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Jovens criativos de Hollywood lideram nova forma de fazer ativismo

Letreiro de Hollywood em Los Angeles, nos Estados Unidos, durante pandemia do coronavírus - Brian van der Brug/Los Angeles Times via Getty Images
Letreiro de Hollywood em Los Angeles, nos Estados Unidos, durante pandemia do coronavírus Imagem: Brian van der Brug/Los Angeles Times via Getty Images

Em Los Angeles (Estados Unidos)

14/07/2020 15h23

Quando não está controlando máquinas com sua mente sendo uma super-heroína negra, Ciera Foster se dedica a organizar atos contra o racismo e a brutalidade policial nas ruas de Los Angeles.

A atriz faz parte de uma geração de jovens criativos de Hollywood, que decidiram usar seus talentos desenvolvidos na fábrica dos sonhos para sensibilizar o público sobre temas importantes do mundo real.

"Digo a todo mundo que somos super-heróis, porque os super-heróis são o melhor da humanidade", explica Foster, que interpreta uma super-heroína, chamada Livewire, na série "Ninjak vs. the Valiant Universe".

"Estamos fazendo, respirando história agora", acrescenta a atriz.

Como muitos artistas, Foster voltou às suas raízes ativistas - ela começou a militar ainda jovem, lutando pelos direitos dos estudantes e pela reforma judicial - após ver o vídeo da morte de George Floyd, um homem negro que morreu sufocado em abordagem por um policial branco.

E, como ela, cada vez mais jovens usam seus talentos para criar "imagens muito bem produzidas" desses protestos, para mostrar o que está acontecendo e para que viralizem nas redes sociais.

No último mês, imagens aéreas de uma manifestação pacífica ao longo da avenida Hollywood Boulevard, que reuniu mais de 20.000 pessoas, espalharam-se rapidamente pelo mundo, tornando-se uma imagem simbólica para o movimento.

"Temos fotógrafos pendurados nas pontes e nas laterais dos prédios para fazer a nossa cobertura. Eles estão enviando esse material para o Festival de Sundance, é incrível", conta Foster, co-fundadora do BLAC, sigla que em português significa "Coalizão de Liderança Negra Aliada".

- "Somos a mudança" -Desde a morte de Floyd, Tyson Suzuki, um jovem negro do Havaí que é editor cinematográfico, lidera protestos diários contra o racismo em frente à prefeitura de Los Angeles.

"Começamos a protestar, mas fazemos de forma harmoniosa: '(prefeito) Eric Garcetti, ouça. Eric Garcetti, ouça. Nós somos a mudança. Nós somos a mudança".

Seu grupo, do Active Advocate, tem o objetivo de chegar aos 100 dias contínuos de protesto.

Para esse líder de trinta e poucos anos, o ativismo não é novidade. Suzuki começou quando era adolescente: vendo sua capacidade de editar e aperfeiçoar vídeos de skatistas, achou que poderia ser útil para uma campanha contra as grandes empresas de tabaco.

"Não sou ativista da noite para o dia, sou um organizador", afirma ele, ao comentar que muitos dos que o apoiam também trabalham com o mundo do entretenimento, e aplicam a mesma paixão em seus propósitos sociais e trabalhos criativos.

"No momento, a paixão está destruindo o racismo", acrescenta o editor.

Para o cineasta AJ Lovelace, de 28 anos, isso significa "fazer filmes e peças socialmente conscientes", além de usar tecnologia e redes sociais para ajudar os manifestantes "a encontrar o grupo específico" que tem mais a ver com eles.

"Meu plano para manter esse impulso é continuar criando conteúdo", ressalta Lovelace.

"Um futuro melhor"

O movimento de Los Angeles contra o racismo não surge e une apenas as técnicas desenvolvidas em Hollywood, mas também reúne o conhecimento da própria indústria cinematográfica.

Jasmyne Cannick, ativista e defensora na área de justiça social, explica não ser uma surpresa que "os jovens da indústria do entretenimento estejam protestando", já que há inúmeros casos de racismo no setor.

"Todo mundo que 'ama as pessoas negras' em Hollywood não fez um bom trabalho, porque o racismo continuou sendo autorizado a permanecer durante todo esse tempo", ressalta a especialista, de 42 anos.

"Acho que basicamente só precisamos de jovens que entrem com a atitude de 'não nos importamos, vamos fazer isso'", argumenta.

Para Paris Draper, cantora e ativista de 20 anos, o foco da sua geração na empatia e na bondade dá sinais de esperança para mudanças radicais.

"Definitivamente, somos diferentes das gerações passadas porque nos damos tempo para ouvirmos uns aos outros", defende Draper.

"Acho que hoje estamos todos tentando ter um futuro melhor", finaliza.