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Filhos de 'El Chapo' mataram jornalista mexicano, diz testemunha

23/01/2019 22h11

Nova York, 24 Jan 2019 (AFP) - Os filhos do chefão mexicano do narcotráfico Joaquín "Chapo" Guzmán mataram o jornalista mexicano Javier Valdez porque ele publicou uma entrevista com o narcotraficante Dámaso López Núñez, conhecido como "Licenciado" ou "Lic", com a qual eles não estavam de acordo, revelou nesta quarta-feira (23) o próprio Lic no julgamento de 'El Chapo', em Nova York.

Valdez, especialista em narcotráfico, cofundador do semanário de Ríodoce de Sinaloa e colaborador da AFP, foi morto a tiros em Culiacán em 15 de maio de 2017. Ele tinha 50 anos.

Licenciado, ex-chefe de uma prisão mexicana que acabou trabalhando lado a lado com 'El Chapo', contou ao júri que o jornalista mexicano Ciro Gómez Leyva o tinha mencionado como o responsável por uma operação contra os filhos de 'El Capo', na qual supostamente um deles teria sido ferido, assim como Ismael "Mayo" Zambada, cofundador do cartel de Sinaloa, junto ao acusado.

"Isso era totalmente falso", disse Licenciado, e contou que para desmentir a informação, decidiu dar uma entrevista por telefone a Valdez, que investigava as disputas dentro do cartel de Sinaloa após a captura de 'El Chapo', em janeiro de 2016.

Os filhos de 'El Chapo' souberam e não concordaram. Ameaçaram Valdez e "o obrigaram a não publicar a entrevista que fez comigo", disse López.

"Mas ele, cumprindo com sua ética, a publicou assim mesmo", disse. "Desobedeceu as ordens ameaçadoras dos filhos do meu compadre e o mataram por isso".

O impacto do assassinato de Valdez foi enorme no México, considerado um dos países mais perigosos do mundo para o exercício do jornalismo, com mais de cem comunicadores mortos desde o ano 2000, em crimes que, em sua imensa maioria, permanecem impunes.

Valdez, junto com o Ríodoce, se tornou uma voz, praticamente solitária, de denúncia das atividades do crime organizado, principalmente em Sinaloa, onde ainda atua o cartel cofundado por 'El Chapo'.

lbc/dga/mvv