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Site francês promove mulheres compositoras esquecidas pelo tempo

A compositora Camille Pepin posa em seu estúdio, em Paris - THOMAS SAMSON/AFP
A compositora Camille Pepin posa em seu estúdio, em Paris Imagem: THOMAS SAMSON/AFP

Da AFP, em Paris

02/08/2020 13h24

De Francesca Caccini no século XVII à Camille Pépin no XXI. Uma plataforma digital repercutiu as obras de mais de 700 compositoras para redescobrir artistas que estão sumidas há muito tempo.

Apelidada de "Demandez à Clara" (Pergunte a Clara), em referência a Clara Schumann — brilhante pianista, compositora e esposa do famoso compositor —, esta base de dados gratuita foi lançada em junho por uma equipe liderada por Claire Bodin, diretora do festival "Presenças femininas", dedicado às compositoras do passado e do presente.

"Desde a infância, não ouvimos música de compositoras, ou ouvimos em tão poucas ocasiões que nem lembramos", disse Bodin à AFP.

"Nenhum 'casamento' foi transmitido por nossos músicos e músicas; aceitamos a ideia da genialidade do grande compositor, sempre um homem, sem nunca perguntar pelo repertório das compositoras", explica.

Esta ferramenta, financiada pela Associação de Autores, Compositores e Editores de Música (Sacem), repercutiu 4.662 obras de 770 compositoras de 60 nacionalidades, de 1618 a 2020.

A página planeja acrescentar mais 4.000 obras neste outono (boreal), entre elas as de Hildegarde de Bingen (1098-1179), santa da Igreja católica e uma das primeiras compositoras conhecidas.

Enriquecer e não reescrever

Um projeto de pesquisa de longo prazo que começou em 2006 e ainda não foi realizado porque "é uma questão de moda".

"Não se trata de reescrever a história, mas de enriquecer o repertório", explica Bodin. "Não se trata de programá-las simplesmente porque são mulheres e para ter a consciência limpa, mas porque há um interesse artístico autêntico".

Para esta cravista que abandonou sua carreira para se dedicar a esses projetos, a não programação de compositoras continua sendo um grande obstáculo para a divulgação de suas obras.

Há uma década, ela oferece regularmente conferências sobre este assunto e são poucas as pessoas na plateia que conseguem dar outros nomes além dos "top 5" das compositoras, como Clara Schumann, Fanny Mendelssohn, Lili Boulanger ou as contemporâneas Betsy Jolas y Kaija Saariaho.

"Só se vê a ponta do iceberg, mas mesmo entre os homens há vários compositores que mereciam ser destacados", lembra Bodin.

Previsto para março, o festival "Presenças femininas" foi adiado para 12-20 de outubro. Desde a sua criação, produziu sete obras de compositoras, entre elas uma da jovem Camille Pépin (29 anos), que tornou-se este ano a primeira compositora premiada nas "Vitórias da música clássica".

Entrevistada pela AFP em 2019, Camille Pépin contou que era a única menina nos cursos de composição do Conservatório de Paris. "Mas hoje os professores que encontro e os jovens músicos querem que isso mude. Há preconceitos que resistem, mas estão começando a cair".