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Arte urbana presta homenagem aos mártires da revolução egípcia

06/04/2011 06h08

  • EFE

    Grafite retratando Islam Rafat, um dos jovens mortos durante a revolução egípcia

Cairo, 6 abr (EFE) - "Mártir. Islam Rafat. 18 anos" é a epígrafe que acompanha o retrato de um jovem grafiteiro no centro do Cairo, um dos murais que vêm se proliferando na cidade para honrar os mortos da revolução egípcia.

O rosto dos mártires, a bandeira do Egito, o termo "revolução" ou a data de 25 de janeiro, que marcou o início dos protestos contra o regime de Hosni Mubarak, são os principais elementos dos desenhos que decoram as ruas da capital.

Estas manifestações de arte urbana têm o objetivo de prestar homenagem aos mortos da revolta popular sem precedentes e de lembrar a luta do Egito pela democracia, a liberdade e a igualdade.

"As pessoas esquecem muito rápido, mas estes murais ajudam a manter vivo o espírito da revolução", afirmou à Agência Efe "Ganzeer", um egípcio de 28 anos que prefere se identificar pelo seu nome artístico e que está por trás de dois projetos localizados no coração do Cairo.

Na opinião de Ganzeer, os murais com os retratos dos mártires são "uma boa recordação" e "mais poderosos visualmente do que renomear as ruas", como propuseram as autoridades egípcias.

Durante a revolução, 685 pessoas morreram e mais de cinco mil ficaram feridas, segundo o relatório final da comissão do Conselho de Direitos Humanos egípcio, encarregada da investigação dos fatos ocorridos entre 25 de janeiro e 11 de fevereiro.

Os mártires foram honrados desde o início dos protestos com cartazes, fotografias e até um altar instalado na praça Tahrir, epicentro da revolução, mas somente agora começam a ser desenvolvidos projetos "de longo prazo", como Ganzeer define seu trabalho.

A primeira de suas obras representa o estudante Seif Alá Mustafa, de 16 anos, cujo retrato está grafitado em frente ao edifício da Suprema Corte do Cairo, onde ocorreram fortes confrontos entre a Polícia e os manifestantes nos primeiros dias da revolução.

Após a homenagem a Mustafa, foi a vez do mural em amarelo e vermelho do jovem Islam Rafat, situado em um edifício de banhos públicos da praça Al Falaki, próxima à Tahrir.

As duas obras deste artista, que pensa em fazer novos desenhos, seguem o mesmo estilo colorido e simples no qual o retrato dos mártires é acompanhado de um texto curto que indica seu nome e idade.

Ao lado destes retratos mais sóbrios, há quem opte por grafites mais elaborados, como os que decoram um edifício abandonado do bairro de Zamalek.

Cores intensas e traços mais grossos se misturam com a águia que é emblema do país e a bandeira egípcia, assim como inscrições em árabe e inglês referentes à revolução de 25 de janeiro.

Os autores de muitos destes murais são desconhecidos, mas sete deles fazem parte de um projeto da Faculdade de Belas Artes do Cairo.

Um grupo de jovens se empenhava em fazer o esboço de um desenho que depois iriam ampliar nos muros do edifício de Zamalek e colorir com diferentes tipos de tintas.

"Alguns estudantes expressam a revolução com o sangue derramado em favor da liberdade", afirmou à Efe a estudante de Belas Artes Lilian Ramsis, enquanto mostrava o rascunho de seu mural.

Lilian, de 20 anos, acrescentou que outros de seus colegas preferiram destacar "a unidade social e religiosa" do país, enquanto alguns optaram por pintar "bandeiras, palavras e símbolos revolucionários".

A estas expressões artísticas se unem outras fórmulas que tentam modelar nas ruas o sentimento de patriotismo que se espalhou pelo Egito após a queda Mubarak.

Se antes os tons ocres da poluição e o pó do deserto predominavam na capital egípcia, agora muitas áreas estão pintadas de vermelho, branco e preto.

As cores da bandeira nacional tingem os troncos das árvores, os meio-fios e inúmeros muros, em uma tentativa de mostrar a nova cara revolucionária do Cairo. (Marina Villén)