'Pretinho básico', uma criação da Espanha reeditada por seus estilistas
Madri, 1 Jan 2019 (AFP) - Para muitos, falar do preto é falar da alta-costura e, por extensão, de Chanel e moda francesa. Contudo, a febre por esta cor começou na Espanha, onde seus estilistas se dedicam a reinterpretá-la.
Esta é a conclusão que os visitantes podem chegar em um exposição em curso em Madri que explora a influência das tradições espanholas na moda mundial.
"É um momento muito importante (para a Espanha), com estilistas como Palomo Spain, Leandro Canoe e ManéMané, que estão recuperando a posição espanhola no campo da moda", declara o curador da exposição, Raúl Marin.
"Estão voltando a serem ouvidos a nível internacional. Os jovens estilistas estão voltando a fazer barulho e isso, também, por meio de uma inspiração totalmente espanhola", acrescenta.
- O preto, o verdugado e o guardainfante -Durante séculos, o preto foi uma cor difícil de ser usada. Após várias lavagens, ou pelo uso, o tom perdia brilho e se tornava acinzentado ou marrom.
Isto mudou na Europa quando os espanhóis conquistaram o México no século XVI e descobriram lá uma árvore chamada Palo de Campeche. A partir de sua madeira era possível fabricar uma tinta preta intensa e duradoura.
O imperador Filipe II o adotou como símbolo de seu imenso poder, e logo se estendeu para a moda.
Esta monarquia "foi uma referência para todas as suas homólogas europeias, assim como seu austero vestido preto, que se converteria em uma expressão de máxima elegância", escreve no catálogo da exposição Amalia Descalzo, especialista em História da Moda na espanhola ISEM Fashion Business School.
E assim continuou sendo.
Talvez a herança mais famosa desta moda seja o vestido preto lançado por Coco Chanel nos anos 1920, que estabeleceu uma tendência tão popular que agora conta com as próprias iniciais em inglês, LBD (Little Black Dress).
Estilistas espanhóis como Cristóbal Balenciaga e Mariano Fortuny, por sua vez, adotaram o preto em suas criações, algumas das quais podem ser vistas na exposição no Canal de Isabel II, em Madri.
Da Espanha do século XVI também saiu o "verdugado", uma estrutura para ser usada debaixo da saia e realçá-la, e que logo se espalhou por toda a Europa.
Mais à frente, a Espanha lançou outra tendência, o "guardainfante", uma armação de aros de metal ou vime colocada ao redor da cintura e que permite destacar o volume da saia.
"Dizia-se que disfarçava a gravidez das damas", aponta Raúl Marina.
O "guardainfante" seria imortalizado por Diego Velázquez em seu quadro "Las meninas". Uma influência que pode ser apreciada nesta exposição no vestido de veludo amarelo do estilista Juanjo Oliva.
- Tauromaquia e flamenco -O preto se soma a outras duas tradições exportadas pela cultura espanhola: o flamenco e a tauromaquia, cuja influência pode ser comprovada na exposição.
Lá está, por exemplo, o vestido longo de noite de Givenchy, que emula a jaqueta dos toureiros com veludo preto, decorado com bordados arabescos vermelho e pérola.
Ou o vestido de tule preto de Lanvin, decorado com bolinhas de veludo de cor creme, inspiradas nos vestidos de flamenco.
"Muitas vezes diz-se que, internacionalmente, os estilistas estrangeiros beberam e estiveram mais orgulhosos dos espanhóis do que nós mesmos", explica Raúl Marina.
Uma situação que, segundo ele, está mudando com a volta de códigos herdados da religião e de outras tradições.
Palomo Spain, estilista do colorido vestido com motivos florais que Beyoncé usou em julho de 2017 em sua primeira foto com os gêmeos recém-nascidos, levou para a exposição um vestido branco de seda com babados nos punhos e no pescoço.
O vestido de Leandro Cano com motivos florais e em forma de tutu se inspira nos códigos estéticos do reinado de Filipe III.
- O despertar -A consultora de moda Marta Blanco explica que se produziu todo um "despertar" em uma indústria marcada durante muito tempo pelo preconceito de que "todo espanhol soava franquista".
Quarenta e três anos depois da morte do ditador, "Leandro Cano pode se inspirar na tourada espanhola, no imaginário religioso (...) sem que pareça fascista".
O despertar também está se dando entre os consumidores, orgulhosos de seu país por razões tão variadas quanto os sucessos do chef Ferran Adrià ou do tenista Rafael Nadal, da onipresença da Zara ou das vitórias da seleção de futebol no Mundial de 2010 e nas Eurocopas de 2008 e 2012.
"Isso cria um empoderamento", assinala Marta Blanco. "Ferrán Adrià tirou de nós as inseguranças e agora isso está acontecendo com a moda".
LVMH - MOET HENNESSY LOUIS VUITTON
INDITEX - ZARA
TIFFANY & CO
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