Festival de Berlim se rende ao Irã de Asghar Farhadi
Gemma Casadevall.
Berlim, 19 fev (EFE).- A 61ª edição do Festival de Berlim se rendeu ao filme iraniano "Jodaeiye Nader az Simin" ("Nader and Simin. A Separation"), de Asghar Farhadi, e lhe entregou o Urso de Ouro além do de Prata pelo conjunto de seus intérpretes, representantes dos seres de carne e osso que habitam o Irã de hoje.
O júri presidido pela atriz e diretora italiana Isabella Rossellini não fez rodeios e entregou os prêmios para um filme que chegou ao fim da 61ª edição do Festival de Berlim como principal favorito para ganhar tudo.
Com isso deu, indiretamente, uma última mensagem de apoio ao diretor iraniano Jafar Panahi, membro "à revelia" do júri do festival e que cumpre pena por conspiração em seu país.
Além desse sinal de solidariedade ao colega preso, os múltiplos prêmios a Farhadi foram amplamente justificáveis. Em poucas edições do Festival de Berlim houve tanta unanimidade quanto à condição do favorito, tanto da crítica como do público.
Farhadi participou do Festival de Berlim dois anos depois de ter levado o Urso de Prata de melhor direção com seu excelente "Procurando Elly", e seu trabalho era esperado com expectativa, principalmente quando a competição contava com apenas 16 títulos e não havia grandes nomes entre os aspirantes.
O diretor iraniano não decepcionou e se transformou no herói que o festival precisava com sua lição de como levar ao cinema seres de carne e osso, imersos em um Irã complexo e em um dilema moral, que não é tão diferente do que acontece com qualquer ocidental perante problemas como, por exemplo, cuidar de um pai com alzheimer.
O segundo grande premiado foi o húngaro Béla Tarr, com a Prata do Prêmio Especial do Júri por "A Torinoi Lo" ("The Turim Horse").
Tarr era o grande veterano e se colocou imediatamente com uma das principais apostas com um difícil filme em preto e branco, sem quase nenhum diálogo, que aborda Nietzsche e retrata perfeitamente o mundo agônico de um pai e uma filha, em um barraco ininterruptamente castigado por um vendaval.
O filme iraniano foi aclamado por unanimidade, enquanto Tarr dividiu opiniões entre os que adoraram e os que repudiaram.
Isabella Rossellini dividiu os principais prêmios entre os dois gigantes do cinema e reservou o restante para os novos talentos.
O filme "El Premio", dirigido pela mexicana Paula Markovitch e centrado nos estragos da ditadura na Argentina, ganhou um Urso de Prata de melhor contribuição artística, pelo trabalho do director de fotografia Wojciech Staron e da cenógrafa Barbara Enriquez.
A Prata de melhor diretor foi para Ulrich Köhler por "Schlafkrankheit" (Sleeping Sickness), assim como Alfred Bauer, em memória do fundador do festival, foi para "Wer wenn nicht wir" (If not us who), de Andres Veiel, centrado nas raízes do grupo terrorista Fração do Exército Vermelho (RAF).
Enquanto Isabella repartiu seus triunfos entre os poucos grandes nomes da competição e alguns novos talentos, o público deu o prêmio da seção Panorama a "También la Lluvia", da diretora espanhola Icíar Bollaín.
O segundo classificado no voto do público foi o argentino "Medianeras", a estreia à frente de um longa-metragem de Gustavo Taretto, enquanto seu compatriota Marco Berger ganhou com "Ausente" o prêmio "Teddy", dedicado ao cinema de temática homossexual.
Assim terminou mais uma edição do Festival de Berlim, caracterizada pela falta de brilho em sua seção de competição, não só pelo minguado número de aspirantes ao Urso - o habitual são entre 18 e 22 -, mas também pela falta de grandes estrelas no tapete vermelho.
A imprensa especulava estes dias um final prematuro da "era Dieter Kosslick", o diretor do Festival que ocupa o cargo desde 2001 e cujo contrato termina em 2013.
Kosslick negou as notícias e afirmou que pensa em continuar até completar seu contrato, enquanto aumentam os rumores de renúncia após o festival.
Com estrelas ou sem elas, o Festival de Berlim revalidou seu título de festival "popular" por excelência.
Este ano alcançou um novo sucesso na venda de ingressos ao público, com mais de 300 mil entre todas as sessões.
Ao contrário da concorrência europeia - Veneza e Cannes -, o peso do festival continua sendo o público, como sempre sustenta Kosslick, e é ao cidadão que a jornada de domingo é dedicada, o "Dia do Espectador", com projeções de seus melhores títulos em salas distribuídas por toda a cidade.
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