Vida de Luis Miguel, cantor mexicano com mãe desaparecida e pai vilão, vira febre na América Latina com série
Quando o cantor mexicano Luis Miguel tinha 16 anos e já estava nas paradas de sucesso, sua mãe desapareceu. Hoje, 32 anos depois, ele tem 48 anos e o destino da italiana Marcela Basteri, que morou na Argentina, na Espanha e no México, continua sendo um mistério.
O enigma sobre o paradeiro da mãe do cantor de baladas românticas - com mais de 75 milhões de discos vendidos nas costas - e outros lances dramáticos de sua biografia, como o pai que o drogava na adolescência, são alguns dos motivos que explicam o enorme sucesso de uma série sobre a vida do artista nos países da América Latina.
Nos últimos meses, a transmissão semanal dos treze capítulos de Luis Miguel, la série (Luis Miguel, a série), da Netflix, causou grande rebuliço nas redes sociais, gerou comentários e debates em emissoras de rádio e televisão e foi um assunto quente em conversas de bar do México à Argentina.
"Não perdi um capítulo. Acabei buscando matérias sobre o pai dele, sobre as hipóteses a respeito do paradeiro da mãe dele e sobre o irmão menor de Luis Miguel. Fiquei vidrada", contou à BBC News Brasil a argentina Luna Hadida, especialista em relações trabalhistas.
'Te odio, Luisito Rey'
No domingo, o episódio final foi exibido em telões de clubes de Buenos Aires, que cobraram entradas - que poderiam incluir pizzas e bebidas. Pelo Facebook, um desses clubes anunciou a presença do ator argentino que interpretou o empresário do artista no seriado.
No México, passaram a ser vendidas camisetas e canetas com a frase "Te odio, Luisito Rey" (Te odeio, Luisito Rey) que acompanha um desenho do pai do cantor de boleros. O espanhol Luisito Rey, que morreu em 1992, é o vilão da série, autorizada por Luis Miguel e baseada no livro Luis mi rey, la apasionante vida de Luis Miguel (Luis, meu rei, a apaixonante vida de Luis Miguel), do jornalista e escritor espanhol Javier León Herrera.
Mas apesar do papel de vilão de Luisito Rey, uma enquete realizada durante a série pelo jornal mexicano Reforma indicou que para a maioria dos entrevistados (73%) a influência do pai de Luis Miguel teria sido benéfica para a carreira do filho.
No Peru, o jornal El Comercio deu destaque à série apontando para os fatos ainda sem resposta da vida do artista mexicano - que nasceu em Porto Rico, mas, por ideia do pai, passou a afirmar, ainda na pré-adolescência, que era mexicano. Hoje, sua nacionalidade é mexicana.
Esses detalhes da vida do artista, que começou a cantar pouco depois dos dez anos de idade, que tem vários prêmios Grammy e é chamado também de LuisMi, Micky e Sol de México, é que tornaram sua história tão "inspiradora", segundo um dos principais roteiristas da série, o mexicano Daniel Krauze.
"Acho que o motivo que leva o público a se interessar pela série e a ter simpatia por ele é o fato de Luis Miguel ter conseguido manter a carreira crescendo, apesar de tantos problemas", disse ele à BBC News Brasil, falando do México.
Ele lembrou que Luis Miguel nunca largou os palcos, mesmo sem saber do paradeiro da mãe ou tendo de lidar com os problemas financeiros gerados pelo pai, que teria desviado seu dinheiro para contas na Suíça.
"Em vez de se anular profissionalmente, ele, com 17 ou 18 anos de idade, vendia 35 milhões de discos", acrescentou Krauze.
Onde está Marcela?
Fã do artista na adolescência, Krauze acha que a figura do pai e sua relação com o filho são os elementos "mais impactantes" da trama.
Segundo Krauze, a equipe de seis roteiristas deu grande atenção ao livro de León Herrera - "Foi nosso dever de casa permanente" -, mas também entrevistou o cantor. "Não é um documentário, mas tem muitas verdades, além de suas músicas", disse Krauze.
Na semana passada, León Herrera disse a uma TV argentina que Marcela "tinha morrido de causas não naturais". Os principais portais latinos de notícias repercutiram a declaração - de grande impacto nos portais de vários países da região.
O destino de Marcela era o grande mistério da série. Em entrevista à BBC News Brasil, o escritor, que hoje mora em Medellín, na Colômbia, e participou de reuniões com os roteiristas da série da Netflix, em Los Angeles, nos Estados Unidos, disse, sem dar detalhes, que o suposto final da mãe do artista teria sido "chocante" e que "é muito pesado e ainda mais para alguém (Luis Miguel) que já sofreu tanto".
Para o seu segundo livro sobre o artista, Luis Miguel, la historia (Luis Miguel, a história), León Herrera entrevistou familiares de Marcela na Itália, que acreditam que ela foi assassinada.
Mas como o corpo não foi encontrado, o mistério continua.
Histórias cruzadas
A mídia argentina chegou a noticiar que a mãe de Luis Miguel fora encontrada, mendigando nas ruas do bairro de San Telmo, em Buenos Aires. TVs locais entrevistaram essa mulher, de olhos claros e traços parecidos aos de Marcela, mas que negava ser mãe do cantor. "É verdade que Luis Miguel lhe manda dinheiro? Por que a senhora mora na rua?", chegaram a lhe perguntar.
Essas entrevistas tiveram um resultado curioso: foram vistas por familiares desta mulher em sua cidade natal, San Julián de Bimenes, um pequeno povoado em Astúrias, na Espanha.
A espanhola Honorina Montes não dava notícias à família desde 1992 e os familiares já tinham até feito seu enterro simbólico.
León Herrera diz que Marcela, por sua vez, foi vista pela última vez em setembro de 1986, quando deixou a Itália e passou pela Espanha, a pedido do marido, para embarcar para o Chile, onde se encontraria com Luis Miguel.
"Mas ela jamais embarcou para o Chile", disse.
Seu intrigante destino levou a televisão italiana a fazer um apelo para que ela fosse localizada. No México, o artista também recebeu um cartão postal que seria da mãe, mas que tempos depois se descobriu ser falso.
Em 2008, uma parente argentina disse tê-la visto em Madri, na Espanha. E surgiram versões de que Marcela estaria em uma clínica psiquiátrica. Também teria sido vista em outros locais de Espanha, Suíça, Áustria e Itália.
Um dos vídeos antigos do cantor - que voltaram a ser vistos no YouTube - mostra um show de Luis Miguel em Buenos Aires, quando ele tinha 15 anos, cantando Marcela, de autoria do pai, ao lado dela.
Esta teria sido a última imagem pública da mãe de Luis Miguel.
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