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"WiFi Ralph" viraliza por "branquear" a única princesa negra da Disney

Tiana, de "A Princesa e o Sapo" (2009), foi a primeira princesa negra em animação da Disney - Reprodução
Tiana, de "A Princesa e o Sapo" (2009), foi a primeira princesa negra em animação da Disney Imagem: Reprodução

Los Angeles (EUA)

26/09/2018 15h45

O "branqueamento" da única princesa negra da Disney em seu mais recente filme se tornou viral nas redes sociais, a ponto de levar o estúdio a redesenhá-la.

Tiana, de "A princesa e o sapo", tem uma pequena participação em "WiFi Ralph: Quebrando a Internet", a sequência de "Detona Ralph", no qual o simpático vilão de videogame descobre a Internet e tenta se tornar viral para juntar dinheiro e comprar uma peça para o jogo de sua melhor amiga, Vanellope  von Schweetz.

Mas se tornar viral pode ser um sonho, ou um pesadelo.

Dois meses antes de sua estreia nos Estados Unidos, em 21 de novembro, as redes sociais explodiram após o estúdio divulgar por meio de suas contas imagens de uma cena do filme: o encontro de Vanellope com as princesas da Disney.

Na imagem estavam todas elas: de Branca de Neve a Ariel, passando por Jasmine, Pocahontas, Moana e Tiana, que em uma primeira tomada - usando seu vestido de baile - aparece com sua pele negra.

Mas depois, em uma festa do pijama, aparece com um tom de pele mais claro e um cabelo "ao natural", que muitas mulheres negras consideraram nada realista.

Anika Noni Rose, que deu voz a Tiana em 2009 e em "WiFi Ralph", ficou surpresa

"Estava muito diferente, com a pele mais clara e traços mais finos", escreveu esta semana no Instagram a atriz americana, vencedora do prêmio Tony. "Fiquei tão surpresa quanto os fãs".



"Ligamos para o estúdio para falar destas mudanças visuais e, três semanas depois, tive uma reunião pessoalmente com a equipe de 'Detona Ralph', meu animador original Mark Henn e outros" para mudar a animação.

Brandi Collins-Dexter, diretora da ONG "Color of Change" - que lançou uma campanha contra o "branqueamento" da personagem - disse à AFP que a Disney "irá redesenhar" a personagem como "uma orgulhosa princesa negra com os lábios carnudos e a pele e os cabelos escuros", mostrando "o seu compromisso em abordar as preocupações dos membros da 'Color Of Change' e da comunidade negra".

O estúdio, por sua vez, não fez comentários.

Sapatinho afiado

A polêmica mancha o que pode ser a cena mais divertida desta sequência, na qual ambos os personagens de videogame entram na Internet para comprar o volante do jogo de corrida de carros de Vanellope, "Sugar Rush", que uma criança quebrou. Eles decidem que conseguirão o dinheiro por meio de vídeos virais.

Em seu percurso pelo ciberespaço, Vanellope acaba no camarim das princesas - que tem um cartaz de "área restrita" - quando fugia dos Stormtroopers de "Star Wars" no site "Oh My Disney".

Ao vê-la, a reação das princesas é hostil. Cinderela, inclusive, quebra o seu sapatinho de cristal como se fosse uma garrafa e a ameaça com a parte afiada.

"Eu também sou uma princesa", diz a menina, antes de ser questionada sobre os seus poderes, seu cabelo, se fala com os animais, se foi envenenada, sequestrada, ou enfeitiçada. A tudo responde que não e acrescenta: "Preciso chamar a polícia?".

"As pessoas assumem que todos os seus problemas são resolvidos porque um homem forte e grande aparece?", pergunta Rapunzel. "Sim", afirma Vanellope com a voz incomodada. "Por que todos acham isso?".



"Você é uma princesa!", exclamam todas em coro, antes de começarem a trocar de roupa e fazer uma festa do pijama, inspirada na roupa confortável da personagem de videogame.

Pamela Ribon escreveu a cena. Ao terminar o primeiro rascunho, "eu li e tive um ataque de pânico", lembrou. "Deitei no chão e disse a mim mesma: 'ou me demitem ou isso ficará grande'". Cheguei a pensar que a cena não seria aprovada, mas foi, contou.

A Disney, inclusive, usou as vozes originais da maioria das princesas, incluindo a de Anika Noni Rose.

A diretora de arte, Ami Thompson, e a chefe de animação, Kira Lehtomaki, enfrentaram o desafio de transformar esses desenhos em 2D em imagens computadorizadas (CG).

"Nos demos conta de que estavam desenhados de maneira muito diferente e, por isso, decidimos fazer uma versão 'Oh My Disney' das princesas", explicou Lehtomaki. E o resultado foi... viral.