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Artistas protestam no Teatro Oficina contra o fim do Ministério da Cultura

17.mai.2016 - O diretor teatral José Celso Martinez exibe cartaz contra o presidente interino, Michel Temer, em ato com artistas e intelectuais no Teatro Oficina, em São Paulo - Fabio Braga/Folhapress
17.mai.2016 - O diretor teatral José Celso Martinez exibe cartaz contra o presidente interino, Michel Temer, em ato com artistas e intelectuais no Teatro Oficina, em São Paulo Imagem: Fabio Braga/Folhapress

De São Paulo

17/05/2016 22h19

Após a extinção do Ministério da Cultura, membros da classe artística e cultural se reuniram na noite desta terça-feira (17) no Teatro Oficina para uma mobilização contra o fim do MinC. Mais cedo, diversos artistas ocuparam a sede da Funarte (Fundação Nacional das Artes), em São Paulo.

O encontro no Oficina contou a presença do diretor do espaço, José Celso Martinez Corrêa, além do ator Pascoal da Conceição, a professora e filósofa Marilena Chauí, o cantor Edgar Scandurra (da banda Ira!), e Fernando Anitelli, do grupo musical O Teatro Mágico.

Sob os gritos de "Fora, Temer" e "Cultura no poder", artistas defenderam o restabelecimento da pasta, agora fundida ao Ministério da Educação. Após as primeiras manifestações, o governo interino de Michel Temer criou uma Secretaria Nacional de Cultura, medida insuficiente, segundo os artistas.

"A cultura é a infraestrutura da vida, inspirou os direitos humanos, a luta pela igualdade da mulher e das etnias", disse Zé Celso. "Ela tem sido muito massacrada pela economia e temos que levar a sério porque isso também ameaça tantos outros ministérios. Diante de um governo ilegítimo, só poderemos legitimá-lo com eleições diretas", defendeu.

Scandurra criticou um recente vídeo em que o deputado Marco Feliciano pedia aos artistas que deixassem de procurar o MinC e passassem ao Ministério do Trabalho. "Esse cara não merece nosso respeito. Estou à disposição, ofereço minhas mãos e forças para essa nossa luta."

Anitelli disse que o fim do MinC se deu pelo histórico de alianças equivocadas entre certa parcela da esquerda. "A conta chegou! Agora precisamos olhar para o que é comum entre nós. Essa luta tem que ser pedagógica, lado a lado para reconstruirmos esse novo caminho. Seja no teatro, na música ou em qualquer arte, precisamos colocar a nossa indignação. Onde sobra intolerância, falta inteligência", comentou.

Para Marilena Chauí, a perda da pasta atinge a essência da criação artística. "A cultura é a capacidade de criação simbólica e de relação com o ausente. É por meio da memória que resgata o passado, é por meio da esperança que vislumbramos o futuro de um país. Esse governo não pode suprimir a cultura, que é a essência de todos nós. Isso se refere a toda a sociedade brasileira", afirmou.

Ex-secretário municipal da Cultura de São Paulo, o vereador Nabil Bonduki, disse que a intenção de reduzir a pasta atinge a capacidade de reação da sociedade. "A cultura é articuladora da crítica e tudo que esse governo quer é extinguir", disse. A cineasta Eliane Caffé atentou que é preciso colocar nomes nos atores do cenário político. "É um golpe e só quando nomeamos é que a história vai caminhar."

Ao longo da última semana, artistas realizaram atos na sedes do MinC em Belo Horizonte e nos prédios do Iphan em Curitiba, Ceará, Rio Grande do Norte e, no Rio de Janeiro. Ainda estão previstas manifestações em Salvador. Em São Paulo, os manifestantes seguiram para a sede da Funarte, que segue ocupada com debates e encontros programados para o longo da semana.