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Bernardo Bertolucci, um cineasta envolvido com política e escândalos

26/11/2018 11h14

O cineasta italiano Bernardo Bertolucci, morto nesta segunda-feira aos 77 anos em Roma, conquistou fama nos anos 1970 com "1900" (1976), filme sobre a luta de classes na Itália que virou um clássico, e com o escândalo mundial provocado por "Último Tango em Paris" (1972).

Atraído pela pesquisa, mas também pelas relações dos indivíduos com a história, foi um dos poucos cineastas italianos a desenvolver parte de sua carreira no exterior. Em "Último Tango em Paris", o astro Marlon Brando interpretou um de seus últimos grandes papéis. Mas uma polêmica cena de sodomia provocou a proibição do filme na Itália.

Bertolucci contou anos depois que a jovem atriz Maria Schneider, então com 19 anos, ficou profundamente abalada com a cena que simulava sodomia, pois não havia sido plenamente informada antes das filmagens sobre o teor, sobretudo o famoso momento em que uma manteiga é utilizada.

Paris também foi cenário do filme "Os Sonhadores" (2003). O italiano filmou ainda na China ("O Último Imperador") África ("O Céu que nos Protege") e Butão ("O Pequeno Buda").

Nascido em 16 de março de 1941 em Parma, nordeste da Itália, onde se passa o filme "Antes da Revolução" (1964, prêmio da crítica em Cannes), Bertolucci cresceu em um ambiente rico e intelectual.

Iniciou sua paixão pelo cinema com o filme "La Dolce Vita", de Federico Fellini. Seu pai, poeta, professor de História e crítico de cinema, o presenteou com sua primeira câmera 16mm aos 15 anos.

Em Roma, onde estudou Literatura, conheceu Pier Paolo Pasolini e foi seu assistente nas filmagens de "Accattone". Também foi roteirista de "Era uma Vez no Oeste", um "western spaghetti" dirigido por Sergio Leone.

Em "O Conformista", filme inspirado em um romance de Alberto Moravia, Bertolucci, membro do Partido Comunista italiano, aborda as motivações de um jovem burguês para comprometer-se com os fascistas de Mussolini.

O sucesso de "Último Tango em Paris" permitiu que filmasse, três anos depois, "1900", que percorre a história da luta de classes no rico vale de Po através do destino de dois amigos de infância no início do século XX.

O filme tem um prestigioso elenco internacional, com Robert De Niro, Gérard Depardieu, Burt Lancaster e Dominique Sanda, entre outros. A paixão de Bertolucci pela psicanálise também foi demonstrada em "La Luna", que fala sobre a relação perturbadora entre uma cantora lírica e seu filho adolescente.

Mas a consagração veio com "O Último Imperador", que recebeu nove estatuetas na cerimônia do Oscar em 1988, incluindo melhor filme, diretor e roteiro adaptado. O longa-metragem suntuoso sobre a vida do último imperador chinês obteve sucesso sem precedentes em todo o mundo.

Depois de "O Céu que nos Protege" e "O Pequeno Buda", Bertolucci retornou à Itália para rodar "Beleza Roubada" (1996), história de uma viagem de iniciação de uma jovem cuja mãe cometeu suicídio.

Em 2003, Bertolucci retorna a Paris com "Os Sonhadores", que retrata as paixões políticas e a revolução sexual em 1968.

Em setembro de 2007, o cineasta, que nos últimos usou uma cadeira de rodas, recebeu um Leão de Ouro no Festival de Veneza pelo conjunto de sua obra.

Em uma entrevista à AFP em 2013, ele afirmou que provavelmente permaneceria nos corações dos amantes do cinema como aquele que "descobria jovens atrizes", depois de escalar em seus filmes Dominique Sanda, Maria Schneider, Liv Tyler e Eva Green.