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Realismo romeno prepara nova aposta para Cannes

18/04/2011 10h09

Marcel Gascón.

Bucareste, 18 abr (EFE).- Uma produção do chamado "novo cinema romeno" concorrerá em maio na mostra "Un Certain Regard" do festival de cinema de Cannes, onde filmes ligados a esta corrente realista receberam cinco prêmios desde 2005.

O filme "Loverboy" tentará garantir uma boa impressão no festival francês, dirigido por Catalin Mitulescu, que já conhece o gostinho de ganhar em Cannes.

A produção narra a história de um jovem romeno que se apaixonada por moças de um povoado junto ao Danúbio para depois entregá-las a uma rede mafiosa da cidade portenha de Konstanz. Suas armadilhas de sedução acabarão pondo o personagem em contradição, quando ele se apaixona por uma de suas vítimas e ter de escolher entre a moça e seu trabalho.

O reconhecimento em Cannes do "novo cinema romeno" começou em 2005, com o prêmio obtido na mesma seção pelo filme "A Morte do Senhor Lazarescu", do diretor Cristi Puiu, considerado o pioneiro desta corrente.

Em 2006, a atriz romena Dorotheea Petre ganhou o prêmio de interpretação na seção "Un Certain Regard" por seu papel no filme de Mitulescu "Cum mi-am petrecut sfarsitul lumii".

Depois das conquistas de Puiu e Mitulescu, "4 meses, 3 semanas e 2 dias" ganhou a Palma de Ouro em 2007, o prêmio mais importante do festival francês e o maior êxito da história do cinema romeno.

No filme, o diretor Cristian Mungiu conta as traumáticas tentativas de aborto de uma jovem romena nos 80, em plena campanha antiabortista do regime comunista de Nicolae Ceausescu.

O sucesso de "4, 3, 2", como o filme ficou conhecimento popularmente, consolida o cinema realista romeno, e desde então seguiu demonstrando sua boa fase com premiações em Cannes em 2008 pelo curta "Megatron" (Marian Crisan) e pelo filme "Polícia, adjetivo" (Corneliu Porumboiu) em 2009.

"Os planos longos, a supressão parcial da montagem, a utilização de muitos tempos mortos onde se filmam ações banais", são algumas das características que dão personalidade própria a esta corrente cinematográfica, explica o crítico Andrei Gorzo à Agência Efe.

A ausência de música que não esteja na própria ação e uma forma própria de seguir os personagens dos documentários, são outros dos traços deste novo realismo, detalha Gorzo.

"Estes elementos remetem ao cinema realista e se transformaram em normas", acrescenta, ao lembrar que na última década quase todo o cinema que se produz na Romênia corresponde a este patrão.

"Quando em 2001 Cristi Puiu fez o primeiro filme dessa linha, a indústria cinematográfica romena era quase inexistente, fez escola do nada", diz Gorzo, que alude ao colapso do cinema nacional após a queda do comunismo em 1989.

Em declarações à Agência Efe, o próprio Puiu garante não ser "precursor de nada", mas se considera que seu modo de fazer filmes foi adotado por outros diretores, que, no entanto "nem sempre o entenderam".

"Em 2001, quando fiz 'Marfa si banii', o público e a crítica estavam acostumados com outros estilos mais próximos ao 'mainstream americano', e muita gente o recebeu como um filme 'amateur'", lembra.

A maioria destes filmes põe o foco sobre problemas humanos universais e as contradições morais em situações extremas.

"Muitos viram em '4, 3, 2' uma denúncia da injustiça biológica da mulher perante o sexo", assegura Gorzo.

Desde seu nascimento há 10 anos, o "novo cinema romeno" experimentou uma evolução em suas histórias e seus personagens.

"A sociedade romena mudou, há mais classe média, e estes filmes deixaram de falar sobre classes mais baixas para contar histórias burguesas", indica Gorzo.

Uma evolução que lhe rendeu críticas da esquerda, acusações de traição a um compromisso que os próprios diretores nunca assumiram publicamente.