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Exposição em Viena debate "tabu" da nudez masculina

Turistas fotografam obra do austríaco Ilse Haider na frente do Museu Leopold (16/10/12) - AFP
Turistas fotografam obra do austríaco Ilse Haider na frente do Museu Leopold (16/10/12) Imagem: AFP

Bethany Bell

Da BBC News, Viena

19/11/2012 13h32

Uma exposição no Museu Leopold, em Viena, abriu um acalorado debate sobre os valores culturais que levam a nudez feminina a ser relativamente aceita nas modernas sociedades ocidentais enquanto a masculina ainda é tabu.

A exposição reúne diversas obras com nus masculinos - desde estátuas clássicas até pinturas de Peter Paul Rubens, Paul Cézanne, Edvard Munch e do artista expressionista Egon Schiele.

Também há obras mais modernas e de conteúdo sexual explícito - por exemplo, do fotógrafo americano Robert Mapplethorpe e dos artistas Gilbert e George, de Londres.

Segundo o diretor do museu, Tobias Natter, essa variedade permite ao visitante fazer um "passeio por 500 anos de história". "Temos um nu do Egito antigo - algo raro na arte egípcia. Há arte romana, (Auguste) Rodin, dos séculos 19 e 20, e uma estátua pós-moderna. Isso mostra ao visitante que o nu masculino tem uma longa tradição artística", diz Natter.

Mas antes mesmo da exposição ser inaugurada, seus cartazes já causaram polêmica - e o museu foi obrigado a cobri-los parcialmente.

Algumas das imagens expostas são bastante explícitas, o que tem ajudado a alimentar as polêmicas.

Diferença

Para Natter, o museu está inovando ao abrir espaço para a discussão dos valores sociais e culturais que levam a uma maior aceitação do nu feminino.

"É incomum ter uma exposição que se concentra na representação do nu masculino, apesar de já termos organizado muitas sobre o nu feminino. Por algum motivo, isso ainda é um tabu", diz.

Natter reconhece que a nudez masculina está ganhando mais espaço nas modernas sociedades contemporâneas. "Agora, está presente em cartazes e nos palcos. Está ficando cada vez mais normal", afirma. Ele ressalta, porém, que a imagem de uma mulher nua ainda é mais aceita.

Uma das provas dessa diferença, segundo ele, é a própria forma como os cartazes anunciando a exposição foram recebidos.

Um deles expunha uma fotografia dos artistas franceses Pierre e Gilles com um nu frontal de três jogadores de futebol. Pouco antes da abertura, no mês passado, o Leopold afirmou ter recebido tantas queixas que foi forçado a cobrir parte da fotografia.

Mas por que as fotos teriam causado tanta indignação - e logo em Viena, que está repleta de cartazes de mulheres nuas ou semi-nuas, além de ser conhecida por sua abordagem liberal em relação à nudez? Saunas e áreas para tomar sol mistas são comuns na cidade, por exemplo.

Representações

Erich Kocina, do jornal Die Presse, diz que os pôsteres do Museu Leopold de fato provocaram indignação, mas avalia que a questão também teria sido inflada pelos organizadores da exposição como uma jogada de marketing.

Para ele, em geral as pessoas estão mais acostumadas em ver a imagem de mulheres nuas em Viena porque elas são apresentadas como "objetos de desejo" em propagandas e comerciais de TV.

Eva Kernbauer, especialista em história da arte da Universidade de Artes Aplicadas de Viena, afirma que, embora os nus masculinos sejam um tema comum em trabalhos artísticos de diversos séculos, a forma como homens e mulheres são retratados nunca foi igual.

De acordo com Kernbauer, mesmo na antiguidade a nudez feminina era usada para expressar beleza e erotismo, enquanto o nu masculino era associado à força e ao heroísmo.

"Além disso, mesmo na Grécia antiga era comum a imagem da 'Vênus envergonhada', que ligava as representações de nudez feminina à castidade", diz a pesquisadora.

"A nudez feminina nunca foi representada como ameaçadora, mas sim como vulnerável. Já a nudez masculina costuma incluir a exposição dos órgãos sexuais e refletir o modelo clássico de agressão e força."

Para Kernbauer, esse modelo continua influente ainda hoje.