se pensa que a poesia é para determinados espaços, como os acadêmicos, e para certo tipo de gente. Achamos que a poesia deve sair dos livros para instalar-se em qualquer coração", ressaltou Palacios.

Esperar, portanto, que as pessoas compareçam a um teatro não é o objetivo deste grupo, que sobe nos ônibus com uma boa dose de humor para arrancar os sorrisos dos presentes.

"Com tantos problemas sociais e econômicos é importante provocar um sorriso", disse Javier Suárez, de 35 anos, que, graças a uma das atrizes da equipe, teve que improvisar para atuar em uma das estações de ônibus de Quito.

A ideia é que "a memória viaje nos ônibus, vá às estações, às esquinas e às calçadas", disse Palacios.

Ele afirmou que muitos dos poemas e contos que são recitados pelos atores têm a ver com personagens "que ajudaram a formar a identidade" do país, embora eles também contem "histórias cotidianas".

O projeto tem despertado o interesse dos passageiros. Muitos chegam a interagir com os narradores e até mesmo a participar das atuações, que duram apenas alguns minutos.

Outros, no entanto, mostram indiferença: alguns simplesmente porque são distraídos, enquanto outros acham que deverão pagar pela atuação, segundo uma das organizadoras do festival, que disse gostar quando há engarrafamentos, pois os ônibus são obrigados a andar mais devagar, o que ajuda os artistas - que muitas vezes fazem malabarismos - a não cair.

"Espero que a memória se transforme em um pombo-correio que sempre chegue a seu destino e que nunca, nunca caia no esquecimento", ressaltou Palacios ao término de uma das apresentações em um ônibus, junto com duas atrizes.

Palacios explicou que as roupas usadas por eles são simples, já que o grupo não quer chamar a atenção pelo vestuário, mas por suas palavras.

Além de poesia local e latino-americana e histórias urbanas, os narradores também escreveram alguns textos, muitos com uma boa dose de romantismo, como um que diz: "Queria ser um passarinho com patinhas de algodão para voar até seu peito e tocar-te o coração".

O passageiro Carlos Caluquí acompanhou com atenção cada uma das atuações e aprovou o projeto: "Vale a pena tentar produzir todas as coisas boas, pois, se não tentamos, não sabemos os ótimos resultados que podem gerar". (Susana Madera)