Por que García Márquez nunca quis que "Cem Anos de Solidão" virasse filme
Em vida, o escritor Gabriel García Márquez resistiu a que seu livro "Cem Anos de Solidão" tivesse uma versão cinematográfica - escrevendo a obra, inclusive, como uma forma de escape da linguagem das telonas, conforme explica o pesquisador Nicolás Pernett, especialista em sua obra.
Mas, no dia em que o colombiano completaria 92 anos, a Netflix anunciou ter comprado os direitos do livro para transpor a fantasiosa história para o audiovisual pela primeira vez.
"A Netflix adquiriu os direitos para desenvolver este amado e aclamado romance, considerado uma das obras mais importantes do século 20, em uma série original em espanhol", disse a empresa em um comunicado.
"Isto marca a primeira e única vez em mais de 50 anos que a família dele permitiu um projeto de adaptação para as telas."
O serviço de streaming acrescentou que Rodrigo e Gonzalo, filhos de García Márquez, serão os produtores executivos da saga - que será filmada, em sua maior parte, na Colômbia.
"Na atual era dourada das séries, com a qualidade cinematográfica do conteúdo e a aceitação pelo público mundial de programas em idiomas estrangeiros, não poderia haver um momento melhor para levar a adaptação à frente", declarou Rodrigo.
Mas por que, quando era vivo, Márquez sempre resistiu às várias propostas de produtores e diretores para fazer esta adaptação?
Uma obra estranha ao cinema
"Naquele momento, no México, ele trabalhava na indústria cinematográfica fazendo roteiros e adaptações", explicou Nicolás Pernett à BBC News Mundo.
Mas Cem Anos de Solidão, cuja primeira edição saiu em 1967, "joga contra muitas das convenções do cinema". "Esse livro foi uma reação ao mundo do cinema."
"Ele ficou inspirado para fazer um romance que seria difícil se tornar um filme", diz o especialista, apontando obstáculos para as telas como o manejo do tempo, os monólogos de personagens e a complexidade de certas cenas.
Ofertas rejeitadas
No entanto, García Márquez tinha na produção audiovisual uma de suas paixões - apesar de não ter alavancado sua fama como a literatura fez.
Além de escrever para o setor, o colombiano publicou críticas e foi um dos idealizadores da Escola Internacional de Cinema e Televisão de San Antonio de los Baños, em Cuba, inaugurada por Fidel Castro em 1986.
Na realidade, segundo Pernet, desde a criação desta escola, Márquez estimulava os alunos a produzirem séries televisivas - "já prevendo o enorme potencial que este gênero tinha".
Ao mesmo tempo, porém, o Nobel de Literatura também já escreveu, em 1982, algo que vai de encontro a esta admiração ao explicar sua resistência envolvendo Cem Anos de Solidão: "Meu desejo é que a comunicação com meus leitores seja direta, por meio das letras que escrevo para eles, para que imaginem os personagens como quiserem - e não com o rosto emprestado de um ator na tela".
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