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Boris Johnson, acusado de 'enganar' o país e evitar entrevista

06/12/2019 21h59

Londres, 7 dez 2019 (AFP) - Faltando uma semana para as eleições, o premiê britânico, Boris Johnson, foi acusado de "enganar deliberadamente" os britânicos e evitar as perguntas de um renomado entrevistador político, embora tenha respondido às do público durante um debate televisionado nesta sexta-feira (6).

Jonshon e o líder da oposição, o trabalhista Jeremy Corbyn, se enfrentaram à noite no segundo e último debate cara a cara antes das legislativas do dia 12.

Durante uma hora, os dois políticos moderaram o tom, optando pela prudência.

O opositor assegurou que Johnson "não é confiável" e destacou suas contradições frequentes, enquanto o conservador acusava os trabalhistas de "fomentar a derrocada do capitalismo" e querer impor "os impostos mais altos da Europa".

Segundo pesquisa realizada pelo YouGov, os dois se igualaram: 52% do público considerou que Johnson venceu, enquanto 48% votaram em Corbyn, mas contando a margem de erro, isso equivale a um empate.

No entanto, 48% acharam Corbyn mais digno de confiança do que Johnson (38%).

Precisamente sobre o tema da "confiança", o jornalista da BBC Andrew Neil queria entrevistar o primeiro-ministro, a quem seus críticos acusam regularmente de mentir.

Mas embora os líderes dos outros principais partidos se submeteram nas últimas semanas a suas incômodas perguntas, o conservador se recusou.

"Em cada eleição" os candidatos aceitaram o convite, disse o entrevistador. "Todos eles. Até nesta [eleição]", lamentou, dirigindo-se aos telespectadores.

- "O que mais estão escondendo?" -Desde a manhã, Corbyn assegurou em um ato em Londres que o primeiro-ministro esconde as implicações econômicas reais do seu acordo de divórcio com a União Europeia.

Decidido por um referendo em 2016, o Brexit foi adiado três vezes diante da negativa do Parlamento a aprovar um acordo.

Para sair do bloqueio, Johnson, sem maioria parlamentar e abandonado por seus cruciais parceiros norte-irlandeses do DUP, convocou legislativas antecipadas e percorreu o país enaltecendo os benefícios do seu texto.

Mas Corbyn afirmou ter provas de que "engana deliberadamente as pessoas".

Ele distribuiu um documento confidencial de 15 páginas elaborado pelo ministério das Finanças que, segundo ele, demonstra que haveria trâmites alfandegários e controles de segurança entre a ilha da Grã-Bretanha e a província britânica da Irlanda do Norte.

Este informe "desmonta as mentiras que Boris Johnson tenta espalhar", afirmou.

E disparou: "Perguntem-se, se esconderam este relatório, o que mais estão escondendo? Como vão enganá-los?".

- Votar com sabedoria -Johnson respondeu em um ato eleitoral em Kent, sudeste da Inglaterra, qualificando as acusações do trabalhista de "bobagem completa".

"Este documento vazado é uma mera avaliação rápida, não uma análise detalhada do acordo e faltam pontos-chave", declarou depois seu partido em um comunicado.

Em relação ao programa de TV de Neil, Johnson afirmou: muita "gente diria que sou o único primeiro-ministro que fez não um, mas dois debates cara a cara esta noite e deu 118 entrevistas".

"Não podemos atender todo mundo", acrescentou.

E atacou Corbyn por ter prometido que se chegar ao poder negociará um novo acordo com Bruxelas e o submeterá a referendo. Muito criticado pela ambiguidade sobre o Brexit, o trabalhista, crítico há anos com a UE, disse que se manteria neutro nesta consulta.

As últimas pesquisas dão 42% de intenções de voto ao Partido Conservador, 33% ao Partido Trabalhista e 13% ao Partido Liberal-democrata (centro), que defende um segundo referendo com a esperança de que o país acabe permanecendo na UE.

Em um fato incomum, dois ex-primeiros-ministros de tendências opostas, o trabalhista Tony Blair (1997-2007) e o conservador John Major (1990-1997) participaram nesta sexta da campanha por uma nova consulta.

E pediram votos para opções diferentes de seus próprios partidos.

"A lealdade tribal (...) pode ser boa e honorável, mas às vezes é preciso votar com a cabeça e o coração", disse Major.

"Pensem muito, pensem bem", disse Blair. "Elejam com sabedoria" na próxima quinta-feira.