Aplicativo do presidente chinês triunfa sob pressão do Partido Comunista
Pequim, 21 Fev 2019 (AFP) - Um aplicativo para celulares que permite conhecer o pensamento do presidente Xi Jinpng - e que para muitos evoca o Pequeno Livro Vermelho de Mao - está fazendo sucesso na China, sob a pressão do Partido Comunista.
Milhões de chineses já baixaram o aplicativo do presidente Xi, que calcula o tempo que os internautas passam revisando as frases do chefe de Estado ou assistindo vídeos curtos dedicados a seus discursos ou viagens.
Os usuários ganham pontos se compartilham artigos ou se respondem corretamente às perguntas. A pontuação virtual pode ser convertida em brindes, que vão de comida a tablets.
Mas alguns usuários afirmam que sentiram ter sido obrigados a baixar o aplicativo, enquanto outros esperam algum benefício a suas carreiras. As autoridades políticas não cansam de promover o app.
Ao abrir o aplicativo, o internauta observa uma foto do presidente com um fundo vermelho e a frase "Xuexi Qiangguo", uma expressão ambígua que em chinês pode ser interpretada como "Estudar para fazer o país mais forte". mas também "Estudar Xi para fazer o país mais forte".
Desde o lançamento em janeiro, o app registra quase 44 milhões de downloads em telefones Apple ou Android, segundo a empresa de estatísticas Qimai Technology.
"É um exemplo perfeito da propaganda na era Xi Jinping. Está adaptada à China e a sua enorme população de internautas", afirma Manya Koetse, diretora de redação do "What's on Weibo", site que analisa o conteúdo das redes sociais chinesas.
Após a decisão no ano passado do Parlamento de abolir o limite de dois mandatos presidenciais, Xi Jinping pode ser potencialmente presidente vitalício.
O culto à personalidade só aumenta desde sua chegada ao poder em 2012, ao ponto de já ser comparado por alguns a Mao Tsé-Tung (1893-1976), fundador da República Popular da China.
O "pensamento" dos dois líderes está registrado na Constituição. O fundador da China comunista difundiu seu pensamento com o Pequeno Vermelho de Mao, publicado em 1964, do qual foram impressos mais de 900 milhões de exemplares.
- Novas formas de influenciar -Nos últimos anos os serviços de propaganda do Partido Comunista criaram diversas novas formas de influenciar a população, incluindo canções de rap ou desenhos animados nas redes sociais para difundir sua mensagem.
O novo aplicativo permite acessar milhares de livros, revistas, jornais, publicações universitárias, series de TV e filmes. Mas para conseguir, os internautas devem registrar o número de telefone e o nome de seu empregador.
Uma mulher que trabalha em um meio de comunicação estatal afirmou à AFP que publica sua pontuação nos questionários no WeChat, uma rede social, na expectativa de que o chefe observe e ela consiga a promoção que pediu há pouco tempo.
Uma funcionária pública afirmou que se sentiu obrigada a usar o aplicativo, apesar de oficialmente não ser obrigatório para trabalhadores do Estado.
A médica de um hospital público de Pequim explicou à AFP que trabalha muito e pede aos pais que respondam as perguntas e leiam os artigos em seu lugar.
Li Xin, que trabalha em uma empresa estatal de petróleo, considera o aplicativo um novo exemplo do "culto" a Xi Jinping.
Nas últimas semanas, dezenas de prefeituras organizaram reuniões para promover o aplicativo.
Como resultado, no mês passado foi o aplicativo mais baixado na App Store da Apple. Mas a nota média ficou em 2,4 estrelas de 5.
Na semana passada foi desativada a possibilidade de deixar comentários, mas a empresa especializada App Annie conservou quase 500 mensagens.
"Meu patrão quer que eu consiga 35 pontos por dia. Por isto, não tenho alternativa: meus filhos em uma mão e o telefone na outra para conseguir os pontos. Isto não é vida", escreveu um usuário.
APPLE INC.
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