Os trechos mais explosivos do aguardado livro sobre Donald Trump
Livros reveladores escritos pelo jornalista Bob Woodward têm sido uma espécie de rito de passagem para presidentes do país. Agora, é a vez de Donald Trump ser colocado sob o microscópio.
Woodward fez seu nome revelando o envolvimento do ex-presidente Richard Nixon no escândalo do Watergate. Agora, ele descreve o governo do republicano como uma administração em "colapso nervoso do poder executivo".
Defensores de Trump dirão, não sem razão, que Woodward representa o "establishment" de Washington contra o qual o presidente está lutando.
Também é verdade, no entanto, que o jornalista tem acesso incomparável aos corredores do poder. Na capital americana, é como um consenso a ideia de que é melhor falar com o repórter do que deixar de fazê-lo —uma vez que colegas, e no pior dos casos inimigos, estão dando a ele o seu lado da história.
A Casa Branca e o próprio presidente têm classificado o livro como um conjunto de "histórias fabricadas" por "ex-funcionários insatisfeitos".
"É apenas mais um livro ruim", disse Trump ao site Daily Caller durante uma entrevista, acrescentando que Woodward "tem muitos problemas de credibilidade".
A previsão é que o livro seja lançado nos Estados Unidos na próxima semana, mas trechos aos quais alguns jornalistas tiveram acesso dão pistas do que vem por aí.
'Eu posso fazer isto parar. Vou apenas retirar o papel da mesa dele.' - Gary Cohn
Woodward descreve várias ocasiões em que funcionários do alto escalão do governo Trump —o ex-conselheiro econômico titular Gary Cohn e o ex-secretário da Casa Branca Rob Porter, em particular— removeram documentos da mesa do presidente para impedir que Trump os assinasse.
Tudo fazia parte de um esforço para blindar a administração e o país do que os funcionários viam como os impulsos mais perigosos do presidente. Caso tivessem recebido a firma de Trump, alguns documentos poderiam ter levado à retirada dos EUA do Acordo de Livre Comércio da América do Norte e de um acordo comercial com a Coreia do Sul. Com as atitudes de sua equipe, o país acabou se comprometendo a renegociar estes pactos.
Woodward classifica estes atalhos para contornar Trump como "nada menos que um golpe de Estado administrativo".
'Não testemunhe.' - John Dowd
Em 27 de janeiro, de acordo com Woodward, o advogado pessoal do presidente, John Dowd, encenou uma entrevista com Trump para mostrar que, se o republicano se dispusesse a falar com o procurador especial Robert Mueller e sua equipe, as perspectivas seriam desastrosas. Mueller faz parte do conselho que investiga se Trump recebeu ajuda do governo da Rússia na campanha eleitoral.
Não deu certo, pois o presidente ficou cada vez mais frustrado com a intensidade da sabatina simulada - a certa altura, chamou a investigação de "farsa".
Dowd teria então indo ao encontro de Mueller - a quem teria dito não concordar com a proposta de um testemunho pois não queria ver o presidente "parecer um idiota" e envergonhar a nação.
Quando, mais tarde, houve indícios de que Trump havia mudado de ideia e iria testemunhar, Dowd renunciou.
'Vamos matá-lo. Vamos entrar.' - Donald Trump
Segundo Woodward, uma das fontes de considerável insatisfação entre a equipe de Trump era o potencial impacto de seus impulsos na política externa.
Depois que os EUA passaram a acreditar, em abril de 2017, que o governo sírio pudesse ter lançado outro ataque químico, Trump disse ao secretário da Defesa, James Mattis, que assassinasse o presidente Bashar Assad.
"Vamos matá-lo", disse o republicano, segundo o livro.
Depois do diálogo, Mattis teria dito a um assistente que não faria "nada daquilo".
Woodward diz que funcionários também ficaram preocupados quando o presidente ordenou planos para um ataque militar preventivo contra a Coreia do Norte durante o auge de sua rivalidade com Kim Jong-un. O presidente também humilhou generais em relação à guerra no Afeganistão, dizendo que soldados "no terreno" poderiam ter feito um trabalho melhor.
"Quantas mais mortes?", ele perguntou. "Por quanto tempo mais estaremos lá?"
'Mentiroso profissional.' - Gary Cohn
Woodward pinta um retrato de uma equipe da Casa Branca constantemente abatida e menosprezada por um presidente temperamental.
Quando o então conselheiro econômico da Casa Branca, Cohn, tentou renunciar depois que o presidente fez comentários simpáticos aos nacionalistas brancos que se manifestaram violentamente em Charlottesville em 2017, Trump o acusou de "traição".
Cohn, de acordo com Woodward, via o presidente como um "mentiroso profissional".
Trump também disse ao secretário de Comércio, Wilbur Ross, que não confiava nele.
"Não quero que você faça mais negociações", teria dito o presidente. "Você já passou do seu auge."
Ele também teria comparado seu primeiro chefe de gabinete, Reince Priebus, a um rato. "Ele apenas fica perambulando por aí."
Quanto ao procurador-geral Jeff Sessions, que o presidente criticou publicamente, o republicano foi ainda mais depreciativo.
"Esse cara é mentalmente retardado", disse Trump a um secretário, segundo Woodward. "Ele é um sulista idiota. Ele nem poderia advogar para uma pessoa no Alabama".
'Oficina do diabo.' - Reince Priebus
Se o presidente foi abusivo em relação à sua equipe, parece que os funcionários encontram alguma medida de vingança no livro de Woodward, que está repleto de citações ácidas sobre o presidente.
O chefe de gabinete, John Kelly, repetidamente chamaria Trump de "idiota" e diz ser "inútil tentar convencê-lo de qualquer coisa". Segundo o livro, o secretário de Defesa, Mattis, disse a um assessor que o domínio do presidente de temas de política externa seria como o de um aluno de "quinta ou sexta série".
O antecessor de Kelly, Reince Priebus, descreve a suíte presidencial como "a oficina do diabo", onde Trump dispara tuítes intempestivos no início da manhã e nos finais de semana.
O relacionamento de Trump com Rex Tillerson supostamente nunca se recuperou depois de notícias de que, em uma ocasião, o ex-secretário de Estado chamou o presidente de "idiota".
'Ninguém me falou sobre isso, e eu adoraria ter falado com você. Você sabe que sou muito aberto a você. Acho que você sempre foi justo.' - Donald Trump
Em uma prévia do que certamente será uma furiosa reação da Casa Branca ao livro, o jornal Washington Post divulgou uma gravação de áudio e a transcrição de uma ligação que o presidente fez a Woodward no início de agosto. Nele, o presidente alega que nunca foi contatado para uma entrevista ou informado sobre o trabalho que será publicado em breve por Woodward —uma afirmação que o repórter refuta com veemência.
Trump faz várias tentativas de conduzir a conversa na direção de suas conquistas na política externa e na economia.
"Ninguém nunca fez um trabalho melhor do que eu como presidente", diz ele. "Isso eu posso te dizer."
Woodward diz que, através de entrevistas, conseguiu reunir muitas informações e documentação —e que seu livro seria um "olhar duro sobre o mundo, sua administração e você".
"Suponho que isso signifique que será um livro negativo", responde o presidente.
Woodward conclui a ligação dizendo: "Acredito em nosso país e, como você é nosso presidente, te desejo boa sorte".
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