Topo

Executivos da música acusam a Spotify de desdenhar de seus trabalhos

Spotify - Reprodução
Spotify Imagem: Reprodução

Lucas Shaw

06/09/2018 14h48

Marc Cimino está frustrado. O executivo da Universal Music Publishing administra um dos maiores catálogos de músicas do mundo, coletando royalties por Nicki Minaj, Adele e Justin Bieber.

Há muito os compositores reclamam que ganham pouco, então Cimino está acostumado a brigar por mais dinheiro. Mas o Spotify Technology, o maior serviço pago de streaming de música do mundo, está testando a paciência dele.

O Spotify exibe videoclipes no topo de muitas de suas listas de reprodução, e, segundo a empresa, esta é uma forma de promover artistas para seus 180 milhões de usuários. Mas Cimino diz que a gigante sueca da tecnologia, que tem um valor de mercado de US$ 32 bilhões, deveria pagar mais por esses vídeos e não tem feito isso. Esse desacordo, latente há meses, poderia acabar com relacionamentos que ajudaram a indústria fonográfica a sair do buraco onde esteve durante quase duas décadas e deixar o Spotify à deriva.

"Queremos permitir que nossos parceiros digitais experimentem e, ao mesmo tempo, garantir que nossos compositores sejam pagos corretamente", disse Cimino em sua primeira entrevista sobre o desentendimento. "O áudio é diferente do vídeo."

Essa desavença está aumentando as tensões entre o Spotify e seus maiores fornecedores: a Universal Music Group, da Vivendi, a Sony e a Warner Music Group. Ela também segue um padrão. O Spotify costuma lançar ou testar novos recursos sem aviso prévio nem acordo sobre a compensação, dizem executivos do setor. Em resposta, eles impediram a expansão do Spotify em novos territórios e decidiram fortalecer os vínculos com seus maiores rivais.

O maior teste ainda está por vir. O Spotify, que tem sede em Estocolmo, está prestes a entrar em negociações sobre novos contratos com as três principais gravadoras, e os acordos determinarão se a companhia, que abriu o capital em abril, conseguirá transformar seu serviço deficitário em lucrativo.

"Eles têm um longo caminho pela frente", disse Hartwig Masuch, CEO da BMG Rights Management, outra importante gravadora.

Sucesso limitado

O Spotify e a indústria fonográfica deveriam estar de mãos dadas cantando "Celebration", de Kool & the Gang. Depois de 15 anos de declínio, as vendas globais de música vêm crescendo desde 2015, graças ao streaming pago sob demanda.

No entanto, executivos de ambos os lados dizem que poucas vezes o relacionamento esteve tão conturbado. Executivos da música dizem que o Spotify é um mau parceiro - arrogante, pouco confiável, desdenhoso do trabalho deles - e imediatamente apontam que esse tipo de serviço só é popular por causa da música. O Spotify afirma que as gravadoras são retrógradas e sufocam suas tentativas de inovar. Ambos os lados estão se posicionando antes da importante rodada de negociações.

Parte dessa desconfiança é natural. Os executivos das gravadoras consideram que as empresas de tecnologia estão enriquecendo às custas de seu trabalho e atribuem a elas grande parte da culpa pelo declínio que começou em 2000. Mas o Spotify também tem uma queixa: a maior parte de sua receita já é destinada ao pagamento de royalties. Estima-se que a empresa de streaming registrará um prejuízo de quase US$ 600 milhões neste ano.

"É um relacionamento estranho, porque as gravadoras querem que o Spotify tenha sucesso, mas não muito", disse Amy Yong, analista do Macquarie. "Isso lhes dá uma dose excessiva de influência."