Chantilly, rival histórico de Versalhes, revela seu patrimônio artístico
Mario Roehrich.
Paris, 20 mar (EFE).- O domínio de Chantilly, com seu castelo neogótico e 7.800 hectares de bosques e jardins, exibirá pela primeira vez duas de suas relíquias artísticas mais valiosas, como receita para captar novos visitantes e concorrer com Versalhes, seu rival desde o século XVII.
Como parte da estratégia para ficar ainda mais conhecido, este castelo irá expor pela primeira vez, entre a próxima quarta-feira e o fim de junho, a coleção de retratos a lápis reunida pela rainha da França Catarina de Médici, explicou à Agência Efe a curadora do museu Condé de Chantilly, Nicole Garnier.
Esta série, do pintor Jean Clouet e de seu filho François, retrata as personalidades da corte, e inclui a irmã de Carlos V, Leonor de Habsburgo, e três de suas damas de honra, despedidas pelo marido de Leonor, o rei da França Francisco I, por suas "incessantes" conversas em espanhol, acrescentou Nicole.
Também haverá uma mostra de livros e manuscritos históricos que pertenceram a mulheres expoentes da nobreza francesa.
O castelo, situado 40 quilômetros ao norte de Paris, pertenceu ao primo de Luís XIV, Luís II de Borbón-Condé, que disputou com seu familiar os melhores arquitetos e paisagistas da França para projetar o espaço, segundo Nicole.
A rivalidade entre os dois guarda em seu repertório de fatos históricos o suicídio do cozinheiro chefe de Borbón-Condé, François Vatel, por não chegar a tempo o pescado que seria servido no banquete de três dias com o qual o príncipe pretendia obter a graça e os favores de Luís XIV.
Mais de três séculos depois, a fundação criada sob os auspícios do mecenas multimilionário e líder espiritual dos ismaelitas, o Aga Khan, para administrar esse patrimônio procura atrair parte do turismo de aficionados por monumentos históricos que desembarca todos os anos na capital francesa.
Chantilly recebeu no ano passado 380 mil visitantes, frente aos mais de seis milhões de pessoas que foram a Versalhes, pelo que os porta-vozes da fundação acreditam que ainda há "uma ampla margem de crescimento".
A curadora do espaço destacou que as duas novas mostras se somarão à "segunda maior coleção de pintura antiga da França, atrás apenas do museu do Louvre", que reveste as paredes das principais salas e galerias do castelo com obras de grandes nomes da pintura, desde Rafael a Delacroix e Botticelli.
As estâncias palacianas, reconstruídas após a Revolução Francesa, quando o castelo foi arrasado, incorporam obras de valor histórico, como um mosaico romano da região de Pompéia, na Itália, com o rapto de Europa por Zeus e o quadro "O Massacre dos Inocentes", de Nicolas Poussin, um dos quadros inspiradores do Guernica, de Pablo Picasso.
Mas uma das principais joias do Chantilly são os jardins, projetados pelo mesmo arquiteto de Versalhes, André Le Nôtre, que desenvolveu um canal de navegação superior em quase um quilômetro de comprimento ao célebre Grande Canal da residência real.
As fontes de água, que na época funcionavam o dia todo, ao contrário das de Versalhes, e um jardim com flores quatro vezes maior do que dispunha o monarca francês são outras das obras de engenharia com as quais o "Grande Condé" quis humilhar Luís XIV.
Em um dos extremos do jardim se encontra a casa de campo, construída para que a nobreza relaxasse em um ambiente campestre, e cuja ideia foi imitada anos depois em um dos jardins de Versalhes para o uso da rainha Maria Antonieta.
Haras majestosos com capacidade para 350 cavalos, construídos no começo do século XVIII nos terrenos adjacentes ao castelo, são outro dos caprichos que se permitiram os proprietários, neste caso o príncipe Luís Henrique de Borbón, que "acreditava que reencarnaria cavalo" após sua morte.
Hoje em dia, vários espetáculos equestres prestam homenagem todos os anos à arte da montaria, entre outras atividades que são desenvolvidas nos jardins do castelo no verão, assim como uma ópera ao ar livre e uma mostra de pirotecnia.
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