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No 20º aniversário da queda da URSS, Centro de Cultura em Moscou realiza exposição fotográfica sobre a Revolução Cubana

Ignacio Ortega

19/03/2011 10h06

Ignacio Ortega.

Moscou, 19 mar (EFE).- Fidel Castro falando diante do Congresso americano e Che Guevara jogando golfe são algumas das fotos sobre a Revolução Cubana expostas no ano em que se completa o 20º aniversário da queda da União Soviética.

"A exposição é a melhor aula de história sobre Cuba que uma pessoa pode receber", afirmou nesta sexta-feira à Agência Efe Marta Carreras, primeira secretária da embaixada cubana em Moscou encarregada dos assuntos culturais.

O Centro de Cultura Contemporânea "Garage" da capital russa oferece até meados de abril uma amplíssima seleção de imagens históricas sobre o antes, o durante e o depois da revolução cubana de 1959, com algumas imagens inéditas.

"Há muitas fotos que eu nunca tinha visto na vida. A maioria dos cubanos não conhece essas imagens", apontou a diplomata cubana.

As 250 fotos, que foram cedidas pela Fundação Arpad Busson, incluem imagens de fotógrafos cubanos e estrangeiros como o francês Cartier-Bresson, o americano Glinn e o soviético Baltermants.

A exposição é uma viagem cronológica desde os tempos em que os americanos desfrutavam em grande estilo do clima da ilha caribenha, seus cassinos, seus "habanos", o rum e as mulheres.

As imagens que mostram a miséria na qual os camponeses cubanos estavam imersos, em particular "Niña con muñeca de madera" (Menina com boneca de madeira) de Alberto Díaz (Korda), tocam os visitantes da exposição com fotos impactantes, que contrastam com as festas nas quais "os gringos" e os representantes do regime de Fulgencio Batista compartilhavam as mesas.

"A exposição é objetiva, já que mostra como era Cuba antes de 1959, os cassinos, a pobreza, a prostituição. Assim se entende por que o golpe revolucionário ocorreu", disse Carreras.

As imagens de Fidel saindo da prisão e uma foto de um Che sem barba e irreconhecível dão passagem à vitória da revolução e à derrocada da ditadura de Batista.

"Nos tempos de digitalização da fotografia, é um privilégio ver os originais de eventos históricos. Esta exposição é o maior acontecimento cultural na Rússia relacionado com Cuba nos últimos 20 anos", opina Marta.

A partir daí, os líderes da revolução aparecem relaxados, Fidel pescando, jogando beisebol com uniforme esportivo ou ao lado do escritor americano Ernest Hemingway, e Che com um taco de golfe na mão ou lendo Goethe.

As seguintes salas mostram a dualidade que acompanhou os dirigentes cubanos durante os primeiros anos, com muitas viagens aos Estados Unidos e à União Soviética na busca de apoio e financiamento.

Nos EUA, Fidel aparece dirigindo-se ao Congresso americano, dando um discurso para dezenas de milhares de pessoas no Central Park de Nova York ou arrecadando dinheiro em frente a uma mesa repleta de notas de dólares.

Já as imagens de suas viagens à URSS mostram um relaxado Fidel acendendo um charuto durante uma reunião em Moscou com o dirigente soviético Nikita Kruschev, esquiando e a bordo de um grande trenó puxado por cavalos.

Merecem menção especial os retratos do fotogênico Che, nos quais só varia o tamanho da barba, sempre descuidada, e o cabelo, algumas vezes mais longo, outras mais curto e com boina.

Os moscovitas que visitaram a exposição não evitaram as imagens do britânico Brian Moser, algumas nunca exibidas, nas quais o guerrilheiro argentino jaz morto em uma cama na Bolívia (1967), enquanto os militares levantam sua cabeça e pés para facilitar sua identificação.

"Essas fotos do Che morto na Bolívia são muito impactantes. São imagens desconhecidas e dolorosas para muitos cubanos. Elas lembram a paixão de Jesus Cristo", afirmou Carreras.

Como não poderia deixar de ser, a exposição se vê coroada pela lendária foto "Guerrilheiro Heroico" que o cubano Korda fez de Che durante um discurso de Fidel por ocasião de um funeral pelas vítimas da sabotagem do navio "La Couvre" em março de 1960.

A foto, que foi tomada como quem não quer nada por Korda e que transformou Che em um ícone moderno ao ser publicada pela imprensa cubana no dia de sua morte, já se nota a passagem do tempo, da mesma forma que a revolução cubana.