MADRI, Espanha (AP) -- O quadro "Guernica" demonstra intenso sofrimento, mas sua própria saúde não corre perigo. Este é o diagnóstico após o primeiro raio-X da grande obra anti-guerra de Picasso, realizado pelo museu de arte Reina Sofia.

O raio-X da grande tela - 7,8 metros de largura por 3,5 metros de altura - foi parte de uma série de testes iniciados há um ano em uma das mais valiosas obras de arte do mundo. A última grande análise de "Guernica", há uma década, descobriu 129 imperfeições entre rachaduras, vincos, marcas e manchas - todas atribuídas ao passado tumultuado do pintor.

"O raio-X nos permite ver em que condição está a pintura, sua composição, as cores e os danos sofridos", disse o diretor do Reina Sofia, Manuel Borka-Villel, durante uma entrevista esta semana.

"A boa notícia é que os últimos resultados de raio-X mostram que as imperfeições não aumentaram", afirmou Borja-Villel. "Mas o tempo não perdoa ninguém, e com as pinturas não é diferente."

Os estudos atualmente conduzidos pelos especialistas do museu pretendem produzir uma análise definitiva da pintura em 2010. Até agora os testes mostram que o quadro necessita apenas ser espanado periodicamente e uma possível limpeza de algumas manchas, resultado da única restauração prévia da obra, feita pelo Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova York em 1957.

Quadro viajante
"Guernica" foi encomendada a Picasso pelo governo republicano espanhol para representar o país na Feira Universal de Paris, em 1937, enquanto a Espanha sofria em uma sangrenta guerra civil iniciada pelo general e futuro ditador Francisco Franco.

Terminada a feira, o quadro viajou por quase 20 anos, visitando dezenas de cidades nos dois lados do Atlântico.

"Toda vez que a pintura mudava de lugar ela tinha que ser tirada de seu suporte e enrolada. Isso teve seu preço ao longo do tempo, até que um dia, no começo dos anos 60, o próprio picasso disse 'chega'", afirmou Borja-Villel. "A pintura tem uma constituição robusta, mas seus dias de viagem definitivamente acabaram", acrescentou.

A pintura fez sua última jornada quando foi transferida para a Espanha em 1981. Picasso a havia depositado no MoMA em um empréstimo de longo prazo, até que a democracia fosse restaurada em sua terra natal.

A tela em preto e branco mostra figuras atormentadas e distorcidas - humanas e animais - e representa os horrores da guerra mecanizada.

Picasso, o pai da arte moderna, era uma figura mundialmente reconhecida na época, e o quadro rapidamente se tornou um ícone artístico e político. Desde então se tornou uma das obras de arte mais estudadas da história moderna.

Guernica, a antiga capital do País Basco ao norte da Espanha, foi bombardeada no dia 26 de abril de 1937 pela Itália e Alemanha. Os regimes fascistas de ambos os países eram aliados de Franco em uma guerra civil que preparou o palco para a Segunda Guerra Mundial.

Embora estimativas do número de pessoas mortas no bombardeio varie largamente, historiadores da cidade dizem que os registros locais contam pelo menos 120 mortes.