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Família do dissidente chinês preso Ai Weiwei condena investigações da Polícia

07/04/2011 13h46

Pequim, 7 abr (EFE) - O Governo de Pequim pediu nesta quinta-feira à comunidade internacional que não interfira na prisão do artista e dissidente chinês Ai Weiwei, acusado de crime financeiro, considerado uma farsa pela família, que segue sem ter notícias dele.

"A investigação por crime econômico é um truque de magia para deter meu filho, é uma campanha de propaganda", assinalou nesta quinta-feira à Agência Efe a mãe do artista, Gao Ying, de 78 anos, após se informar pela imprensa sobre a investigação contra seu filho, de 53 anos e detido no domingo em Pequim.

"Weiwei é um artista que vive da venda de suas obras, e, como mãe, sei que meu filho não cometeu nenhum crime, nem financeiro nem político", prosseguiu a mãe de Ai Weiwei, filho do renomado poeta Ai Qing.

Já a esposa do dissidente preso, a também artista Lu Qing, pôs em dúvida a legalidade da detenção do criador. Em declarações à Efe, ela disse que, após cinco dias, permanece sem ter notícias do marido, embora a Polícia seja obrigada por lei a informar a família em até 24 horas.

Em relação ao suposto crime econômico, Lu Qing, de 47 anos, se limitou a comentar sobre a liberdade com a qual seu marido expressa oposição política ao regime. "Ai é um artista, um desenhista e arquiteto, cujas palavras e atos são transparentes e conhecidos pelo mundo todo", assinalou em conversa telefônica.

Tanto a mãe quanto a esposa de Ai Weiwei disseram não ter medo, mas expressaram grande preocupação com a saúde do artista, que necessita medicação diária contra diabetes e hipertensão.

A resposta das familiares do ativista chinês foi dada minutos depois que a China pediu ao mundo que não interfira nos assuntos internos do gigante asiático, referindo-se à prisão de Ai.

"A China se rege pela lei. Outros países não têm direito de interferir", afirmou o porta-voz de turno do Ministério das Relações Exteriores da China, Hong Lei, em entrevista coletiva.

Questionado por que as autoridades descumprem a lei ao não informar ainda à família sobre a situação do artista ou o motivo de sua detenção, Hong alegou que não tinha "mais nada a acrescentar sobre Ai Weiwei", e se negou a continuar a entrevista.

Desde domingo, países como Estados Unidos, Alemanha, França, Reino Unido e Austrália pedem à China que dê explicações sobre o paradeiro do famoso idealizador do estádio Ninho do Pássaro, palco da abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008.

Nesta quarta-feira, o Governo alemão chamou para consultas o embaixador chinês em Berlim por causa da prisão irregular do ativista.

A última dessas críticas externas foi pronunciada nesta quinta-feira pelo embaixador americano na China, Jon Huntsman - possível candidato à Presidência dos EUA. Em declarações feitas em Xangai, ele defendeu o artista e pediu sua libertação.

Ai Weiwei é um dos artistas contemporâneos chineses de maior repercussão dentro e fora de seu país, com exposições, desenhos arquitetônicos e performances nos EUA, Europa, Japão, Coreia do Sul e Austrália, além de sua recente obra "Sunflower Seeds", exposta na galeria Tate de Londres, e uma mostra que será inaugurada em Nova York no início de maio.

Ferrenho defensor dos direitos humanos na China, também é um dos ativistas mais desbocados em sua oposição ao regime chinês, o que lhe custou várias idas à prisão e inclusive um derrame cerebral que sofreu após ser espancado pela Polícia por se mostrar a favor das crianças mortas no desabamento de escolas no terremoto de Sichuan, em 2008.

A prisão de Ai é a que mais repercussão surtiu desde o início, em outubro passado, da atual onda de repressão política que as autoridades de Pequim realizam contra a reduzida e fragmentada dissidência chinesa, quando o ativista Liu Xiaobo foi agraciado com o Prêmio Nobel da Paz de 2010.

Por esse motivo, a família de Ai, os analistas e os Governos estrangeiros consideram que a prisão do artista tem motivações políticas.

Nos últimos dias, a esposa do dissidente expressou seu temor de que as autoridades estivessem preparando um processo na Justiça contra seu marido, uma das vozes mais seguidas na internet da China, onde já no ano passado indicou que a Polícia estava ameaçando investigar suas contas se ele mantivesse suas críticas ao Partido Comunista.

Grupos de direitos humanos informam diariamente sobre a situação dos mais de 200 dissidentes presos ou desaparecidos nos últimos meses, entre eles o jornalista Wen Tao, amigo de Ai Weiwei - também detido no domingo -, dos advogados Teng Biao e Jiang Tianyong e dos ativistas Liu Dejun, Gu Chuan e Li Tiantian.

A advogada Ni Yulan, confinada em uma cadeira de rodas após ser brutalmente espancada pela Polícia, e seu marido, Dong Jiqin, foram detidos nesta quinta-feira. Já a esposa do Nobel da Paz Liu Xiaobo, a fotógrafa Liu Xia, continua mantida em prisão domiciliar desde outubro.

Quanto a outros candidatos ao Nobel, o advogado de direitos humanos Gao Zhisheng está desaparecido há um ano, enquanto o advogado cego Chen Guangcheng e sua família foram espancados após criticarem a prisão domiciliar em que permanecem, mesmo já tendo concluído em setembro passado a pena à qual foram condenados, informam as ONGs.

Zhao Lianhai, porta-voz das famílias das crianças envenenados com leite adulterado com melanina, desapareceu nesta quarta-feira após pedir na internet a libertação de Ai Weiwei. Além disso, as autoridades proibiram o poeta Liao Yiwu, que participou das revoltas da Praça da Paz Celestial, de abandonar a China para promover o lançamento de seu último livro.

O porta-voz do Governo chinês Hong Lei afirmou nesta quinta-feira que Pequim respeita a liberdade de expressão.