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Jornada mundial pelo fim da impunidade de assassinatos de jornalistas

01/11/2018 19h41

Paris, 1 Nov 2018 (AFP) - O assassinato do saudita Jamal Khashoggi, "estrangulado" e "esquartejado" no consulado de seu país na Turquia, recorda, na véspera de uma jornada mundial contra esses crimes, que ainda é possível matar jornalistas com total impunidade.

Nos últimos anos, em condições iguais de selvageria, o jornalista Mohamed al-Absi foi envenenado no Iêmen, os mexicanos Miroslava Breach e Javier Valdez morreram em 2017 a tiros no México, assim como Ján Kuciak e sua noiva na Eslováquia.

Desde 2006, a Unesco condenou os assassinatos de 1.010 jornalistas e profissionais dos meios de comunicação. Mas nove em cada 10 casos nunca foram julgados, segundo um relatório publicado nesta quinta-feira (1).

A agência da ONU decretou o dia 2 de novembro como o "Dia Internacional para Acabar com a Impunidade dos Crimes contra Jornalistas", em homenagem aos franceses mortos em 2 de novembro de 2013 no Mali, Ghislaine Dupont e Claude Verlon.

"A luta contra impunidade faz parte da liberdade de expressão, da liberdade de imprensa e do acesso à informação. Atacar um jornalista é o mesmo que atacar toda a sociedade", declarou à AFP a diretora-geral da Unesco, Audrey Azoulay.

Nesta quinta-feira à noite, a Torre Eiffel de Paris se apagou simbolicamente durante um minuto de silêncio pelos jornalistas assassinados, em uma iniciativa da Repórteres Sem Fronteiras (RSF). "Jamal Khashoggi foi assassinado porque queria escrever e falar com liberdade", declarou Fabiola Badawi, ex-companheira do jornalista.

Seu assassinato, mas também os de Anna Politkovskaya em 2006 em Moscou e o de Marie Colvin em 2012 na Síria, "colocam em questão diretamente os Estados, as suas diplomacias, a sua polícia, seus serviços secretos e suas justiças", assinala a associação de amigos de Ghislaine Dupont e Claude Verlon em uma coluna publicada no jornal francês Libération.

Entre 1º de janeiro e o final de outubro de 2018, a Unesco contabilizou o assassinato de 86 jornalistas.

Enquanto os enviados especiais às vezes morrem em zonas de guerra, os jornalistas locais que investigam corrupção, crime e política têm o maior número de vítimas. Representam 90% dos repórteres assassinados, segundo a Unesco.

As mulheres na profissão também são um alvo particular, vítimas de assédio sexual e abuso pela Internet.

Para que o assassinato de jornalistas seja "contraproducente", a ONG Forbidden Stories promete "continuar as investigações dos jornalistas assassinados" e dar-lhes uma ressonância internacional.

A Unesco também lançou uma campanha nesse sentido, chamada #TruthNeverDies ("A verdade nunca morre"), para incentivar a publicar artigos escritos por ou em homenagem a jornalistas mortos no exercício de sua profissão.

De acordo com a RSF, a Síria é o país mais letal do mundo para os jornalistas, seguido pelo México, o país em paz mais perigoso.