Topo

Dior despede Galliano por gritar, embriagado, sua admiração por Hitler

01/03/2011 15h18

Javier Albisu.

Paris, 1 mar (EFE).- A grife Dior iniciou nesta terça-feira os trâmites para despedir o costureiro britânico John Galliano, após a publicação de um vídeo no qual, embriagado, a estrela da alta costura manifesta sua admiração por Hitler.

A gravação, feita por clientes do bar "La Perle", em Paris, em dezembro do ano passado, foi a gota d'água para a Dior, que não cancelou, no entanto, o desfile assinado pelo estilista para a próxima sexta-feira no Museu Rodin.

Ao despedir Galliano, a empresa do grupo LVMH controlada pelo milionário Bernard Arnault tentou evitar ser acusada de pouca capacidade de reação, como quando seu perfumista Jean-Paul Guerlain apareceu na televisão fazendo declarações racistas em outubro passado.

O estopim da separação entre Galliano e Dior aconteceu na noite de quinta-feira, quando o costureiro (nascido em Gibraltar em 1960) supostamente proferiu insultos antissemitas e tentou agredir um casal de clientes no mesmo bar e novamente bêbado.

Segundo fontes judiciais, tanto Galliano como várias testemunhas negaram as acusações durante a acareação perante a Polícia.

O jornal britânico "The Sun" publicou em seu site um vídeo gravado por clientes do bar em dezembro passado no qual o peculiar criador dizia: "Eu amo Hitler".

"Gente como você estaria morta agora. Suas mães, seus antepassados, seriam... executados em uma câmara de gás", dizia Galliano perante a incredulidade dos clientes, franceses e italianos.

Diferentes testemunhos de amigos do estilista de 50 anos, recolhidos por jornais como "Le Monde" e "Libération", enfatizaram nesta terça-feira que Galliano não é racista ou xenófobo. De fato, sua mãe é espanhola, seu pai é britânico e o costureiro vive há quase duas décadas na capital da França.

Fã de provocações, tanto na hora de se disfarçar de astronauta ou Napoleão para saudar o público ao término de seus desfiles, como para apresentar coleções inspiradas na roupa dos moradores de ruas, Galliano não havia protagonizado escândalos maiores além do mundo das passarelas.

Guru da moda, o talento que se formou com matrícula de honra em 1984 na escola de design Saint-Martin's de Londres e que foi eleito Estilista Britânico do Ano em 1987, 1994, 1995 e 1997, se impôs um ritmo de trabalho cada vez mais acelerado.

Enquanto tentava continuar encantando as tradicionais capitais da alta costura, como Paris, Roma e Nova York, Galliano cativava os novos poderosos dos países emergentes.

Na última década, o estilista explorou sua criatividade para chegar a produzir 12 coleções por ano, por isso viajava frequentemente a países como Índia, Egito e Argentina na busca de inspirações que o ajudassem a costurar os modelos que vestiriam os ricos na Rússia, China e Índia.

Em 2007 a máquina sofreu uma pane quando seu companheiro, Steven Robinson, foi encontrado morto em seu apartamento de Paris em circunstâncias que foram relacionadas com overdose de remédios.

Segundo pessoas próximas, seu companheiro e ajudante era o único que se atrevia a dizer ao criador que uma ideia não funcionaria.

Um mês depois da morte de Robinson aconteceu o suicídio da estilista Isabella Blow, também próxima a Galliano.

A partir de então, ele se fechou em uma bolha de solidão que exibia em desfiles com alusões à história da moda e referências a Rembrandt, Picasso, Goya e Velázquez.

No ano passado, o estilista se viu afetado por mais uma tragédia, com a morte de seu discípulo Alexander McQueen.