Doris Lessing escreveu sobre justiça social e até ficção científica
A escritora Doris Lessing, morta aos 94 anos neste domingo (17), tratou de temas que iam desde justiça social, passando pelo feminismo e até ficção científica em sua obra.
Ganhadora do prêmio Nobel de literatura em 2007, a polêmica autora atraiu a fúria de muitos americanos ao sugerir que os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 não foram tão terríveis quando comparados à campanha do IRA (Exército Republicano Irlandês) na Grã-Bretanha.
As declarações foram típicas da escritora que nunca evitou controvérsia.
Doris May Tayler nasceu em Kermanshah, na Pérsia, (atualmente, oeste do Irã) onde o pai, britânico, era caixa no Imperial Bank of Persia.
Em 1925, eles se mudaram para a Rodésia do Sul (Zimbábue), para gerenciar uma fazenda, um negócio que não deu certo para a família.
A infância da escritora foi dominada pela mãe, determinada a fazer com que a filha obedecesse as regras da época. Mas, junto com o irmão, Lessing escapava para a florestas e savanas.
Os pais chegaram a enviar a autora para uma escola de meninas em Salisbury (hoje conhecida como Harare), mas ela saiu de lá aos 13 anos, encerrando sua educação formal, e começou a alimentar a imaginação com os livros que chegavam sob encomenda da Inglaterra.
Nesta época, Lessing começou a ler autores como Dickens e Kipling, além de inventar histórias para o irmão.
Lessing chegou a comentar que infâncias infelizes parecem produzir bons escritores de ficção.
"Claro, eu não estava pensando em termos de ser uma escritora. Apenas pensava em como escapar, o tempo todo", disse.
A autora também foi influenciada pelas memórias do pai, que lutou na Primeira Guerra Mundial e voltou mutilado.
"Todos nós fomos feitos pela guerra, retorcidos e deformados pela guerra, mas parece que nos esquecemos disso", escreveu.
Comunismo e feminismo
A escritora saiu de casa aos 15 anos e teve vários empregos, enquando aprofundava suas leituras sobre política e sociologia. Em 1937, morando em Salisbury, ela se casou com Frank Wisdom, com quem teve dois filhos.
O casamento não deu certo e ela deixou a família.
Ainda em Salisbury, ela se envolveu com um grupo literário comunista. Um dos membros era Gottfried Lessing, um judeu exilado, com quem ela se casou. Porém, este casamento também não durou.
Decepcionada com o comunismo e com a África, ela se mudou para Londres e publicou em 1949 seu primeiro livro, "A Erva Canta" (The Grass is Singing).
O livro sobre o caso entre a esposa de um fazendeiro branco e um empregado africano se transformou em best-seller e revolucionou a forma de mostrar um relacionamento entre raças diferentes.
O livro mais famoso de Lessing é "O Carnê Dourado", de 1962, uma história com muitas camadas sobre as diferentes áreas da personalidade feminina.
Este livro transformou Lessing em um ícone do crescente movimento feminista, algo que ela rejeitou.
"O que elas realmente queriam que eu dissesse é 'ah, irmãs, estou ao seu lado em sua luta pela aurora dourada quando todos aqueles homens bestiais não existirem mais'. Elas realmente querem que as pessoas façam declarações simplificadas demais sobre homens e mulheres?", questionou a autora.
Ficção científica
No final dos anos 1970, Lessing lança a série de livros "Canopus in Argos", de ficção científica, em que retrata um futuro sombrio, marcado pela tirania e catástrofes naturais.
Mais recentemente, a autora lançou livros como "A Boa Terrorista", em 1985, uma sátira à política, e "O Quinto Filho", em 1988, um relato do sofrimento de uma família com um filho violento e antissocial.
Lessing disse que a inspiração para o livro veio em parte da experiência dela, que teve um filho aos 19 anos, e da mulher na cama ao lado naquela ocasião, que já tinha duas meninas e que estava rejeitando o filho que tinha tido.
Em outubro de 2007 ela se transformou na escritora mais velha a receber o prêmio Nobel de literatura, aos 87 anos.
Lessing dizia que havia algo "abrasivo" nela, que irritava as pessoas. Mas, como escritora, ela não poderia se importar com o que os outros pensam. "Somos livres... Posso falar o que penso. Temos sorte, somos privilegiados, então por que não usar isto?", questionou.
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