Ascensão ao poder de Sarkozy chega em Cannes com "La Conquête"
Javier Alonso.
Cannes (França), 18 mai (EFE).- Em pleno escândalo pela detenção do socialista francês e diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI) Dominique Strauss-Kahn, suposto futuro candidato à Presidência da França, a ascensão ao poder de seu rival Nicolas Sarkozy, estreia em Cannes nesta quarta-feira.
O filme "La Conquête", do diretor francês Xavier Durringer, dramatiza o período entre 2002 e 6 de maio de 2007, exatamente o dia em que Sarkozy conquistou a chefia do Estado em eleições presidenciais que arruinaram sua vida conjugal.
A estreia passa pelo festival fora da competição, mas os organizadores programaram sua exibição sem que ninguém mais que eles - ou seja, que o Eliseu (sede da Presidência francesa) - soubesse do seu conteúdo.
A chefia do Estado, o poder, "nunca viu o roteiro", declarou Durringer, que garantiu que o projeto "foi filmado quase em segredo", precisamente para evitar influências e manipulações como as narradas no filme, onde Sarkozy e seus "sarko-boys" têm às vezes o aspecto de pequenos (ou grandes) mafiosos.
Contudo, Durringer assinalou que se trata de uma reconstrução baseada em fatos reais, contou o diretor, que não necessariamente tem correspondência literal com nenhuma ocasião concreta e com pinceladas de romance policial.
O autor do roteiro, Patrick Rotman, acrescentou: "a realidade é muito mais forte que a ficção".
Um ator da prestigiosa Comédie Française, Denis Podalydes - que já teve papéis pequenos em filmes como "O Código Da Vinci" (2006) e "Caché" (2005), se transforma em um Sarkozy ridicularizado pelo presidente Jacques Chirac, que constantemente lhe chama no filme de "petit Nicolas".
Um Nicolas diminuído por sua ambição de poder, ridicularizado pela estatura quando gravava uma pequena mensagem de campanha eleitoral e abandonado por sua esposa, Cécilia, que volta a estar ao seu lado só para dar-lhe o empurrão final à Presidência.
Patéticos. Assim estão todos os protagonistas da história, ambiciosos oponentes na cena política francesa, atores de rasteiras, olhares e palavras diretamente insultantes, embora ditas com todo o (falso) refinamento dos franceses.
"Nunca foi feito um filme panfletário", defendeu em entrevista coletiva um dos produtores, Eric Altmayer, que reconheceu que tiveram cuidado para evitar as consequências jurídicas que teriam alusões à intimidade dos personagens.
Neste filme não se cita, por exemplo, a atual primeira-dama, Carla Bruni, ausente assim como o próprio Sarkozy de um Festival que tem os dois em cartaz: ela como ponta no filme de Woody Allen ("Meia-Noite em Paris") e ele como tema do projeto de Durringer.
Surpreendentemente, a entrevista coletiva dos atores, diretor e produtores foi uma das que registraram menos jornalistas credenciados, e que terminou com uma tímida salva de aplausos.
Filme de consumo que se adivinha essencialmente franco-francês, "La Conquête" tem o interesse de apreciar um estilo de fazer política supostamente exercido por políticos em serviço e de observar uma rivalidade, que por outra parte não é segredo para ninguém, entre Sarkozy e o ex-primeiro-ministro Dominique de Villepin.
"É um filme em 90% fiel do ponto de vista político", assegurou Durringer, no sentido que se as cenas não são literais, já que a maioria são recriações e muitas nem sequer existiram, dão o "espírito" do discurso de seus protagonistas.
A história de "La conquête" foi acompanhada da estreia de "Pater", outro filme sobre política francesa atual, protagonizado por Vincent Lindon e dirigido por Alain Cavalier.
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