Livro sobre Pablo Neruda inclui cartas de amor clandestinas trocadas com Matilde Urrutia

SANTIAGO DO CHILE - O jornalista Darío Osses, editor do livro "Cartas de amor inéditas de Pablo Neruda", disse que a obra inclui missivas inéditas trocadas entre o poeta chileno (1904-1973) e sua terceira esposa, Matilde Urrutia, quando os dois se viam às escondidas. "O período do amor clandestino é quando estão na Europa, entre 1950 e 1952. Neruda está casado com Delia del Carril e eles conseguem se encontrar e têm uma temporada em Capri", explicou Osses em entrevista à ANSA.

A época das cartas escondidas coincide com a redação do livro "Os versos do capitão" (1952). No total, os textos cobrem um espaço de tempo que vai de 1950 a 1973, ano da morte do poeta, e são enviadas a partir de vários países do mundo, inclusive a Itália. "Há desde cartas de quatro a cinco páginas até notas breves. São dezenas. Estão escritas com tintas de cores diferentes, onde predomina o verde, mas há uma lilás, por exemplo", especificou o autor. O livro será lançado na próxima semana na Espanha pela editora Seix Barral. Segundo Osses, os manuscritos "contêm um valor poético associado e que pode dar algumas chaves da poesia amorosa que Neruda escrevia naquele momento".

Para a compilação, o jornalista transcreveu dezenas de missivas, ordenou-as cronologicamente, explicou as circunstâncias de cada uma e fez uma introdução para explicar as etapas da relação amorosa entre o poeta e Urrutia. Os dois se conheceram em 1946 e ficaram juntos até a morte de Neruda. Osses explicou que, além das cartas escritas durante a redação de "Os versos do capitão", há outras que coincidem com a fase de produção de "Cem sonetos de amor" (1960) -- ambos estão entre os livros mais importantes dedicados pelo ganhador do Prêmio Nobel da Literatura de 1971 à esposa.

O autor -- que se nega a revelar onde foram encontrados os textos "até o momento em que o livro for lançado no Chile -- disse que este "foi um trabalho muito fino de edição". "Para preparar as notas tinha que averiguar quem poderia ser um personagem que se mencionava. Serviu para conhecer mais sobre Neruda", acrescentou. O jornalista informou também que, como as missivas estão manuscritas, "para alguns" a letra do poeta "não é tão legível". Além disso, ele não tinha regularidade para datar os papeis, usando às vezes somente dia, mês ou ano, o que dificultou ainda mais o processo de organização. "É como entrar na intimidade dos personagens.

A carta, à diferença de um livro, não se escreve para um leitor, mas neste caso para uma leitora específica", completou, dizendo-se contente por ter cumprido a tarefa. Osses negou, porém, que a investigação represente uma forma de se imiscuir indevidamente na vida do poeta chileno. "Já passou um tempo. Assim como há arquivos que são liberados, a vida privada deixa de ser privada, passa a ser parte da história cultural de um país, sobretudo de um personagem como este", argumentou, dizendo que Neruda parece "mais humano, com suas debilidades e grandezas".

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