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Clássico machista? Por que uma das canções de Natal mais famosas dos EUA está sendo vetada por uma rádio

Michael Bublé já interpretou o clássico "Baby It"s Cold Outside" - Alexandre Durao/UOL
Michael Bublé já interpretou o clássico "Baby It's Cold Outside" Imagem: Alexandre Durao/UOL

09/12/2018 10h48

É um clássico de Natal que já deve estar tocando em rádios e lojas do mundo todo, especialmente em países de língua inglesa.

Mas uma estação de rádio de Cleveland, nos Estados Unidos, decidiu remover a música "Baby It's Cold Outside" ("Querida, está frio lá fora", em tradução livre) de sua programação de Natal, depois de reclamações dos ouvintes.

Segundo a mídia local, ouvintes disseram que a música era inadequada e iria contra os valores impulsionados pelo movimento #MeToo, que surgiu em forma de hashtag nas redes sociais, com mulheres relatando casos de assédio, e depois foi abraçado por celebridades ao redor do mundo.

Glenn Anderson, um dos apresentadores da rádio Star 102, explicou em um blog no site da emissora que, embora a música tenha sido escrita em outros tempos, sua letra parecia "manipuladora e inapropriada" para nossa época.

"No mundo de hoje há muita sensibilidade e as pessoas se ofendem muito facilmente, mas essa música não tem lugar em um mundo onde o movimento #MeToo finalmente conseguiu ouvir a voz das mulheres", escreveu Anderson.

Escrito por Frank Loesser em 1944, "Baby It's Cold Outside" ganhou o Oscar de melhor canção original em 1950, graças a sua aparição no filme "A Filha de Netuno", estrelado por Esther Williams e Ricardo Montalbán.

Ao longo dos anos, a música tem sido interpretada por cantores como Lady Gaga, Michael Bublé, Tom Jones e Cerys Matthews, assim como pelos atores Will Ferrell e Zooey Deschanel para o filme "Elf", de 2003.

A letra

A canção tem a forma de uma conversa na qual um homem usa a desculpa do mau tempo para tentar convencer sua convidada a não voltar para casa e preferir tomar outro drinque e passar a noite com ele.

"Eu tenho que ir", canta a voz feminina, à qual o homem responde: "Mas querida, está frio lá fora".

"A resposta é não", ela insiste em outro parágrafo, para encontrar a mesma réplica: "Mas querida, está frio lá fora".

O verso em que ela canta "Diga, o que tem nesse drinque?", à qual o homem responde "Não há como conseguir táxis lá fora", foi interpretado por alguns como uma referência a um "date rape", expressão em inglês usada para descrever violações sexuais durante encontros românticos.

A controvérsia

Mas outras pessoas, como a comediante Jen Kirkman, apontaram que a frase tinha um significado diferente décadas atrás e que a música pode ser muito mais complexa do que parece à primeira vista.

"Isso me cansa. A música soa estranha hoje não porque fala sobre forçar uma relação sexual, mas por causa de uma mulher que sabe que sua reputação ficará manchada se ficar. 'Diga, o que tem nesse drinque?' é uma velha frase de filme dos anos 30 que significa 'estou dizendo a verdade'. Ela queria partir para ação e passar a noite (com ele)", escreveu Kirkman em sua conta no Twitter.

Uma pesquisa feita na página do Facebook da rádio também mostrou que a grande maioria dos ouvintes da Star 102 não concorda com a decisão da emissora.

Outros, no entanto, defendem a decisão e argumentam que, apesar da passagem do tempo, a música deve ser analisada a partir de uma perspectiva contemporânea.

"(A canção) realmente vai além da fronteira do consentimento", disse Sondra Miller, presidente executiva do Cleveland Rape Crisis Center, uma entidade de combate à violência sexual, em entrevista à Fox News.

"A personagem feminina da canção diz 'não', mas as pessoas dizem 'na verdade, esse 'não' não significa 'sim'?' Acho que em 2018 sabemos que consentir significa dizer 'sim' e que 'não' significa 'não' e é preciso parar por aí", disse Miller.