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Novo cinema brasileiro experimenta outra linguagem, garante Geraldo Sarno

09/05/2011 15h38

Madri, 9 mai (EFE).- O cinema nacional das novas gerações está criando um novo modelo de linguagem, segundo o veterano Geraldo Sarno, responsável por mudar o conceito dos documentários em 1965 com seu filme "Viramundo", que nesta tarde de segunda-feira abre em Madri o festival internacional Documenta Madrid.

Alguns destes novos cineastas, que durante toda a semana participarão com seus documentários no festival explicam, no entanto, a dificuldade de terminar um projeto e conseguir distribuí-lo no mercado.

Apesar disso, para a jovem Marília Rocha, que concorre com "A Falta Que Me Faz", que fala de um grupo de meninas que aspiram por um futuro melhor em uma afastada comunidade da serra do Espinhaço, em Minas Gerais, a situação econômica do Brasil "encoraja uma resistência constante".

Fora de concurso, "Viramundo", também será exibido: um "clássico" sobre a migração que narra "o custo humano da modernização do Brasil", desde a chegada da burguesia, à industrialização dos anos 50.

"Fala de como as massas de camponeses foram arrastadas como 'carne', da mão-de-obra barata, ao serviço do progresso", explica o diretor.

O cineasta apresenta também "Tudo Isto Me Parece Um Sonho", sobre a vida do general José Inácio Abreu Lima, braço direito do libertador Simón Bolivar, que filmou com tecnologia digital, "tão diferente" da rodagem em 16 milímetros e preto e branco que utilizou para fazer "Viramundo".

O grupo de cineastas, que conversou nesta segunda-feira com a Agência Efe na Casa da América - onde os filmes serão exibidos -, ressaltou a necessidade do cinema nacional de conseguir ajudas públicas, já que as coproduções são ainda terreno para poucos.

"Infelizmente, o cinema brasileiro é mais assistido e melhor aceito fora do Brasil", apontou Luciana Burlamaqui, criadora de "Entre a Luz e a Sombra", projeto que levou sete anos de filmagem e outros dois e meio para montá-lo, e que será exibido nos colégios perante 30 milhões de estudantes.

"É o que me deixou mais feliz", explicou a produtora, que teve que largar a profissão de jornalista para se dedicar a falar de violência, prisões e repressão que tinha visto em seu país. "Mas também foi uma viagem interior que superou minhas expectativas", acrescentou.

Flavia Castro, em coprodução com a França, apresenta "Diário de Uma Busca", uma pesquisa sobre a morte de seu pai, um ativista político que morreu em estranhas circunstâncias após retornar do exílio no Chile, Argentina e Europa.

Cao Guimarães também participa com "Andarilho", a segunda de uma "trilogia da solidão" que o autor dedica a três pessoas que caminham pelas estradas do Brasil.

Segundo Sarno, as novas gerações de cineastas brasileiros têm um grande talento: "O único perigo é o risco de não conseguirem desenvolver sua criatividade por falta de apoio econômico e político", que o criador atribui à ausência de verdadeiros "mass media" brasileiros.

"Não há uma política cultural", lamentou o diretor.