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Grafites se espalham por São Paulo com 'apoio oficial'

06/09/2013 09h17

Alguns grafites em São Paulo estão contrariando a natureza efêmera desta arte de rua e, com apoio oficial, permanecem mais tempos nas paredes e muros.

Um destes projetos foi criado pelo grafiteiro Arhur Moriyama, o Subtu, para o conjunto habitacional do Parque do Gato, no Bom Retiro, região central de São Paulo.

"Moro próximo dali, sempre vi estes prédios. É um lugar ideal, tem muitos prédios, é uma região carente, não tem acesso à cultura", disse Subtu à BBC Brasil.

O artista convidou outros para participar do projeto, entre eles Thiago Mundano e Fel, e decidiu participar de um edital da prefeitura.
Com a ajuda oficial, eles alugaram por 30 dias uma plataforma aérea para trabalhar o dia inteiro em 15 obras de 15 metros de altura, que podem ser vistas de longe.

Com o apoio dos moradores e da prefeitura, Subtu espera que as obras fiquem nas paredes por tempo indeterminado, "até ser danificada pelo tempo e poluição".

"É diferente da rua. Não rua não sabemos (quanto tempo um grafite permanecerá intacto), é incógnita total. Este, como é autorizado pelos moradores e prefeitura, se tornou uma galeria a céu aberto", afirmou.

Subtu acrescenta que o grupo não pretende parar apenas no Parque do Gato e quer levar o projeto para outros conjuntos habitacionais, inclusive um na Água Branca.

Museu
Outra iniciativa, o Museu Aberto de Arte Urbana, começou com uma detenção, em 2011.

Um grupo de grafiteiros estava pintando as pilastras da estação de metrô na avenida Cruzeiro do Sul, em Santana, quando a polícia chegou e os levou para a delegacia do Meio Ambiente, onde foram acusados de crime ambiental.

Na delegacia, o grupo de 16 artistas, formado por Chivitz, Binho Ribeiro, Minhau, Akeni e outros, começou a elaborar um projeto para que sua arte não fosse encarada como um crime, daí surgiu a ideia do museu.

Binho Ribeiro e Chivitz começaram a buscar parcerias e autorizações, viabilizando tudo junto à Secretaria Estadual da Cultura, ao Metrô e à Prefeitura.

Desde então, a iniciativa, considerada inédita, colore as pilastras dos dois lados do elevado entre duas estações de metrô.

"Eles (os grafites) não têm nenhuma proteção, não sofreram agressão, ou seja, tem um respeito. Houve um projeto cuidadoso para incluir vários artistas da região", disse Binho Ribeiro, um dos curadores do "museu".

Binho conta que até houve uma tentativa de colocar grades em volta dos grafites para proteger as obras, mas as poucas que foram colocadas foram retiradas logo depois devido à pressão dos próprios artistas, comerciantes locais e opinião pública. Ainda assim, não houve dano maiores aos painéis.

Os grafiteiros queriam continuar com o projeto com o apoio da Secretaria Estadual da Cultura, por meio de sua assessoria, informou que "não dará continuidade ao incentivo neste ano". "Apesar disso, a pasta mantém o apoio à produção artística neste segmento, por meio de seus programas de incentivo ProAC Editais e ProAC ICMS, que podem, inclusive, ser pleiteados pelos organizadores do museu".

'A rua decide'
Na zona norte da cidade, uma parte dos muros do Cemitério Vila Nova Cachoeirinha ganhou novas cores depois de um encontro de grafite promovido pelo Centro Cultural da Juventude, com a curadoria do grafiteiro Bonga.

Ao todo, participaram 40 grafiteiros no evento que, de acordo com o curador, foi uma "intervenção, uma ação de apoio aos artistas de rua". Entre os nomes que coloriram os muros do cemitério estão Joks, Oco Sapiens, Chileno, Black Sheep e Cabelin.

Para Bonga, o apoio do Centro Cultural da Juventude e a participação de nomes famosos do grafite, não garantem a permanência das obras por muito tempo.

"(Grafite) É efêmero, a rua é quem decide", afirmou.

Bonga grafita há cerca de 16 anos e começou em Caieiras, cidade próxima de São Paulo. Dali, ele partiu para a zona leste da cidade. Para ele, muitos estão se apropriando da linguagem do grafite.

"Existe um modismo na linguagem, muita gente se aproveitando, como no hip hop. Mas a rua não tem dono."

Muros da memória
Eduardo Kobra também tem grandes murais autorizados espalhados pela cidade. O grafiteiro começou em 1987, aos 12 anos, muito influenciado pela cultura hip hop. Com o passar dos anos, seu estilo foi mudando e ele criou o projeto Muro das Memórias, que espalhou por avenidas da cidade grandes murais com cenas da São Paulo antiga, geralmente em preto em branco.

Na Igreja do Calvário, em Pinheiros, Kobra fez dois murais coloridos, um mostrando o Monumento às Bandeiras e o outro, o viaduto Santa Ifigênia.

O artista disse à BBC Brasil que os painéis surgiram "com o aprimoramento do meu projeto Muro das Memórias, que geralmente acontecia com pinturas em preto e branco, mas, de um tempo para cá, passou a ter formas e cores".

Para Kobra, pintar nas ruas é uma questão pessoal.

"Faço isso desde os 12 anos e vou seguir fazendo, independente de status, galerias, convites (...). Penso que de alguma forma, todos devem colaborar para melhorar a cidade em que vivemos, doando algo de si para isso, seja evitando jogar lixo, por exemplo. As obras representando o que tenho de melhor para doar à cidade e aos moradores, representam o amor que tenho por São Paulo."