Topo

Retorno do rock devolve a memória histórica ao Camboja

28/03/2011 06h07

Laura Villadiego.

Phnom Penh, 28 fev (EFE).- As minissaias coloridas, os cortes de cabelo psicodélicos e ritmos desenfreados reaparecem no Camboja através de grupos musicais que recuperam o rock e, com ele, a memória histórica apagada pelo pesadelo do Khmer Vermelho.

Durante os anos 60, o Camboja foi o centro asiático de uma prolífica cena musical que o país adotou com paixão ao sentir os ritmos de roqueiros que chegavam do Ocidente, como The Beatles e Rolling Stones.

Nasceram assim estrelas como Sinn Sisamouth, Pan Ron e Ros Sereysothea, cujas canções combinavam guitarras elétricas com instrumentos tradicionais cambojanos.

"Nesses anos Phnom Penh florescia, havia prosperidade e as pessoas se divertiam", assegura o australiano Julien Poulson, que estuda desde 2007 a música cambojana.

A chegada do Khmer Vermelho, em abril de 1975, acabou com qualquer manifestação artística e a maior parte dos cantores morreu no exílio ou por causa das duras condições de vida imposta pelo regime.

Apesar de todos os cantores de rock terem morrido durante esses anos, os sucessos dos anos 1960 permaneceram na lembrança de muitos cambojanos após a queda do Governo comunista, em 1979.

"Conseguiram matá-los, mas não conseguiram que sua música morresse" assegura Srey Thy, cantora da banda The Cambodian Space Project, uma das modas do Camboja.

"Eu, como tantos outros, cresci escutando essas canções. Meus pais as tocavam o tempo todo em um pequeno rádio de pilha que tínhamos", lembra esta cantora nascida um ano depois do fim do regime.

O grupo de Srey Thy é um dos que recuperaram estes ritmos 40 anos depois para adequá-los aos gostos da juventude cambojana, que tinha substituído o rock pelos sucessos do pop coreano.

O precursor foi Dengue Fever, uma banda de origem americana e com uma solista cambojana, que desde 2001 abrangeu os clássicos do rock khmer e incorporou esses ritmos a suas próprias composições.

Dengue Fever foi, no entanto, uma exceção até a aparição há alguns meses de The Cambodian Space Project, um grupo muito mais enraizado na tradição khmer e com base na capital cambojana.

O "look" psicodélico adotado pelo grupo liderado por Srey Thy causou furor entre os jovens, que estão redescobrindo seu passado através da música.

"As pessoas adoram cantar e dançar aqui, e está ocorrendo uma mudança, o povo tem cada vez mais cultura musical", assegura Julien Poulson, que também é guitarrista e peça fundamental do The Cambodian Space Project.

A música se transformou em mais um elemento do processo de recuperação da memória no qual o país está imerso e que pretende que os jovens conheçam seu passado mais próximo, especialmente o período regido pelo Khmer Vermelho.

Ambos os grupos enchem salas de shows cada vez que atuam no Camboja e os jovens dançam misturando os movimentos de quadris típicos do rock com oscilações de mãos típicas da dança khmer.