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Oleg Sentsov, cineasta e símbolo da oposição ucraniana à Rússia

25/10/2018 11h38

Moscou, 25 Out 2018 (AFP) - Após uma greve de fome de 145 dias, Oleg Sentsov, vencedor do prêmio Sakharov dos direitos humanos em 2018, se tornou um símbolo da oposição ucraniana à Rússia, onde está cumprindo pena de prisão de 20 anos por "terrorismo".

Sentsov era um promissor cineasta ucraniano até que seu ativismo político na revolução de Maidan em 2014 e depois a anexação da Crimeia pela Rússia, no mesmo ano, mudaram seu destino.

Em 2015, em sua Crimeia natal, Sentsov foi considerado culpado de "terrorismo" e "tráfico de armas" pela justiça russa, após um julgamento considerado "stalinista" pela ONG Anistia Internacional.

Desde então, Sentsov, 42 anos, está preso em uma penitenciária do norte da Rússia.

No dia 14 de maio iniciou uma greve de fome para exigir a libertação de todos os "prisioneiros políticos" ucranianos detidos na Rússia.

Mas o Kremlin não mudou de posição, apesar do apoio internacional ao diretor, das discussões entre os presidentes russo e ucraniano sobre uma possível troca de prisioneiros e de uma ligação da mãe de Sentsov para Vladimir Putin.

No dia 5 de outubro, após 145 dias de jejum, anunciou o fim da greve de fome por temer uma alimentação à força. Sua prima Natalia Kaplan afirma que a saúde de Sentsov foi "gravemente afetada" no longo período em que dependia dos complementes alimentícios e das vitaminas da administração penitenciária.

Apesar do problemas no fígado, coração e cérebro, a libertação de Sentsov parece agora mais distante do que nunca. Ele afirma que não deseja pedir um indulto.

Como cineasta, Sentsov é conhecido sobretudo por "Gamer", um filme rodado com orçamento de apenas 20.000 dólares que conta a história de um adolescente que participa em competições de jogos eletrônicos e tem uma complicada na Ucrânia.

O filme é autobiográfico, pois Sentsov passou oito anos competindo em torneios do mesmo tipo e financiou o longa-metragem ao administrar uma sala de jogos em Simferopol, capital da Crimeia.

A obra, premiada em Roterdã em 2012, foi exibida em muitos festivais e permitiu a produção de "Rhino".

Mas o segundo projeto foi interrompido quando o cineasta, que tem dois filhos, decidiu unir-se aos protestos pró-Europa na Ucrânia que provocaram a destituição do presidente pró-ússia Víktor Yanukovich em fevereiro de 2014.

"Oleg e seus colegas organizavam eventos na Crimeia. com símbolos e bandeiras ucranianas. Continuaram fazendo durante a anexação, quando todos já haviam ido embora", disse em 2015 à AFP Kostiantyn Reoutski, ativista ucraniano que conheceu o diretor na época.

"Seu objetivo era demonstrar que a Crimeia não era 100% pró-Rússia".

Dois meses depois da anexação russa da Crimeia, na madrugada de 11 de maio de 2014, Sentsov foi detido. Em seguida foi levado para a prisão de segurança máxima de Lefortovo, em Moscou, onde ficou até o início de seu julgamento em Rostov, sudoeste da Rússia.

Durante o julgamento, o cineasta manteve a postura de desafio, apesar das acusações de que teria provocado incêndios criminosos contra sedes do partido ucraniano pró-Kremlin e de ter planejado ataques, um deles contra ua estátua de Lenin em Simferopol.

"Não é um suicida, quer e espera viver. Me faz pensar em um doente com câncer convencido de que vencerá o tumor e viverá", disse à AFP a jornalista e ativista dos direitos humanos Zoya Svetova depois de visitar o cineasta na prisão em agosto.

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