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Sebastião Salgado inaugura mostra e diz não ter "a pretensão de mudar o mundo"

23/10/2009 13h17

Tóquio, 23 out - O fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado apresentou hoje no Japão sua mostra "África", um trabalho de 30 anos no continente com o qual pretende modelar a dignidade merecida por seus protagonistas.

  • Efe

    O fotógrafo Sebastião Salgado no Museu Metropolitano de Fotografia de Tóquio (23/10/2009)

Salgado disse à Agência Efe que com suas fotografias quer "contar histórias" que necessitam do compromisso da imprensa e das ONG para poderem ser mudadas.

A exposição "África" começa amanhã e vai até o dia 13 de dezembro, no Museu Metropolitano de Fotografia de Tóquio.

Salgado, de 65 anos, viajou por todo o mundo fotografando pessoas e lugares com suas encantadoras imagens em preto e branco e que já renderam diversos prêmios internacionais, consideradas por ele "mais intensas" que as composições em cor.

Fotojornalismo contemporâneo
O fotógrafo brasileiro disse que o fotojornalista atual precisa "emoldurar seu trabalho na realidade. Para isso, é necessário ter conhecimentos amplos em economia, sociologia e geopolítica" e não somente um domínio técnico.

Salgado assegurou que ainda segue trabalhando como no início, passando por todo o processo de revelação das fotos, o que o permite "reviver cada momento e sensação que senti quando tirei a foto: às vezes raiva e outras felicidade".

"Muitas vezes perdi fotos únicas para ajudar alguém. Meu primeiro objetivo é manter o nível de dignidade que uma pessoa merece", disse Salgado, que foi criticado em algumas ocasiões por "desdramatizar" a pobreza com fotografias de grande conteúdo plástico.

Em sua opinião, os protagonistas de suas fotos "podem ser pessoas empobrecidas, mas não deprimidas, nem miseráveis".

Experiências na África
Em suas viagens pela África, Salgado teve a oportunidade de retratar o processo de independência de Angola e Moçambique e tragédias humanitárias como a crise de fome na África Central ou os deslocamentos de comunidades em Ruanda.

De suas vivências, disse que aprendeu que "o animal humano é o mesmo em todo o globo. As necessidades de uma mãe espanhola são as mesmas que as de uma africana. A única coisa que nos diferencia é o dinheiro que temos no banco".

O fotógrafo disse ainda que o jornalismo tem que ser honesto, ter controle e não fomentar estereótipos, diferente do que acontece atualmente.

Para Salgado, continentes como a África ou a América Latina estão vivendo uma época de desenvolvimento e crescimento, como é o caso de Botsuana e África do Sul ou Argentina e Brasil.

"A África não é um continente subdesenvolvido, tem o desenvolvimento que tem. Está buscando sua identidade. Os pobres não necessitam piedade ou caridade, mas compressão e assistência", ressaltou Salgado.

O fotógrafo disse ainda que com a chegada dos Jogos Olímpicos ao Rio de Janeiro em 2016 "será feita justiça", pois é necessário que o hemisfério sul e América Latina organizem o acontecimento mundial.