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Pirataria literária preocupa indústria de livros na Argentina

MARCIA CARMO

De Buenos Aires

10/11/2010 13h55

O aumento do número de casos de pirataria literária na Argentina, com cópias cada vez mais sofisticadas, preocupa a indústria de livros do país.

"É um fenômeno que está crescendo. Talvez não seja tão visível como é no Peru, onde a economia informal é intensa. Mas a pirataria de livros está crescendo na Argentina e também no Chile", disse à BBC Brasil o porta-voz da editora Santillana, Augusto di Marco.

Segundo ele, os falsificadores estariam explorando brechas nas leis argentinas e chilenas --mais duras com a pirataria do que as de outros países sul-americanos-- para ampliar seus negócios.

Especula-se no setor editorial que esta produção regional poderia chegar a 10% ou 15% do volume da indústria de livros.

Qualidade
Os livros falsificados são vendidos no varejo até 50% mais baratos do que cópias oficiais, segundo cálculos da Câmara Argentina do Livro, e o leitor não sabe, muitas vezes, que está comprando um produto ilegal.

  • BBC Brasil

    As cópias falsas estão cada vez mais sofisticadas na Argentina

"Quando você compra um DVD na rua sabe que está comprando algo pirata. Mas isso não acontece com o livro. Nós percebemos quando ele é falso, mas o leitor talvez não", afirmou Di Marco. A produção marginal não se limita a fotocópias, mas a impressão quase idêntica das obras.

Os detalhes da falsificação são quase imperceptíveis, como a qualidade do papel e páginas que foram coladas em vez de costuradas, por exemplo. Por isso, editores acreditam que exista uma "indústria" que vem se aperfeiçoando nesta produção e encontrando mercado fértil entre os leitores.

"Não acredito que a leitura esteja aumentando e que esta seja a razão do incremento da pirataria. Mas aqui na Argentina o nível de leitura é alto, e a classe média costuma ler bastante. Na prática, existe um mercado (paralelo) possível", afirmou.

Pelo nível da qualidade da produção, a polícia argentina acredita que poderia ser uma ação de especialistas. "É preciso conhecer este processo industrial. E não é qualquer um que consegue comprar papel", completa Di Marco.

Apreensão
Especialistas dizem que Buenos Aires, a capital do país, mantém a tradição da leitura e possui um dos maiores índices de livrarias per capita da América do Sul. Ao mesmo tempo, a produção de livros vem crescendo, mesmo na era da internet, de acordo com dados da Câmara do Livro.

Segundo a polícia argentina e a Câmara, os exemplares mais copiados são Best Sellers ou livros com público alvo certo.
No fim de semana, a polícia argentina (Gendarmeria) fez a maior apreensão de livros ilegais até hoje no país ao descobrir um depósito, em Buenos Aires, com 130 mil livros falsos, cotados em cerca de 11 milhões de pesos (cerca de R$ 5 milhões).

Os livros eram de autores como o colombiano Gabriel García Márquez e o argentino Julio Cortazar, incluindo ainda "Minha Luta", de Adollf Hitler, e o modelo, preparado para a impressão, de "Mafalda", do cartunista argentino Quino.

As investigações do caso vão continuar, já que ainda não foi localizada a gráfica onde estes livros foram feitos.

No ano passado, após denúncia da Câmara Chilena do Livro, a polícia do país apreendeu 2 mil livros prontos para serem distribuídos no mercado e 30 mil preparados para serem impressos numa gráfica clandestina de Santiago.

Eram exemplares de livros de Isabel Allende e de Jorge Edwards, entre outros mais vendidos no país e no exterior.