Artista brasileiro transforma ícones pop em super-heróis da Marvel e DC
O frágil porém irascível cantor Morrissey se transforma no Incrível Hulk; o Duende Verde, arqui-inimigo do Homem-Aranha, é na verdade o ex-líder da rede Al-Qaeda, Osama Bin Laden, e a identidade secreta do Homem-Aranha se revela não como sendo a do jornalista Peter Parker, mas, sim, como Ian Curtis, o vocalista do lendário grupo britânico Joy Division.
No universo criado pelo artista curitibano Butcher Billy, personagens de quadrinhos das editoras Marvel e DC Comics se confundem com ídolos da música pop, políticos mundiais, assassinos em série e líderes extremistas. Esse universo paralelo tão caótico e conturbado quanto uma das 'Infinitas Terras' da DC Comics povoam as páginas do artista no Instagram (https://instagram.com/thebutcherbilly/) e no Facebook (https://www.facebook.com/bilyml).
"Quando criança, nos anos 80, eu era vidrado tanto nos desenhos animados que passavam na TV quanto nas músicas que tocavam no rádio", conta o artista, de 37 anos, cujo nome verdadeiro também parece ser um nome artístico - Bily Mariano da Luz.
Nessa época, conta Billy, ele acabou se iniciando "na cultura pop como um todo, quadrinhos, cinema, música, games, arte" e percebeu que "tudo estava relacionado de alguma forma". Foram essas conexões conta ele, que definiram seus gostos pessoais e escolhas profissionais.
"Meus projetos como Butcher Billy quebram os limites entre as formas de arte e exploram o que faz algo ou alguém se tornar icônico na cultura pop e no imaginário coletivo. Nos meus projetos de super-heróis pós-punk, a relação entre cada roqueiro e cada personagem é sempre estabelecida de uma maneira ou de outra", conta ele.
"Morrissey tem um status de santidade entre sua vasta legião de fãs, assim como o Super-Homem, e Ian Curtis é soturno e dark ao ponto de cair como uma luva no papel do Batman. O vocalista do The Smiths pode ter a sua famosa dualidade de temperamento relacionada ao Incrível Hulk. E o Homem-Aranha dos anos 60 e 70 tinha uma pegada um tanto quanto trágica e depressiva, se encaixando bem com o ex-Joy Division", comenta.
Quanto à mistura entre vilões da Marvel e da DC com líderes mundiais polêmicos e chefes de organizações extremistas, Billy diz ser uma forma de "explorar o quanto certas formas de arte são um reflexo do tempo em que vivemos. Se antigamente quadrinhos e cinema eram um tanto quanto ingênuos e encarados como puro escapismo, hoje, eles precisam espelhar a realidade para serem relevantes ao espectador".
"Tragédias como o 11 de setembro (de 2001) acabaram influenciando muito a ficção nesse sentido, e a série é um grande comentário sobre isso", acrescenta.
Na arte de Billy, Mark Zuckerberg (fundador do Facebook) se transforma no perverso Loki, o irmão de Thor. O devorador de galáxias Galactus é convertido em Hitler e o assassino em série Charles Manson é retratado como o Coringa, o arqui-inimigo de Batman.
Para o artista, os supervilões da Marvel e da DC não são páreo para o que ele considera como os malfeitores da vida real.
"Uma das conclusões meio depressivas a que eu cheguei com essa série foi que, se caso fossem os supervilões ameaçando a vida real, o mundo não seria um lugar tão ruim. Agora, comparando mesmo, eu diria que o pior de todos seria o Mark Zuckerberg", comenta.
Personagens de quadrinhos da Marvel e da DC Comics são, atualmente, não só marcas milionárias de suas editoras, como também fontes de inspiração para franquias cinematográficas que estão sempre no topo das bilheterias, como Os Vingadores e os vários longas metragens protagonizados por Batman.
Diante disso, não seria Butcher Billy, um alvo potencial de processos por parte de editoras, gravadoras e estúdios de Hollywood? "Não, o que tem acontecido frequentemente é eu ser contatado pelos artistas para dizerem que curtiram as homenagens. A assessoria do Peter Hook, baixista do Joy Division e do New Order, inclusive me contratou para transformar o meu mashup de Batman + Joy Division em um pôster para a turnê dele nos Estados Unidos."
"Desde então, tenho falado com Hook e a pedido dele até mandei algumas camisetas com artes minhas para a banda usar nos shows. Também recebi e-mails dos empresários de Howard Devoto (ex-Buzzcocks e Magazine) e de Gary Numan dizendo que curtiram muito os mashups. Essa é outra parte legal desse trabalho - te tornar mais próximo dos seus ídolos e inspirações", acrescenta.
Em seu próximo projeto, Billy deixará os quadrinhos de lado, mas não abandonará o universo pop e nem as reciclagens de outras obras artísticas.
"Sou fã do (artista britânico) Banksy e durante muito tempo vinha quebrando a cabeça tentando formatar uma ideia para subverter o trabalho dele. Agora acho que cheguei em um conceito interessante. O projeto vai se chamar 'Butcher Billy Bullies Banksy', diz o artista, sem querer adiantar mais detalhes sobre o projeto.
Apesar de ser natural de Curitiba e de ainda viver em sua cidade natal, Billy se inspira mais em personagens e ícones estrangeiros do que nos brasileiros. Mas ele explica que as fontes de sua são globais.
"Esse é justamente um dos temas que eu costumo explorar nos meus projetos - o alcance de algo que se tornou enraizado no imaginário cultural coletivo. Acredito que o apelo de um ícone que chegou a esse status seja global, afinal, na infância e adolescência eu morei em uma pequena cidade do interior no sul do Brasil e tive acesso razoável a tudo que me influenciou e influencia até hoje - em uma época sem internet", afirma.
Billy conta que já lançou projetos usando temas nacionais. "Mas quase todos passam meio batido sem gerar muita repercussão. A crítica política é inevitável, como no "Butcher Billy for President", mas outro que eu gostei muito de ter feito foi o Sin City x Boca do Lixo, em que eu redesenhei cartazes de filmes clássicos da época da pornochanchada.
Ele conta que, tendo passado "metade da vida sem internet e metade com ela", ele pode atestar o poder das redes sociais como ferramentas de divulgação de seu trabalho. "Sem elas, seria muito difícil, para não dizer impossível, para artistas independentes terem divulgação e reconhecimento. Inclusive, elas têm sido temas constantes de projetos meus, que sempre cruzam passado e presente através de paradoxos temporais e comportamentais", afirma.
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