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"Idade do Bumbum"? A obsessão da música e das artes plásticas com nádegas

Escultura "Project for a Door", inspirada em uma ideia para uma portaria, é exibida em Londres - Adrian Dennis/AFP Photo
Escultura "Project for a Door", inspirada em uma ideia para uma portaria, é exibida em Londres Imagem: Adrian Dennis/AFP Photo

Kelly Grovier

09/10/2016 13h36

Adoramos essa parte do corpo em músicas como se ela fosse um deus a quem queremos fervorosamente agradar.

Canções como "My Humps" (do Black Eyed Peas), "Anaconda" (de Nicki Minaj), "Baby Got Back" (de Sir Mix-a-lot) e "Bootylicious" (das Destiny's Childs) glorificam o bumbum de tal maneira que há cada vez mais mulheres dispostas a passar por uma cirurgia para aumentá-los - tanto que a Sociedade Americana de Cirurgia Plástica chamou 2015 de o "Ano do Traseiro".

E agora, até representações exaltadas de nádegas estão ganhando espaço nas grandes premiações do refinado mundo das artes visuais.

Em setembro, fotos do público contemplando a fenda murmurante de um gigantesco bumbum instalado na galeria Tate Britain, em Londres, chamaram a atenção para o nível da nossa atual obsessão.

A obra, batizada de "Project for a Door" ("Projeto para uma porta", em tradução literal), é uma escultura de cinco metros de altura realizada pela artista britânica Anthea Hamilton, que foi indicada para o Turner Prize deste ano, um dos mais prestigiados (e polêmicos) prêmios da arte contemporânea.

A peça se baseia em um projeto nunca executado pelo arquiteto italiano Gaetano Pesce para um prédio de apartamentos em Nova York.

Com mais de 40 mil anos, "Vênus de Hohle Fels" é a obra figurativa mais antiga - Wikipedia - Wikipedia
Com mais de 40 mil anos, a "Vênus de Hohle Fels" é a obra figurativa mais antiga
Imagem: Wikipedia

Inspiração pré-histórica

Noventa e nove anos depois de o dadaísta francês Marcel Duchamp escandalizar o mundo das artes ao propor a instalação de um urinol em uma galeria, e quase duas décadas após a artista britânica Tracey Emin deixar críticos indignados ao expor uma cama amarrotada cheia de camisinhas usadas, absorventes manchados, bitucas de cigarro e garrafas vazias, é de se pensar que nossa sensibilidade passou a ser mais resiliente.

Pode até ser. Talvez um par de nádegas, por si só, seja algo capaz de atrair uma enorme fascinação, representando uma fonte única e inesgotável de inspiração cultural.

A foto do público hipnotizado pela escultura de Hamilton praticamente fecha o ciclo da história do olhar humano.

A obra mais antiga de arte figurativa de que se tem notícia, a chamada Vênus de Hohle Fels (descoberta na Alemanha em 2008 e com mais de 40 mil anos), revela o quanto estamos predestinados a caprichar nas proporções do bumbum.

Forjada em marfim de mamute, a diminuta estatueta é um amontoado de seios protuberantes e nádegas inchadas - exageros que, segundo historiadores, podem explicar a função da peça como um totem da fertilidade.

Desde então, o traseiro provou ser um marco essencial da genialidade visual para uma série de artistas: do holandês Hieronymus Bosch, no século 15, a Salvador Dalí, no século passado, e às selfies "destruidoras" de Kim Kardashian.