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Complexo do bumba-meu-boi do Maranhão, candidato a Patrimônio da Humanidade

06/12/2019 19h25

Paris, 6 dez 2019 (AFP) - Várias práticas relacionadas a culturas regionais, como o complexo cultural do bumba-meu-boi no Maranhão, a bachata - dança dominicana - e a massagem tradicional tailandesa são candidatas ao título de Patrimônio Imaterial da Humanidade, durante reunião da Unesco que será celebrada na semana que vem na Colômbia.

A decisão será tomada por um comitê especial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), que se reunirá entre 9 e 14 de dezembro em Bogotá, primeira capital latino-americana a sediar este encontro anual.

O comitê vai examinar um total de 41 solicitações de inscrição à lista representativa do Patrimônio Imaterial da Humanidade, na qual já constam várias expressões artísticas ou práticas culturais contemporâneas, como o tango, o flamenco e a filosofia milenar do ioga.

O Brasil já tem inscritas diferentes práticas nessa lista, como a roda de capoeira (2014), o Círio de Nazaré (2013) e o Frevo (2012).

Este ano, disputa o título a festa folclórica do bumba-meu-boi do Maranhão, que mistura arte popular, religião e história, e funde elementos do catolicismo, das religiões afro-brasileiras, da vida pastoril e das culturas indígenas presentes no estado.

Durante as festas juninas, um verdadeiro carnaval de rua toma conta das ruas do Maranhão, com mais de 400 grupos que montam coloridos desfiles, coreografias e peças teatrais para celebrar a ressurreição do boi, personagem central da festa.

Conta a lenda que a escrava Catirina, grávida do marido, Francisco, sentiu desejo de comer língua de touro. Para satisfazer a esposa, 'Chico' roubou e sacrificou o melhor animal da fazenda, provocando a ira do patrão. Mas com ajuda de curandeiros, o animal ressuscitou e o escravo escapou do castigo, dando início a uma grande festa.

Entre as outras candidatas a Patrimônio Imaterial está a bachata, dança típica da República Dominicana, que começou a emergir no país no século XX e que se espalhou pelo mundo.

- Evitar dores de cabeça -As inscrições na lista do patrimônio costumam ser alvo de disputas entre vizinhos que reivindicam a paternidade desta ou daquela prática cultural, colocando o organismo mundial na incômoda posição de árbitro entre países-membros, um extremo que a Unesco evita.

França, Itália e Suíça evitaram dores de cabeça a seus diplomatas, ao promoverem juntas a inscrição do alpinismo, uma prática surgida no século XIV nos Alpes, e que vai além de uma prática esportiva, pois compreende um conjunto de técnicas e conhecimentos.

México e Espanha fizeram o mesmo com a cerâmica de Talavera, uma tradição de origem muçulmana, presente nos dois países, em que se trabalha e pinta o barro à mão.

"Existem práticas comuns entre vários países e, na medida do possível, incentivamos os países a trabalharem juntos", disse em coletiva de imprensa em Paris Tim Curtis, secretário da Convenção do Patrimônio Cultural Imaterial.

- Massagens, desfiles e danças -A famosa massagem tradicional tailandesa, uma arte milenar que se popularizou nas últimas décadas em todo o mundo, também tentará entrar este ano na prestigiosa lista da Unesco.

"A inscrição deste elemento poderia ter um impacto positivo na percepção da prática em todos os níveis, incentivando os locais a preservarem seus conhecimentos e os jovens a aprenderem a prática e continuarem com a tradição", asseguram seus defensores.

A Bolívia defenderá a candidatura do desfile folclórico do Senhor do Grande Poder, também conhecida como a Festa Maior dos Andes, que corresponde à celebração católica da Santíssima Trindade.

Este desfile é a expressão da riqueza folclórica boliviana, demonstrada em uma ampla diversidade de danças, onde se destaca a morenada, que evoca o sofrimento de escravos negros nas minas durante a época colonial.

O Peru vai tentar a sorte com a dança El Hatajo de Negritos e de Pallitas, da costa sul-central peruana.

A Unesco recebe anualmente centenas de pedidos dos 178 países que ratificaram a convenção, mas aceita considerar pouco menos de 50. Seus especialistas apresentam recomendações favoráveis ou desfavoráveis a um comitê integrado por 24 países, ao qual cabe tomar a difícil decisão.

Embora a inclusão nesta lista lhes dê um selo distintivo, a declaração é apenas a parte mais visível do processo, cujo objetivo final é a proteção da diversidade cultural ante a crescente globalização.

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