"Biutiful" e "Em um Mundo Melhor" põem México e Dinamarca como favoritos
Alicia G. Arribas.
Redação Central, 24 fev (EFE).- Quatro dramas e uma "quase" ficção científica brigam pelo Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, com destaque para o mexicano "Biutiful" e o dinamarquês "Em um Mundo Melhor".
De fato, "Biutiful", o esperado quarto filme de Alejandro González Iñárritu, que conseguiu um grande número de indicações nos festivais internacionais, está menos cotado após sua derrota no Globo de Ouro e no Bafta.
A surpreendente vitória de "Em um Mundo Melhor", da dinamarquesa Susanne Bier, no Globo de Ouro, pode agora se repetir em Hollywood, onde outro cotado à consagração é o grego "Dente Canino", de Giorgos Lanthimos.
No entanto, tanto o argelino "Fora da Lei", de Rachid Bouchareb, como o canadense "Incêndios", de Denis Villeneuve, chegam com alguma chance graças à boa recepção por parte do público.
"BIUTIFUL": Um drama sem resquício para a esperança.
Este é o quarto longa de Iñárritu que entra na disputa por Oscars. "Amores Brutos" foi indicado em 2001 à estatueta de Melhor Filme Estrangeiro, mas perdeu para "O Tigre e o Dragão". Três anos depois, "21 gramas" (2003) rendeu indicações para Naomi Watts (Melhor Atriz) e Benicio del Toro (Melhor Ator Coadjuvante), que não levaram os prêmios.
Já "Babel", apesar de suas sete indicações em 2007, faturou apenas a estatueta de Melhor Trilha Sonora.
Com um esquema muito diferente de suas produções anteriores, "Biutiful" se foca principalmente em Uxbal (Javier Bardem), e não em vários personagens e diversas linhas narrativas.
A história de "Biutiful" é a de um pai de dois filhos que vive em uma ensurdecedora e sórdida cidade europeia, Barcelona, e sofre os primeiros sintomas de um câncer que descobriu quando já era terminal.
Tudo o que lhe cerca, desde uma mulher psicótica que o trai com seu irmão, dos corruptos policiais à dilaceradora sobrevivência de imigrantes africanos e chineses em apartamentos e porões insalubres, tudo, absolutamente tudo, é sujeira e desolação.
"EM UM MUNDO MELHOR": Por que a violência não serve para nada.
Com roteiro da própria diretora, Susanne Bier, e de Anders Thomas Jensen, "Em um Mundo Melhor" fala sobre as relações humanas, do contato entre pais e filhos e entre pessoas de diferentes culturas ou classes sociais, removendo medos, frustrações e vinganças para demonstrar que a violência não tem lugar nelas.
Esta não é a primeira vez que um filme de Bier concorre ao prestigioso prêmio - "Depois do Casamento" foi um dos finalistas em 2006 -, mas sim a primeira na qual conta com verdadeiras chances de ganhar a estatueta de Melhor Filme Estrangeiro, como ficou comprovado ao receber o Globo de Ouro.
Bier disse que não quer "dar respostas" com seu filme, mas colocar perguntas sobre como resolver conflitos que levam a uma escolha entre a vingança e o perdão.
"INCÊNDIOS": O conflito do Líbano visto por uma mulher.
O canadense Denis Villeneuve leva neste ano ao Oscar "Incêndios", seu nono longa-metragem, que apresenta um olhar feminino sobre o horror de uma guerra que representa a ocorrida no Líbano.
Baseada em obra de mesmo título do dramaturgo libanês Wajdi Mouawada, o diretor canadense descreve neste drama o percurso de dois irmãos gêmeos desde o Canadá, onde morreu sua mãe, até o Líbano de suas origens, viagem que ambos iniciam para realizar um último desejo expressado em seu testamento.
Esta é só uma desculpa para que "Incêndios" aborde às claras os confrontos civis entre cristãos e muçulmanos de mesma nacionalidade que transformaram o país, nos anos 70, em um cenário trágico, marcado pelo estigma do ódio entre irmãos com a religião como elemento de distorção.
Embora o filme não tenha passado pelo crivo dos júris do Bafta e do Globo de Ouro, recebeu amplo apoio de público nos 12 países onde entrou em cartaz.
"FORA DA LEI": Nunca houve bons e maus.
O filme do diretor francês de origem argelina Rachid Bouchareb recebeu críticas ferozes de políticos direitistas e de ex-veteranos franceses da Segunda Guerra Mundial, que o acusaram de desonrar a memória das "vítimas francesas" da guerra da Argélia e dos massacres de Setif.
Mas o cineasta pretendia ir à frente. Queria que "Fora da Lei" fosse, segundo suas palavras, um filme que provocasse um debate sobre o passado colonial da França na Argélia, mas não um protesto violento.
O filme mostra as barbaridades cometidas tanto pelo lado francês como pelo argelino, e descreve sem ponderações os massacres de uns e outros, e dos argelinos entre si.
"Fora da Lei" é a segunda incursão de Bouchareb em Hollywood após "Dias de Glória", indicado ao prêmio em 2007.
"DENTE CANINO": Uma mordida surrealista.
Vencedor do prêmio "Um Certain Regard" no último Festival de Cannes, "Dente Canino" é uma mordida implacável de bom cinema por parte do diretor grego Giorgos Lanthimos, que explora a extinção do núcleo familiar.
Trata-se de uma narração "quase" de ficção científica, cheia de simbolismos, na qual alguns pais que pensam que a família está em perigo de extinção decidem criar um mundo dentro de sua própria casa, mostrada desde uma estética bonita, luminosa, aberta e cheia de gente bonita, mas com um fundo bem obscuro.
É de se destacar a presença em Hollywood do grego Lanthimos que, com este terceiro filme, se transformou em um dos mais novos talentos do cinema europeu e porta-bandeira de um país onde o cinema, segundo ele mesmo, "praticamente não existe".
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