Boicote de atores a teatro em assentamento na Cisjordânia provoca polêmica em Israel

GUILA FLINT

De Tel Aviv para a BBC Brasil

  • AP

    Novo teatro no assentamento de Ariel deve ser inaugurado em novembro

Cem dos principais artistas do teatro israelense provocaram uma polêmica em Israel ao assinar um abaixo-assinado defendendo o boicote a um novo teatro construído no assentamento judaico de Ariel, na Cisjordânia, alegando não reconhecerem a legitimidade da colonização dos territórios ocupados.

A direção de cinco principais grupos teatrais israelenses havia feito um acordo para participar de um programa de apresentações para marcar a inauguração da nova sala de espetáculos, gerando o protesto de seus integrantes.

O novo teatro, que será inaugurado em novembro, é a primeira grande sala de espetáculos construída em assentamentos nos territórios ocupados e pode comportar as grandes produções dos principais teatros israelenses.

Os grupos teatrais assinaram a venda dos espetáculos sem consultar os artistas, e grande parte deles se nega, por razões politicas, a cruzar a linha verde (antiga fronteira entre Israel e a Cisjordânia, antes da ocupação israelense, durante a guerra de 1967).

No domingo, o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, se envolveu na polêmica e ameaçou cortar o financiamento estatal às companhias envolvidas no boicote.

"Nesse momento em que Israel sofre um campanha internacional de deslegitimação, a última coisa que precisamos é de um boicote que vem de dentro", afirmou Netanyahu.

“Não quero minimizar o direito de cada indivíduo, de cada artista, de ter posições políticas. Eles podem expressar seu ponto de vista, mas nós no governo não podemos financiar boicotes de cidadãos israelenses nem apoiá-los de nenhuma maneira”, disse.

‘Consciência’
Itai Tiran, um dos atores de teatro mais importantes do país, disse ao site de noticias Ynet que se apresentar no assentamento de Ariel "contradiz a minha consciência e tudo em que acredito”.

“Não vou me apresentar naquela sala de espetáculos e em nenhuma outra que se encontre nos territórios ocupados", afirmou.

Para a dramaturga Savion Librecht, Ariel "não é legítimo". "Aqueles que decidiram ir morar lá (nos assentamentos), se quiserem assistir a espetáculos culturais israelenses, podem se deslocar para alguma cidade dentro de Israel", afirmou a dramaturga.

"Se um número suficiente de artistas assinarem (o abaixo-assinado), as peças não poderão ser apresentadas lá", concluiu.

O músico Dori Parnes disse ao Ynet que "por mim eles terão que apresentar o Conde de Monte Cristo (uma das peças previstas na programação) sem som”. “A minha música não será apresentada no assentamento, pois não vou colaborar com o projeto de colonização", disse.

‘Canalhas e hipócritas’

O Conselho de Judeia e Samaria, liderança dos colonos israelenses, declarou que os artistas que assinaram o abaixo-assinado são "canalhas e hipócritas".

Para os colonos, o abaixo-assinado foi escrito por "um punhado de ativistas de esquerda anti-sionistas que atacam maldosamente os melhores filhos do Estado, que os protegem enquanto eles atuam nos palcos".

O deputado Zvulun Orlev, presidente da Comissão de Cultura do Parlamento, anunciou que vai convocar uma reunião especial da comissão para discutir o boicote dos artistas.

"Trata-se de um ato anti-cultural, que boicota centenas de milhares de cidadãos de Israel, que moram em povoados legítimos em Judeia e Samaria (nome bíblico para a Cisjordânia)", afirmou Orlev, que pertence ao partido de direita Habait Hayehudi.

A ministra da Cultura, Limor Livnat, do partido Likud, condenou a declaração dos artistas.

"Este ato grave cria uma cisão na sociedade israelense, discrimina públicos de acordo com as opiniões políticas dos artistas. Deve-se deixar a discussão política fora da vida cultural e artística", disse a ministra para o site de noticias Walla.
 

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