Trump envia mensagens contraditórias sobre pandemia e se apresenta como vítima
Washington, 29 Jul 2020 (AFP) - A mudança de atitude de Donald Trump envolvendo a pandemia durou pouco. Nesta terça-feira (28), o presidente americano voltou a semear dúvidas sobre a COVID-19, ao transmitir informações errôneas sobre os tratamentos e se apresentando como uma vítima de ataques injustos sobre sua gestão da crise sanitária.
Visivelmente cansado durante uma coletiva de imprensa, Trump mostrou seu descontentamento com a popularidade do imunologista Anthony Fauci e outros cientistas do gabinete de crise da Presidência contra a pandemia.
"Eles são muito respeitados, mas ninguém gosta de mim, deve ser por causa da minha personalidade", declarou Trump, a menos de 100 dias das eleições presidenciais e em um momento em que as pesquisas de intenção de voto apontam o democrata Joe Biden como favorito.
Na noite de ontem, o Twitter removeu um vídeo publicado por Trump contendo informações falsas sobre o novo coronavírus, informou a rede social. "Os tuítes com o vídeo violam a nossa política de desinformação sobre a COVID-19", disse à AFP um porta-voz da companhia, que se recusou a especificar quantas pessoas acessaram o conteúdo.
O mesmo vídeo foi excluído pelo Facebook nesta segunda-feira à noite, segundo um porta-voz da rede social: "Removemos o vídeo por compartilhar informações falsas sobre curas e tratamentos para a COVID-19."
As imagens mostram um grupo de médicos fazendo afirmações falsas sobre a pandemia do novo coronavírus. Dizem, por exemplo, que máscaras não são necessárias para conter a doença e que "existe um tratamento" para a COVID-19: a hidroxicloroquina.
O presidente republicano promoveu o uso deste medicamento como solução contra o coronavírus desde o início da pandemia, mas diversos estudos científicos descartaram sua eficácia, enquanto a Agência de Medicamentos americana (FDA) retirou a autorização para que fosse receitado por médicos no tratamento de casos graves.
- "Li muito sobre a cloroquina" -Após ser questionado sobre o porquê da insistência no uso da hidroxicloroquina, Trump afirmou que tem "lido muito" sobre o medicamento e que o tema estava politizado.
"Quando eu recomendo algo, vocês gostam de dizer 'não usem'", completou.
Ao ser questionado sobre a doutora Stella Immanuel, partidária do uso de hidroxicloroquina contra a COVID-19, e muito presente no vídeo retuitado por ele, o presidente a descreveu como "muito impressionante".
As opiniões pseudocientíficas de Immanuel, que considera, entre outras coisas, que as autoridades dos Estados Unidos são "mentes reptilianas", "metade humanas, metade extraterrestres", provocaram dúvidas sobre sua credibilidade.
Possivelmente devido ao efeito dos resultados de pesquisas de opinião sobre as eleições presidenciais de novembro, Trump vinha mudando a narrativa sobre a pandemia. Ele reconheceu a gravidade da crise sanitária, pediu à população que usasse máscara e alardeou sua relação excelente como os especialistas do grupo que presta assessoria à Casa Branca.
Depois de uma melhora no fim da primavera, o coronavírus ganhou ainda mais força nos Estados Unidos, país mais atingido, com mais de 4,2 milhões de casos. Neste cenário, Trump voltou a atacar Fauci, diretor do Instituto Nacional de Doenças Infecciosas.
- Fauci não lê tuítes -Na tarde de ontem, o presidente compartilhou uma teoria da conspiração segundo a qual o especialista ajudou a impulsionar o vírus, a fim de evitar a reeleição de Trump. O presidente também compartilhou um comentário de podcast em que um ex-assessor diz que Fauci enganou os americanos em vários assuntos.
"O senhor pode continuar fazendo o seu trabalho quando o presidente questiona publicamente a sua credibilidade?", perguntou a Fauci um jornalista do canal ABC. "Eu não tuíto. Sequer leio os tuítes", respondeu, com sua calma habitual, o pesquisador, que goza de grande popularidade nos Estados Unidos. "Não enganei os americanos, sob hipótese alguma. Estamos no meio de uma crise, uma pandemia. Foi para isso que treinei durante toda a minha vida profissional."
Ao ser perguntado sobre as pesquisas em andamento envolvendo possíveis vacinas, Fauci disse ser "cautelosamente otimista" em relação a notícias positivas que chegariam "no fim do outono e começo do inverno".
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