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Arábia Saudita fala pela 1a. vez de 'ato premeditado' na morte de jornalista

25/10/2018 21h52

Riade, 26 Out 2018 (AFP) - O procurador-geral da Arábia Saudita afirmou nesta quinta-feira, citando informação fornecida pela Turquia, que os suspeitos do assassinato do jornalista Jamal Khashoggi cometeram um "ato premeditado".

A investigação continua, acrescentou o procurador em um comunicado.

Khashoggi, um jornalista e opositor saudita, foi assassinado em 2 de outubro dentro do consulado do país em Istambul.

Segundo os responsáveis turcos, Khashoggi foi assassinado por uma equipe de agentes vinda de Riad.

As autoridades do país, sob pressão internacional, apresentaram várias versões.

Em um primeiro momento falaram em uma "briga" e, mais tarde, de uma operação "não autorizada" da qual o príncipe herdeiro, Mohamed bin Salman, o homem forte del país, não teria sido informado.

No total, 18 suspeitos, todos sauditas, foram detidos na Arábia Saudita e vários altos funcionários dos serviços de informação foram demitidos.

Pouco depois do anúncio do procurador, a mídia estatal informou que o príncipe Mohamed, de 33 anos, presidiu na quinta-feira a última reunião de uma comissão encarregada de restruturar os serviços de inteligência.

Na quarta-feira, o príncipe herdeiro falou pela primeira vez sobre o caso, que classificou de "incidente repulsivo" e "doloroso". O assassinato do jornalista causou a indignação internacional e atingiu a imagem do país, maior exportador de petróleo do mundo.

O príncipe, que falou no fórum econômico Future Investment Initiative (FII) realizado em Riad, disse que "prevalecerá a justiça" e que "não os vínculos com a Turquia não serão rompidos".

O filho de Jamal Khashoggi, Salah, viajou com sua família para os Estados Unidos, depois que o governo saudita levantou a proibição, anunciou a organização Human Rights Watch (HRW).

Em Istambul, dezenas de amigos do jornalista se reuniram em frente ao consulado da Arábia Saudita e acenderam velas para pedir justiça, constatou um correspondente da AFP.

- "Onde está o corpo?" -Nesta quinta-feira, a chefe da CIA, Gina Haspel, apresentou ao presidente Donald Trump "suas conclusões e suas análises de sua viagem à Turquia", onde conversou com os responsáveis pela investigação, informou uma autoridade americana, que não forneceu mais detalhes.

Agnès Callamard, relatora especial da ONU sobre execuções extrajudiciais, foi mais direta. O assassino "tem todo o aspecto de uma execução extrajudicial e corresponde ao reino da Arábia Saudita provar que não foi assim", declarou à imprensa.

Por sua vez, o ministro turco das Relações Exteriores disse que continua havendo perguntas que Riad tem que responder, sobretudo sobre a identidade dos autores e o lugar onde está o corpo.

"Há perguntas que precisam de respostas", disse Mevlüt Cavusoglu. "Dezoito pessoas foram detidas [na Arábia Saudita], porque elas? Quem lhes deu ordens? (...) O corpo de Jamal Khashoggi ainda não foi encontrado. Onde está?"

As autoridades sauditas tentavam nesta quinta-feira dar um balanço positivo da conferência econômica FII, à qual muitos líderes políticos e econômicos desistiram de ir.

A conferência foi fantástica, disse o ministro das Finanças, Mohammed Al Jadaan. O ministro de Energia, Jaled al Faleh, assegurou que as companhias estrangeiras que não compareceram pediram perdão e prometeram que voltariam.

- Compromisso pessoal -Os organizadores do FII e o ministério saudita da Informação asseguraram que o fórum econômico favoreceu acordos ou projetos de dezenas de bilhões de dólares.

Como em 2017, a conferência internacional tinha o objetivo de atrair capitais à Arábia Saudita para tornar este país desértico um destino para os negócios.

Durante o fórum, Mohamed bin Salman falou das reformas e assegurou que "nos próximos cinco anos, a Arábia Saudita será totalmente distinta".

"Se nos próximos cinco anos tivermos sucesso, outros países [da região] nos seguirão", disse o FII. "É a batalha dos sauditas e é minha batalha, na qual estou comprometido pessoalmente".

No plano internacional, as versões contraditórias de Riad continuam suscitando perguntas e ceticismo.

Esta semana, os Estados Unidos anunciaram uma primeira medida de pressão, a revogação dos vistos de 21 suspeitos sauditas. O Reino Unido também anulou a possibilidade de concedê-los vistos.

A França disse, por sua vez, estar disposta a impor "sanções internacionais" contras os "culpados".

O presidente americano Donald Trump, aliado da Arábia Saudita, disse que a operação de dissimulação saudita, é "uma das piores da história", segundo ele, foi um "fiasco total".

A Eurocâmara estimou nesta quinta-feira ser "altamente improvável" que o príncipe herdeiro saudita não estivesse ciente do assassinato e pediu um embargo de armas contra a Arábia Saudita.

Por 325 votos a favor, um contra e 19 abstenções, os eurodeputados pediram que os países da UE "se preparem para impor sanções específicas contra cidadãos sauditas" e "sanções por questões de direitos humanos".

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