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Morre o israelense Amós Oz, escritor aclamado e ativista pela paz

28/12/2018 18h28

Jerusalém, 28 dez 2018 (AFP) - O israelense Amós Oz, que morreu nesta sexta-feira (28) de câncer aos 79 anos, foi um escritor aclamado que levantou a voz contra os fanatismos religiosos, uma luta que ficou registrada em sua autobiografia romanceada "De amor e trevas", que se tornou um best-seller mundial.

Sua filha, Fania Oz-Salzberger, indicou no Twitter que ele morreu em consequência de um câncer, e expressou sua gratidão "aos que o amaram" e o definiu "como um maravilhoso homem de família, um autor, um homem de paz e moderação".

Uma das primeiras homenagens ao escritor, que em 2007 recebeu o Prêmio Príncipe das Astúrias de Letras, veio do porta-voz do Ministério dos Exteriores israelense, Emmanuel Nahshon, que qualificou sua morte de "uma perda para todos nós e para o mundo".

Embora sua prosa prolífica tenha sido celebrada em todo o mundo, Oz ganhou notoriedade também como ativista, ao ser um dos críticos mais ferrenhos à ocupação de Israel de territórios palestinos após a Guerra dos Seis Dias, em 1967.

Nos últimos anos, Oz se pronunciou abertamente contra as políticas do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, tendo recusado um cargo oficial no exterior em protesto pelo que considerou um "crescente extremismo" de seu governo.

Foi considerado a consciência de uma nação, elogio que também lhe rendeu críticas constantes por parte da ultra direita israelense, sobretudo quando teve iniciativas como a de 2011, quando enviou um manuscrito de suas memórias ao político palestino Marwan Barghuthi.

Em vista ao Brasil, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse que Amós Oz estava "entre os melhores escritores do Estado de Israel".

"Contribuiu enormemente para o ressurgimento da literatura hebreia, por meio da qual expressou com talento e sensibilidade elementos importantes da experiência israelense", afirmou Netanyahu citado em um comunicado de sua assessoria.

"Apesar de nossas opiniões divergentes sobre muitos temas, apreciei profundamente sua contribuição à língua hebreia e ao ressurgimento da literatura hebreia", disse.

O presidente israelense, Reuven Rivlin, lamentou em uma mensagem no Twitter o desaparecimento de um "gigante da literatura".

Embora tenha sido coerente no princípio de que deve ser criado um Estado palestino, Oz também criticou com veemência os que prometem a destruição de Israel, e sobretudo condenou todas as gamas de fanatismo religioso.

O escritor não demonstrou, por outro lado, muita paciência com os especialistas ocidentais, que pressupunham "que os israelenses e palestinos têm que se conhecer melhor" para resolver o conflito do Oriente Médio.

"Isto tem que ser resolvido por meio de um compromisso que vai ser doloroso, e não tomando café juntos", disse à Paris Review em uma entrevista em 1996.

"Rios de café tomados juntos, bêbados não vão extinguir a tragédia de dois povos olhando para o mesmo pequeno país como o próprio e como seu único lar. É necessário dividi-lo. Necessitamos arranjar um compromisso mútuo que seja aceitável", disse.

Em 1978, Oz cofundou o movimento Paz Agora, que foi a primeira iniciativa em Israel contra os assentamentos, e em 1990 deixou o Partido Trabalhista para integrar a formação esquerdista Meretz.

- Do kibutz à fama - Nascido em Jerusalém com o nome de Amós Klausner em 1939, foi o filho único de um casal que emigrou da Rússia e da Polônia nos tempos anteriores à fundação de Israel.

Sua infância austera em Jerusalém, os últimos anos do mandato britânico na Palestina, a sombra do Holocausto e a contínua ameaça da guerra em uma terra reivindicada por dois povos foram os temas centrais de sua obra.

A relação com os britânicos quando era criança ficou registrada em "Pantera no Porão", e o suicídio de sua mãe é o fio condutor de suas memórias, "De amor e trevas", livro que vendeu mais de um milhão de exemplares e foi adaptado para o cinema.

O fantasma de sua mãe também ganha forma em "Meu Michel" (1968), um de seus primeiros romances, enquanto sua visão política do conflito fica em evidência em "A Terceira Condição" (1991).

"O que é autobiográfico e o que é ficção em meus relatos? Tudo é autobiográfico: se eu fosse escrever uma história de amor entre a madre Teresa e Alba Eban, obviamente seria autobiográfica, embora não seja uma confissão", disse em uma entrevista.

Buscando uma pausa de sua situação familiar após a morte de sua mãe, o escritor deixou Jerusalém e foi morar em um kibutz, onde ficou durante 25 anos. Lá decidiu mudar seu sobrenome para Oz, de raiz mais hebraica e que simboliza a força e a valentia.

No kibutz desenvolveu o início de sua literatura, enfocada na vida cotidiana e nas tribulações familiares.

"Meu trabalho é uma comédia sobre famílias infelizes, não uma tragédia", disse.

Oz recebeu muitos prêmios durante sua carreira, incluindo o Prêmio Nacional de Literatura de Israel em 1998.

O escritor, nascido em Jerusalém 4 de maio de 1939 em uma família de origem russa e polonesa, ganhou o prestigiado prêmio Goethe em 2005 na Alemanha. Recebeu também o prêmio Israel de literatura em 1998, o prêmio Mediterrâneo (estrangeiro) em 2010 e o prêmio Franz Kafka em 2013. Seu nome frequentemente era mencionado entre os candidatos ao Nobel de Literatura, que nunca obteve.