Partido do Kremlin convoca votação popular na internet para enterrar Lênin
Ignacio Ortega.
Moscou, 24 jan (EFE).- O partido do Kremlin convocou uma votação popular pela internet para decidir sobre a retirada da múmia de Lênin da Praça Vermelha de Moscou e o possível sepultamento definitivo do corpo embalsamado do fundador da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) em um cemitério.
"Todo mundo sabe que o próprio Lênin não queria nenhum mausoléu. Mas os comunistas desprezaram os desejos do próprio líder e de seus familiares", garantiu Vladimir Medinski, historiador e deputado do partido governista Rússia Unida (RU).
No site "www.goodbyelenin.ru" os interessados podem votar a favor ou contra e responder a seguinte pergunta: você apoia a ideia de enterrar o corpo de Lênin?.
Até agora, quase 200 mil pessoas já participaram da votação: 136.744 votaram a favor da sepultura (69,67%) e 59.533 contra (30,33%).
A página foi colocada no ar após o 87º aniversário de morte de Vladimir Ilich Ulianov "Lênin" (21 de janeiro de 1924), líder da revolução bolchevique e fundador da União Soviética, cuja desintegração (1991) completa 20 anos em dezembro.
"Sua presença como figura central em um mausoléu no coração da Rússia é um absurdo. Poucos são os que entendem que há uma múmia no centro do país", acrescentou o deputado.
O autor da iniciativa considera que os comunistas "precisavam criar um culto que suplantasse a religião e tentaram transformar Lênin em um substituto de Jesus. Mas a coisa não funcionou bem assim".
"É preciso acabar com esta aberração", sentenciou Medinski, quem lembrou que a viúva de Lênin, Nadezhda Krupskaya, se opunha à exposição da múmia e sustentava que ele desejava descansar junto de sua mãe e do irmão no cemitério Volkovskoye, de São Petersburgo.
A iniciativa da RU recebeu o imediato apoio da oposição liberal e dos ativistas de direitos humanos, que sempre defenderam retirar a simbologia soviética da vida dos russos.
"Rússia precisa de uma política de ruptura com o passado soviético. E é preciso começar por enterrar Lênin. Por que não transformamos o mausoléu em um museu sobre as vítimas do Gulag (sistema penal institucional da antiga União Soviética, composto por uma rede de campos de concentração) e dos bolcheviques?", sugeriu Sergey Mitrokhin, líder do partido Yabloko.
Por sua vez, o último presidente soviético, Mikhail Gorbachev, mostrou-se convencido que tarde ou cedo o corpo de Lênin receberá uma sepultura, mas advertiu que "por enquanto não se deve tomar nenhum tipo de medida concreta e muito menos pela força".
"A própria sociedade o acabará entendendo", vaticinou.
Nesta semana, o Kremlin jogou um balde de água fria nos que esperavam uma decisão rápida para a polêmica.
Enquanto isso, o líder do Partido Comunista, Gennady Zyuganov, classificou as palavras de Medinski de "franca provocação" e garantiu que RU "unicamente sabe derrubar monumentos, mudar os nomes das ruas e revolver túmulos".
O grupo radical Frente Esquerdista enviou uma carta à Promotoria para que esta abra um processo penal contra o deputado governista por "semear a discórdia na sociedade e incitar o ódio" em direção aos comunistas.
"Terroristas, tirem as mãos do mausoléu de Lênin", dizia um cartaz dias atrás na Praça Vermelha em posse de um grupo de veteranos nostálgico do antigo regime totalitário.
Entre eles, estava Gueorgui Nazarenko, de 93 anos, comunista desde o berço que nasceu no ano da revolução bolchevique (1917).
"Os que querem enterrar Lênin são idiotas. Não têm direito de tocá-lo. Se o fizerem, explodirá uma guerra", declarou à Agência Efe enquanto caminhava pela praça.
Já Yulia, estudante de Economia de 22 anos, acredita "seria preciso tê-lo enterrado muito antes", enquanto Maria, de 18 anos, comentou que nunca visitará o mausoléu, já que não este não despertava nela "nenhuma emoção".
O primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, garantiu que Lênin ficará no mausoléu aos pés do Kremlin até que uma maioria de russos manifeste publicamente posição contrária, para evitar uma "cisma" na sociedade.
O chefe do Conselho de Direitos Humanos adjunto ao Kremlin, Mikhail Fedotov, propôs uma alternativa para contentar os dois lados: transformar o mausoléu em museu.
"O mausoléu e Lênin são partes de nossa história, por mais trágica que isso possa ser. As pessoas poderiam visitar o mausoléu sabendo que é um museu e não um jazigo (...), como o túmulo de Napoleão no Palácio dos Inválidos de Paris", assinalou.
Sem contar as ausências em alguns períodos específicos, a múmia de Lênin permanece desde 1º de agosto de 1924 no mausoléu, com exceção dos 1.360 dias da Segunda Guerra Mundial, quando foi levado para Sibéria.
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