Artista britânica conta luta contra anorexia em autobiografia em quadrinhos
Em "Lighter than my Shadow" (Mais leve do que minha sombra, em tradução livre), Katie Green, de 30 anos, desenhou todas as ilustrações e escreveu os diálogos à mão, elegendo o preto e branco como a cor dos quadrinhos.
Para ela, esta foi a melhor forma de expressar o clima sombrio e pesado que pairava sobre a família, afetada por sua doença.
Os quadrinhos mostram como Katie enfrentava dificuldades para comer já na infância, quando começou a criar estratégias para despistar os pais.
Uma passagem do primeiro capítulo mostra a menina, de maria-chiquinhas, escondendo fatias de pão no bolso do casaco e aparecendo na cozinha com o prato vazio.
"Muito bem", dizia sua mãe, acreditando que a filha havia tomado o café da manhã. Temendo que os pais vissem o pão no lixo, ela começou a esconder as fatias atrás de uma estante no seu quarto.
Mas acabou desmascarada em um dia de arrumações em que seu pai arrastou o móvel e se deparou com uma montanha de pão.
A britânica Katie Green: Quadrinhos mostram dificuldade já na infância
Autodestruição
O livro sugere que episódios como esse levaram a família a fazer terapia. Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, a artista diz admirar a forma como seus pais e irmã a apoiaram quando ela precisou deixar a escola para ser tratada em casa.
"Deve ter sido horrível para eles ver que eu estava tentando me autodestruir", diz ela.
Com a ajuda de terapeutas e nutricionistas, Katie seguiu uma dieta balanceada e lembra ter encarado a situação como se "a comida fosse o remédio para sua doença".
Mas, ao voltar para a escola, no último ano do ensino médio, ela se sentia mais vulnerável do que nunca.
"Esse foi o momento mais perigoso, porque as pessoas achavam que eu estava bem, mas por dentro eu estava desesperada", diz Katie.
Arte como cura
Ela diz ter encontrado a cura após a graduação, quando se matriculou em um curso de arte.
Ter encontrado uma paixão lhe deu pela primeira vez um motivo para querer vencer a anorexia por si mesma e não pelos outros.
"Foi a grande virada", lembra a artista.
Seis anos mais tarde, Katie conta sua história em 504 páginas, mas diz que escrever o livro não foi uma catarse. Há tempos ela não pensava mais no controle obsessivo de sua alimentação e em todas as outras questões que envolvem a doença, e o projeto lhe trouxe memórias de uma época que ela gostaria de esquecer.
"Mas se eu conseguir ajudar famílias a lidarem com a complexidade que é viver com uma adolescente com distúrbio alimentar já terá valido a pena", diz.
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