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Anish Kapoor convida Paris para explorar entranhas de Leviatã

Interior de "Leviathan", obra do anglo-indiano Anish Kapoor, um dos mais importantes artistas contemporâneos, exibida no Grand Palais, em Paris (10/5/2011) - Remy de la Mauviniere / AP
Interior de "Leviathan", obra do anglo-indiano Anish Kapoor, um dos mais importantes artistas contemporâneos, exibida no Grand Palais, em Paris (10/5/2011) Imagem: Remy de la Mauviniere / AP

Mario Roehrich

11/05/2011 10h03

Paris, 11 mai (EFE).- Uma imponente escultura vermelha inflável apresentada no Grand Palais de Paris que adota o nome do monstro bíblico Leviatã, é a proposta do artista indiano-britânico Anish Kapoor para 4ª edição de Monumenta.

O escultor apresentou a imprensa sua nova criação, de 35 metros de altura e 120 metros de comprimento, que em seu interior recria a atmosfera envolvente de um organismo vivo.

O interior da obra simula o ventre de uma baleia ou de uma mulher grávida, enquanto por fora repete as formas polidas e arredondadas que caracterizam a obra de Kapoor.

Leviatã, abrigado pelo teto de ferro e vidro do Grand Palais, é um conjunto de três esferas conectadas a um quarto corpo mais amplo com o qual Kapoor, prêmio Turner em 1991, pretende "transmitir emoções", embora deixe a interpretação à vontade do público.

Para os menos experimentados na tarefa de decifrar a mensagem da obra, o artista adiantou que seu Leviatã é "uma grande força arcaica ligada ao obscuro", ou "um monstro condicionado por seu próprio corpo, que conserva regiões esquecidas de nossa consciência".


A proposta do artista poderá ser visitada no Grand Palais até o dia 23 de junho durante o Monumenta, mostra anual que abre espaço para um artista plástico contemporâneo.

O Leviatã de Kapoor substituiu assim a morte coletiva de Christian Boltanski, do jardim de aço de Richard Serra e da chuva de estrelas de Anselm Kiefer.

O criador, nascido em Mumbai em 1954 e radicado em Londres desde 1973, explica que um corpo escuro de Leviatã, e translúcido é adequado aos desafios arquitetônicos da abóbada envidraçada do Grand Palais para que a luz tênue seja acolhida no interior da obra à medida que avançam as horas.

A surpresa, no entanto, fica por conta do "monstro" que sai da "placenta": uma porta rotatória o expulsa das tripas da escultura e convida o visitante a contemplar a pele do corpo do exterior.

"São dois pontos de vista, interior e exterior, que requerem uma operação mental", explicou o multimilionário escultor, que entende que sentir a diferença entre os dois mundos é um "exercício positivo" para compreender a complexidade intrínseca dos objetos.

"Há uma relação entre o efêmero desta escultura, sua pele fina e o imponente peso, sua presença", resumiu um criador que ficou famoso internacionalmente com obras monumentais como a intitulada "Marsyas", na qual brincava com o vermelho e as formas côncavas e convexas, vetor mais identificável de seu trabalho.

Essa mesma cor, no tom do "sangue coagulado", é também o pigmento que cobre as dermes e as epidermes de Leviatã, escolhida para lembrar o interior do corpo humano, indicou à Agência Efe, o reponsável pela mostra, Jean de Loisy.

"É o vermelho da vida, do parto", acrescentou o principal responsável de Monumenta, que associou a obra apresentada em Paris com a Vênus de Willendorf, uma estatueta antropomórfica feminina de mais de 20 mil anos com formas obesas e que guarda traços de policromia vermelha.

Trata-se, além disso, da cor que recobrirá a torre ArcelorMittal Orbit, uma estrutura de 115 metros de altura projetada por Kapoor para se transformar no novo ícone londrino devido aos Jogos Olímpicos de 2012.

Com pleno conhecimento do caráter extremamente midiático de Monumenta, que em 2010 reuniu 150 mil pessoas em cinco semanas, Kapoor dedicou sua nova obra ao artista e ativista chinês Ai Weiwei, detido pelas autoridades de Pequim no mês passado.