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7 músicas para conhecer melhor a carreira de Moraes Moreira

13/04/2020 15h20

Um dos grandes nomes da MPB, o artista baiano foi encontrado morto em sua casa, no Rio, aos 72 anos.

Baiano da pequena Ituaçu, Antonio Carlos Moreira Pires - ou apenas Moraes Moreira - embalou as festas de um Brasil inteiro. Do rock ao samba, passando pelo forró, axé ou frevos, o cantor e compositor deixou sua marca na MPB durante mais de 50 anos de carreira.

Aos 72 anos, Moraes Moreira foi encontrado morto em sua casa, no Rio de Janeiro, hoje, após sofrer um infarto, segundo sua assessoria.

"Deixa saudade e uma grande obra", escreveu Gilberto Gil, em homenagem ao amigo e conterrâneo.

Para relembrar a carreira desse artista que fez história com o grupo Novos Baianos e em carreira solo, a BBC News Brasil selecionou sete músicas para conhecê-lo melhor. Confira:

Preta Pretinha

"Assim eu ia lhe chamar, enquanto corria a barca".

Com letra de Luiz Galvão, Moreira musicou aquele que seria um dos maiores sucessos dos Novos Baianos. A canção faz parte do álbum "Acabou Chorare", de 1972, e não demorou muito para virar febre nas rádios pelo país.

O grupo foi formado em 1969, em Salvador, do encontro de Luiz Galvão, Moreira, Paulinho Boca de Cantor e Baby Consuelo, hoje conhecida como Baby do Brasil. Em 1970, lançaram o primeiro LP, "É Ferro na Boneca", com rock e inspirações psicodélicas e da Jovem Guarda.

A letra de "Preta Pretinha", repetitiva, vem de um romance frustrado de Galvão com uma jovem de Niterói (RJ), como ele contou no livro "Anos 70: novos e baianos" - daí a referência à barca, que liga o Rio de Janeiro à cidade do outro lado da Baía de Guanabara.

Pombo Correio

Não é exagero dizer que o carnaval brasileiro tem uma mão de Moraes Moreira.

Foi com a marchinha "Pombo Correio", em 1978, que a arte de Moreira ganhou as ruas em fevereiro. Até então, os trios elétricos de Salvador, criados por Dodô e Osmar, tocavam apenas música instrumental.

Por isso, Moreira é considerado o primeiro cantor de trio elétrico do Brasil, abrindo o caminho para uma geração de artistas da Bahia.

Lá Vem o Brasil Descendo a Ladeira

Moraes Moreira contava que a ideia dessa canção surgiu após uma noitada no Rio de Janeiro, junto ao seu amigo João Gilberto.

A presença do carioca na comunidade dos Novos Baianos, que passaram a morar no Rio, é considerada essencial para o caráter múltiplo do grupo, fundindo samba, frevo, baião, rock, etc.

"Numa daquelas ladeiras maravilhosas do Rio, João viu uma mulata descendo de manhã com todo o suingue, toda energia, partindo pra vida, mas sem se queixar de nada. Ele olhou e disse: 'Olha lá o Brasil descendo a ladeira'. E daí nasceu essa música", declarou Moreira na gravação do acústico MTV, em 1995.

O sucesso está no disco solo homônimo, lançado em 1979 e que consolidou a carreira de Moreira nos anos seguintes.

Chão da praça

Do mesmo disco "Lá vem o Brasil descendo a ladeira", veio outro hit de Moreira: "Chão da Praça". A canção é considerada uma das antecessoras do que viria a ser rotulado como axé music na década de 1980. A música é uma composição de Moreira com o cearense Fausto Nilo.

No livro "Sonhos Elétricos", Moreira contou qual foi a ideia para a composição: " Era na verdade uma grande homenagem à praça do Poeta, que já vinha sendo referenciada também por outros artistas."

A praça em questão é a Castro Alves, no coração do centro de Salvador, em homenagem ao autor de "O Navio Negreiro". A canção segue sendo um dos hinos do carnaval da Bahia.

Besta é tu

Com composição conjunta com Luiz Galvão e Pepeu Gomes, "Besta é Tu" ficou imortalizada na voz de Moraes Moreira. A canção também faz parte do "Acabou Chorare", o álbum mais emblemático dos Novos Baianos.

"Besta é tu" é, na verdade, uma forma de aprendizado de violão, chamada assim no interior da Bahia onde Moreira nasceu.

"É no tom de Lá menor, que é o primeiro tom que a pessoa aprende. Quando consegue fazer o besta-é-tu, é uma felicidade", demonstrava Moreira em seus shows.

Lenda do Pégaso

Em 1980, Moares Moreira lançou o LP "Bazar brasileiro", em carreira solo. Em parceria com Jorge Mautner, um dos grandes nomes da MPB, compôs a música de "Lenda do Pégaso", uma fábula em forma de canção, comprovando o teor criativo e inovador do trabalho de Moreira.

A canção quase infantil é sobre um passarinho tido como feio que queria ser outras aves, enxergando nelas qualidades que não possuía.

"Aí então Deus chegou e disse: pegue as mágoas, pegue as mágoas e apague-as. Tenha o orgulho das águias. Deus disse ainda: é tudo azul, e o passarinho feio virou o cavalo voador, esse tal de Pégaso", encerra a música.

Mistério do Planeta

Também parte de "Acabou Chorare" e também da parceria entre Moreira e Luiz Galvão, "Mistério do Planeta" é um dos sucessos que permanecem na boca dos brasileiros até hoje.

"Vou mostrando como sou. E vou sendo como posso. Jogando meu corpo no mundo. Andando por todos os cantos", começa a canção.

É uma das músicas que mostra um dos aspectos importantes da música dos Novos Baianos e Moraes Moreira, que é a incorporação de diversas vertentes musicais e a ode à liberdade artística.

Em 17 de março, Moreira publicou o seu último post no Instagram, com um cordel sobre a quarentena, onde escreveu: Vivemos num mundo insano. Queremos mais liberdade. Pra que tudo isso mude. Certeza, ninguém se ilude. Não tem tempo, nem idade".