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Amante secreta de Pablo Picasso é protagonista de exposição em Nova York

17/04/2011 06h12

Nova York, 17 abr (EFE) - A fascinação que a jovem francesa Marie-Thérèse despertou em Pablo Picasso desde o instante em que o pintor a abordou em uma rua de Paris não deu origem apenas a um longo e intenso romance, mas também a uma prolífica série de atrevidos e provocantes retratos, que em parte podem ser vistos desde a sexta-feira em Nova York.

A responsável por esta iniciativa é a famosa galeria de arte Gagosian Gallery, que até 25 de junho irá expor em seu endereço em Manhattan uma coleção de mais de 80 obras de Picasso (1881-1973), todas relacionadas com a figura de sua amante, à qual costumava retratar como loira e com cores brilhantes.

"Tens um rosto interessante. Eu gostaria de fazer um retrato seu. Tenho o pressentimento de que vamos fazer grandes coisas juntos", disse o pintor ao abordar na rua uma modesta jovem que beirava os 30 anos e que nunca tinha ouvido falar em Pablo Picasso.

Diante da indiferença da moça quando lhe disse: "Sou Picasso", o artista espanhol a pegou pelas mãos, a levou a uma livraria, lhe mostrou um estudo sobre sua obra e lhe perguntou se voltariam a se ver. Era o início de uma secreta e apaixonada relação que duraria oito anos.

A firma criada pelo famoso galerista americano Larry Gagosian impulsionou "Picasso e Marie-Thérèse: Amor louco", uma mostra que contempla pinturas, desenhos, esculturas e gravuras produzidas por um Picasso inspirado pela jovem e com datas entre 1927 e
1940. Algumas dessas obras jamais foram expostas nos Estados Unidos.

Embora os historiadores não cheguem a um acordo sobre as datas, existe certo consenso de que Picasso, ainda casado com a dançarina russa Olga Khokhlova, tinha em torno de 45 anos e Marie-Thérèse cerca de 18 quando se conheceram em 1927, uma diferença de idade que não impediu que os dois mantivessem uma longa relação da qual nasceu Maya Widmaier Picasso.

Hoje a neta do encantador casal, a historiadora da arte Diana Widmaier Picasso, é a curadora desta ambiciosa mostra, em colaboração com o biógrafo do artista e historiador britânico John Richardson, que trabalha agora na elaboração de um catálogo sobre as esculturas do pintor malaguenho.

Segundo recordam agora os dois responsáveis da mostra, assim que uma adulada e curiosa Marie-Thérèse Walter concordou em encontrar novamente o excêntrico artista, teve início um romance que levou a francesa a se transformar na principal inspiração das mais atrevidas experiências estéticas de Picasso durante uma década.

Além disso, a jovem alimentou como nenhuma outra a imaginação de Picasso, embora suas primeiras aparições na obra do pintor espanhol fossem apenas "veladas referências a suas iniciais formando composições lineares", como pode ser observado nos primeiros trabalhos na exposição.

No entanto, os curadores acrescentam que "Guitare à la main blanche" (1927) marca "a chegada da imagem da deusa loira à sua arte e anuncia um novo amor em sua vida", cuja verdadeira identidade foi mantida em segredo inclusive para os amigos mais próximos de Picasso.

Em seus trabalhos posteriores, Picasso estendia o corpo atlético de sua amante até levá-lo "a novos extremos, metamorfoseando-o em formas inventadas", asseguram os curadores, que lembram que Marie-Thérèse foi o catalisador "de algumas de suas obras mais excepcionais, desde pinturas inovadoras até um inspirado retorno à escultura na década de 30".

A Gagosian Gallery lembra que a intensidade dessa furtiva relação ficou registrada também em "um tesouro de cartas de amor e fotos que trocavam quando estavam longe um do outro".

Além disso, os dois responsáveis da exposição editaram um amplo catálogo ilustrado que inclui um novo ensaio biográfico de Picasso elaborado por Richardson, assim como uma pesquisa da neta do artista sobre sua arte retratista e dúzias de fotografias de Marie-Thérèse que até agora nunca haviam sido publicadas. (Mar Gonzalo)