2018: um grande ano para a desinformação
Paris, 20 dez 2018 (AFP) - Da eleição presidencial no Brasil aos "coletes amarelos" na França, o ano de 2018 foi marcado por uma influência cada vez maior das "fake news", propagadas nas redes sociais e que minam a confiança nos meios de comunicação e nas instituições.
A desinformação avança. Muitas imagens, mesmo as reais, são apresentadas como algo que não são. Um exemplo foi a denúncia da violência policial na França durantes os protestos dos "coletes amarelos" usando uma foto de um manifestante com o rosto ensanguentado, mas na verdade a imagem foi feita hÔ muitos anos na Espanha. Uma manipulação tão simples quanto eficaz.
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Paralelamente, estĆ” em ascensĆ£o uma nova ameaƧa muito mais perigosa: as "deep fake". Os vĆdeos modificados permitem manipular a própria fala da pessoa, com gestos e tom de voz exatos. Apesar de serem difĆceis de criar, esta tecnologia estĆ” progredindo rapidamente.
Popularizada por Donald Trump, a expressĆ£o "fake news" ou "notĆcias falsas" se transformou em uma arma retórica para atacar os meios de comunicação. PolĆticos da Espanha, China e Mianmar estĆ£o adotando essa ferramenta cada vez mais. Ć usada para qualquer coisa, como informação falsa divulgada deliberadamente para causar dano, erros, mas tambĆ©m informação verificada.
A situação se complica mais ainda quando o responsĆ”vel pela fake news Ć© um paĆs, como no caso da UcrĆ¢nia, que no final de maio orquestrou a "falsa morte" do jornalista russo Arkadi Babchenko para, segundo as autoridades, evitar uma tentativa de assassinato contra ele. "Um prato cheio para os paranoicos e conspiradores de todo tipo", afirma o SecretĆ”rio-Geral dos Repórteres Sem Fronteiras, Christophe Deloire.
A propagação das notĆcias falsas se baseia na queda, mesmo que estĆ”vel, da confianƧa nos meios de comunicação: 44%, segundo um estudo da empresa de pesquisas YouGov para o Instituto Reuters feito em 37 paĆses de todo o mundo. O pesquisador John Huxford (Illinois State University) explica que as redes sociais podem amplificar a desinformação atuando como uma "cĆ¢mara de eco", "dando credibilidade" Ć s matĆ©rias simplesmente porque sĆ£o muito compartilhadas.
As "notĆcias falsas" tendem a se espalhar muito mais rĆ”pido do que a a informação real no Twitter, segundo um estudo do MIT.
- WhatsApp: uma fonte importante de 'fake news' -Muitos criticam o Facebook e seus mais de 2,25 bilhƵes de usuĆ”rios por sua tendĆŖncia de circulação e atĆ© mesmo destaque no "fio de notĆcias" de uma grande quantidade de informaƧƵes falsas. A crĆtica foi agravada pelo escĆ¢ndalo da Cambridge Analytica, em que o Facebook admitiu que os dados pessoais de 87 milhƵes de usuĆ”rios foram acessados pela empresa britĆ¢nica sem a autorização dos autores.
Para mostrar sua vontade de mudar as coisas, em 2018 o gigante americano assinou contratos com mais de 35 meios de comunicação - entre eles a AFP - em 24 paĆses como Argentina, Estados Unidos, FranƧa e IndonĆ©sia, para "avaliar a exatidĆ£o dos artigos" que circulam no Facebook.
O Brasil, que viveu intensamente sua eleição presidencial, Ć© um dos paĆses onde se travou uma batalha feroz contra a desinformação. Cristina Tardaguila, fundadora da agĆŖncia Lupa, disse em entrevista Ć AFP que as notĆcias falsas estĆ£o cada vez mais presentes no WhatsApp, que conta com mais de 1 bilhĆ£o de usuĆ”rios em todo o mundo.
Detectar notĆcias falsas nessa plataforma Ć© particularmente difĆcil, jĆ” que as conversas, pessoais ou em grupo, sĆ£o encriptadas e privadas.
Na Ćndia, a desinformação jĆ” teve consequĆŖncias trĆ”gicas. Segundo informaƧƵes da imprensa, pelo menos 25 pessoas foram mortas em um ano devido a rumores que circulam no WhatsApp, que tem 200 milhƵes de usuĆ”rios ativos mensais no paĆs.
Algumas medidas foram adotadas, como o "fact-checking" ou "verificação de dados" para tentar conter o fenÓmeno. Foram 162 iniciativas em todo o mundo segundo o Reporters Lab da Duke University. Mas a desinformação sempre circula mais rÔpido.
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