Imigrantes turcos alegram dia morno no Festival de Berlim
Gemma Casadevall.
Berlim, 12 fev (EFE).- Com "Almanya - Willkommen in Deutschland" os imigrantes turcos alegraram o sábado um tanto morno do Festival de Berlim, no qual o país anfitrião apresentou "Schlafkrankheit" (Doença do Sono), um retrato do desenraizamento dos voluntários na África.
A história de Hüseyin, um imigrante turco na Alemanha, é transformada por suas netas Yasemin e Nersin Samdereli - diretora e roteirista, respectivamente - em uma comédia bem-intencionada, que deu leveza ao sábado e despertou risos e algumas lágrimas no público.
O filme, exibido na seção oficial embora fora da competição, desembarcou no Festival de Berlim como antídoto às islamofobia de Thilo Sarrazin, o ex-diretor do Bundesbank (banco central alemão) que deixou seu posto após o alvoroço causado por seu best-seller que anuncia a "decomposição da Alemanha" por conta da "islamização".
Goste ou não, o livro de Sarrazin é recorde de vendas da última década no gênero não-ficção. O filme das irmãs Samdereli tinha como padrinho o diretor do festival, Dieter Kosslick, para quem "Alemanya" serve para mostrar "o que os alemães perderam por não ser meio turcos".
E o que perderam? Alegria e o saber saborear não apenas deliciosas especialidades turcas, mas também esse bem chamado "família", justamente o valor que países de índices de natalidade mínimos estão tão carentes.
De fato, esta é uma comédia familiar e multigeneracional, que às vezes beira ao escracho e que, à medida que avança, perde a graça inicial, mas que permite mais alguns risos e também possibilita a compreensão dos medos de uma família da Anatólia em um país onde, dizem, homens são crucificados e só se comem batatas.
"É um filme permeado por lembranças reais, como o pavor à crucificação e o estranhamento das crianças, vindas da Anatólia, diante desses alemães que mantém os cachorros presos a uma corrente", explicou Yasemin, a diretora.
A frase "queríamos trabalhadores e vieram pessoas", do escritor suíço Max Frisch, norteia o filme, no qual os aspectos mais ásperos da integração parecem ser tratados como se estivesse pisando em ovos.
Trata-se de um filme para "rir juntos" - alemães e naturalizados -, afirmou a diretora, e que, além da viagem de ida de Hüseyin à Alemanha, percorre sua volta à Anatólia e mostra a vergonha de seus filhos, agora germanizados.
Mais profunda, e de digestão difícil, é a reflexão que oferece "Schlafkrankheit" (Doença do sono), que aborda a situação do voluntário na África, desenraizado e integrado ao mesmo tempo, que se equilibra entre o não se comportar mais como um neocolonialista e o não se tornar parte do país em que vive.
Dirigido por Ulrich Köhler, o filme contrapõe dois personagens: o médico europeu que após 20 anos em Camarões vive um impasse pelo fato de sua mulher voltar à Europa por imposição de sua filha; e um inexperiente colega francês de origem congolesa ao qual a Organização Mundial da Saúde envia para inspecionar seu projeto.
"É um filme sobre europeus na África que diz muito da Europa", afirmou o diretor, que passou metade da vida no Zaire e que, portanto, sabe do que fala quando retrata o médico "africanizado", mas que não pode deixar de ser branco e que não sabe voltar.
O filme, a primeira contribuição à competição da cinematografia anfitriã, foi recebido com certa frieza na sessão para a imprensa, mas pelo menos evitou a debandada que provocou "Yelling to the Sky".
Dirigido pela estreante Victoria Mahoney, que coloca em seu filme Zoe Kravitz - filha de Lenny - ao lado de Gabourey Sidibe - a descomunal protagonista de "Preciosa"- em um argumento que aborda a marginalidade e a droga nas escolas, sob o pano de fundo de uma família desestruturada.
Zoe é essa nova "Preciosa", enquanto Sidibe é a vilã, em uma história de desolação e falta de perspectivas que não encontra o fio condutor.
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